NOTÍCIA
A análise é de Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, entidade homenageada do 18º Prêmio Top Educação
Publicado em 08/10/2024
A Fundação Itaú tem atuado na melhoria da educação pública, bem como na valorização dos saberes e riquezas culturais brasileiras por meio de seus três grandes pilares: Itaú Social, que existe há mais de 30 anos, Itaú Educação e Trabalho e Itaú Cultural.
É devido às benéficas parcerias desses pilares, por exemplo, com as Secretarias de Educação, e pela criação e lapidação do Rumos Itaú Cultural — um dos principais editais de cultura do Brasil —, que a Fundação Itaú está sendo a entidade homenageada do 18º Prêmio Top Educação (saiba mais no final da entrevista)*, criado pela revista Educação.
Quem apresenta um pouco mais dessa história é Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú e por 15 anos diretor do Itaú Cultural. Ele ainda é presidente do conselho da Fundação Bienal de SP, Conselheiro do Masp, Museu do Ipiranga, GIFE, Instituto CCR e Museu Judaico. Confira, a seguir, a entrevista.
De que forma o Itaú Social tem atuado pela equidade na educação pública?
Há mais de 30 anos, o Itaú Social (IS) atua sobre a pauta da equidade na educação no Brasil tanto a partir de parcerias com o poder público nos níveis municipal, estadual, federal e instituições do terceiro setor, quanto na produção de conhecimento em prol da educação de qualidade.
Em 2023, passamos a ter dois novos objetivos estratégicos com foco na educação infantil e nos anos finais do ensino fundamental. Historicamente, são etapas com desafios significativos na trajetória escolar. Portanto, incidir nelas é atuar pela equidade na educação pública.
Três dimensões orientam o trabalho: a educação integral e de tempo integral, a gestão do acompanhamento pedagógico e a compreensão das dinâmicas das transições e sua gestão. Com novas parcerias com o poder público, colaboramos com processos de desenho, implementação e avaliação de políticas e programas dedicados a essas duas etapas de ensino.
Atuamos, ainda, em parceria com o Ministério da Educação para a apresentação de estudos e evidências sobre a política nacional Escola das Adolescências, e seguimos com programas longevos de sucesso, como o Leia com uma Criança, que ano passado distribuiu um milhão de exemplares entre livros de literatura e conteúdos formativos.
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Por meio de diferentes pesquisas, o Itaú Educação e Trabalho tem alertado sobre a necessidade de o país investir nas juventudes, inclusive para o fortalecimento da economia futura. O que a entidade tem constatado e como buscam repassar as informações para políticos e formuladores de políticas públicas?
O principal foco do Itaú Educação e Trabalho (IET) é a ampliação de matrículas em educação profissional e tecnológica (EPT) com qualidade e visando a inclusão produtiva digna dos jovens por meio de pesquisas, apoio às Secretarias Estaduais de Educação na construção e fortalecimento de políticas públicas para o campo e o fomento de parcerias e iniciativas com o setor produtivo.
A EPT ganhou visibilidade no ano passado, com a aprovação da lei que representa o marco legal do ensino técnico, que determina que, em dois anos, deve haver uma política nacional de educação técnica. Ainda assim, ela não é amplamente conhecida como opção pelos jovens. Nessa perspectiva, um dos eixos de atuação do IET é apoiar as Secretarias na elaboração de planos de comunicação sobre a EPT, contribuindo com a divulgação de oportunidades locais.
Em outra frente de atuação, o IET acompanha Secretarias de Educação de todo o país na implementação da Política Estadual de Educação Profissional e Tecnológica (PEEPT). Desta forma, o IET colabora para o apoio ao desenvolvimento e avanço da inclusão produtiva de milhares de jovens por meio da democratização do ensino técnico de qualidade e que se relacione com as economias do século 21, garantindo possibilidades de trabalho, dignidade e qualidade de vida à juventude.
É importante ressaltarmos que a economia digital e dos dados precisa ser também liderada pelo Brasil e pelas nossas universidades, poder público, jovens e empresas. Isso é determinante para que não sejamos apenas consumidores periféricos desse campo, mas atores estratégicos no desenvolvimento, por exemplo, das IAs [inteligências artificiais] com uso ético e inovador, inclusivo, plural e sustentável, sempre visando a ampliação da produtividade com equidade.
O que mais pode destacar sobre a atuação da Fundação Itaú por meios de seus braços, o Itaú Social, Itaú Educação e Trabalho e Itaú Cultural, para a população brasileira?
A Fundação Itaú tem forte atuação no campo da formação. São duas plataformas digitais e gratuitas que oferecem, somadas, mais de cem cursos assíncronos na área da cultura e educação. O Polo Itaú Social tem como foco a formação de professores e educadores, enquanto a Escola Itaú Cultural traz oportunidades de aprendizado voltadas para a cultura.
Também lideramos três mestrados profissionais em parceria com importantes instituições universitárias: mestrado profissional em comunicação digital e cultura de dados, em parceria com a Fundação Getulio Vargas, que está em sua primeira turma; mestrado profissional em economia e política da cultura e indústrias criativas, parceria com a UFRGS, já em sua quarta turma; e mestrado profissional artes da cena, com o Célia Helena Centro de Artes e Educação, na terceira edição.
Outro foco importante — este com atuação direta do Itaú Social — é o desenvolvimento e adaptação de metodologias para o ensino de matemática nos anos finais do ensino fundamental, pois apenas 15% dos estudantes brasileiros chegam ao 9º ano com aprendizagem adequada dessa matéria. A disciplina é cada vez mais estratégica no mundo contemporâneo ao imaginarmos o avanço das transformações digitais. Além disso, ela tem uma incidência significativa para as habilidades ligadas ao pensamento crítico, analítico e criativo.
As profissões ligadas à matemática equivalem a 4,6% do PIB e oferecem salários 119% maiores que a média nacional, segundo estudo do Itaú Social em parceria com o IMPA.
O Itaú Educação e Trabalho também atua na produção de evidências que buscam alavancar a educação profissional e tecnológica (EPT) no país. O estudo ‘Potenciais efeitos macroeconômicos com expansão da oferta pública de ensino médio técnico no Brasil’, por exemplo, indica que se triplicássemos as vagas de EPT, nosso PIB cresceria 2,32%.
Já a pesquisa ‘Impacto da educação técnica sobre a empregabilidade e a remuneração’ mostra que quem conclui o ensino técnico tem rendimentos em média 32% mais altos do que os formados no ensino médio regular. É importante lembrar que garantir aos jovens o acesso ao ensino técnico também significa fortalecer a jornada educacional deles, inclusive no ensino superior.
Você defende atuações conjuntas entre educação, arte e cultura, inclusive, enxerga oportunidades com a expansão da escola em tempo integral. Qual a sua ideia e por quê?
É importante ressaltar que a Fundação Itaú é uma instituição privada com espírito público. Este pressuposto nos oferece o entendimento e estratégia para definir as pautas e jornadas que devemos seguir. A partir disso, dialogamos com a sociedade para aprofundá-las e para buscarmos uma atuação cuja colaboração entre o terceiro setor e governos seja determinante para nosso modelo de trabalho.
Na Fundação Itaú, temos a premissa de que educação, arte e cultura, quando integradas, são alavancas imbatíveis de transformação social com foco na equidade.
Nesse sentido, comemoramos a instituição do programa Escola em Tempo Integral, do Ministério da Educação (PL 2617/2023), voltado para fomentar a ampliação de matrículas na educação básica em tempo integral.
Atualmente, a oferta do ensino integral ainda é para poucos. Segundo o estudo ‘Cada hora importa’, realizado pelo Itaú Social, ao final do 9º ano do ensino fundamental, crianças de famílias de baixa renda recebem sete mil horas de aprendizado a menos do que os alunos de famílias com mais recursos. Isso equivale a quase quatro anos de exposição ao aprendizado no modelo de ensino integral.
O Programa Escola em Tempo Integral tem o poder de agir diretamente nesse déficit, pois aponta caminhos para as redes de ensino implementarem a modalidade com a disponibilização de apoio técnico e financeiro, além de reforçar a importância do trabalho em colaboração entre estados e municípios.
Importante ressaltar que a proposta do ensino integral deve ir além do aumento do tempo na escola. É preciso focar em uma educação verdadeiramente integral e de qualidade, com atenção às condições de trabalho dos profissionais de educação, em especial os professores, à infraestrutura das escolas e ao currículo com matérias regulares e conteúdos transversais, combinando arte, cultura e esporte, sempre em diálogo com o território — contribuindo para desenvolver também a criatividade, o pensamento crítico, modos de vida colaborativos e habilidades socioemocionais.
Essas são necessidades fundamentais a serem atendidas no processo de ensino e aprendizado para a dignidade e emancipação de crianças e jovens, na constituição das relações humanas e na compreensão sobre a relação da interdependência entre pessoas, sociedade, natureza, e, inclusive, no momento da busca por trabalho. Precisamos acolher os estudantes em escolas que voltem a inspirar, que os preparem para participar ativamente da construção de uma sociedade mais inclusiva e sustentável e os conectem às oportunidades que estão surgindo com as novas economias. A educação integral é um dos principais caminhos para essa empreitada.
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Durante o tempo que atuou no Itaú Cultural, compartilhe projetos que receberam suporte e financiamento do Rumos e que te marcaram.
É bastante difícil responder a essa pergunta, pois o Rumos já recebeu mais de 75 mil inscrições de todos os estados do Brasil e financiou mais de 1.500 propostas. São trabalhos artísticos e culturais de alto grau de qualidade e criatividade. Tentando destacar alguns entre os que mais me marcaram, falaria de BULAS – descritivo de montagem de toda a obra de Nuno Ramos, que trouxe um olhar inovador sobre o trabalho dele: a criação de descritivos e manuais de produção para 74 de suas obras, de forma a torná-las passíveis de montagem sem qualquer participação direta do artista.
Outro projeto marcante, para mim, foi Huni Kuin: os caminhos da jiboia, que gerou um jogo eletrônico voltado para a cultura desse povo indígena. Por meio dessa nova linguagem tecnológica — o videogame — o projeto facilitou, de forma lúdica, a passagem de conhecimento indígena para jogadores não indígenas, entre os cantos, grafismos, histórias, mitos e rituais desse povo.
Falo, ainda, do Festival Comida de Favela. O projeto foi realizado entre estabelecimentos formais e informais existentes entre as 16 comunidades que formam a Maré no ramo da gastronomia, em uma valorização da culinária tradicional e da criatividade de pratos locais.
Vou citar só mais um para não me estender. Palhaço Surddy é um projeto que me marcou por estimular e especializar a prática de profissionais surdos do campo artístico. Foi criado um espetáculo teatral solo do ator surdo Igor Rocha em parceria com um diretor artístico com experiência em clown, e uma capacitação para o uso e difusão da Libras.
Por fim, queria dizer que tenho grande apreço pelo Rumos Itaú Cultural, um dos mais tradicionais e inovadores editais de cultura do país. Criado há 27 anos, o programa busca fomentar e iluminar os caminhos da arte e da cultura, destacando a diversidade e o talento criativo dos artistas brasileiros.
Sempre buscando aperfeiçoar esse encontro com a produção dos artistas, dos territórios mais remotos do país aos eixos mais visíveis, o Rumos passou por duas reestruturações durante minha permanência à frente do Itaú Cultural (IC). Em 2013, deixou de ser centralizado por cada núcleo de expressão artística individualmente, passando a receber trabalhos de todas as áreas artísticas e culturais em um único processo seletivo, privilegiando a criação e a ideia artística.
Em uma de minhas últimas ações na direção do Itaú Cultural, alteramos o programa novamente para entrar em vigor na mais recente edição (2023-2024). A partir de então, o Rumos prioriza exclusivamente o processo criativo, etapa menos respaldada em outros editais de fomento, com foco em propostas que tenham como finalidade uma obra ou produção artística nos mais diversos formatos, suportes ou mídias.
*Prêmio Top Educação
Em sua 18ª edição, o Top é uma votação espontânea na internet realizada pela revista Educação e tem como objetivo apontar as marcas mais lembradas entre as empresas que atuam na área de educação (conheça as marcas vencedoras). Desde o ano passado, a equipe editorial da revista Educação homenageia uma entidade e uma personalidade que tem impactado o setor.
Este ano, além da Fundação Itaú ser a entidade homenageada, a personalidade homenageada é José Vicente, fundador e reitor da Universidade Zumbi dos Palmares.
Em 2023, a personalidade homenageada foi Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do IEA da USP e secretário de Educação do Estado de Pernambuco (2003-2007). Clique aqui para saber mais.
Já o Instituto Ayrton Senna foi a entidade homenageada do ano passado devido ao esforço de disseminar há pelo menos 10 anos aos educadores e educadoras do país o que são habilidades socioemocionais e como inseri-las nos espaços de aprendizagem. Clique aqui para saber mais.
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