Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal)
Publicado em 25/07/2024
A volta às aulas era o período com mais suicídio de jovens no Japão. De 1972 a 2013, 131 alunos em média tiraram a vida em 1º de setembro
Curitiba, 1 de maio de 2044
Há cerca de 20, li esta notícia:
“Vestibular na Índia levou 23 jovens ao suicídio.”
Assim se despedia uma das jovens suicidas:
“Eu só queria fazer as coisas certas, mas é como se eu fosse uma completa incapaz. eu choro por todas as músicas, livros e filmes q eu amo e q nunca mais vou ver. eu sinto muito, eu sinto mt deixar vcs. eu odeio viver, é só isso.” (sic)
Venkatesh lutava para segurar as lágrimas, enquanto tirava a carteira para mostrar a foto da irmã. Em 18 de abril de 2019, o dia em que ela descobriu que tinha sido reprovada no vestibular, Thota tinha 18 anos, quando se matou.
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Educação como meio de controle social
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Vennela tomou veneno. Chorando, a sua mãe lembrava:
“Ela continuava repetindo: ‘como eu pude falhar’?”
A competição para entrar no ensino superior na Índia era feroz. E os exames eram cruciais para garantir um lugar em boas universidades, que eram vistas como um caminho seguro rumo a um emprego bem-remunerado.
Não era apenas na Índia que o drama se desenrolava: o dia de volta às aulas era o que mais tinha suicídio de jovens no Japão. De 1972 a 2013, 131 alunos em média tiraram a vida no dia 1º de setembro.
No mesmo ano, a notícia colocada sobre esta frase denunciava uma muralha de silêncio:
“Mais uma aluna da UnB tira a própria vida. A estudante era extremamente simpática, muito inteligente; Uma pessoa querida. Tomou um uma overdose de comprimidos“.
Naquele tempo, os professores do ensino superior queixavam-se dos baixos índices de proficiência dos alunos do ensino ‘inferior’. O ensino secundário projetava a culpa no básico. O básico atirava culpas para a educação infantil, que responsabilizava as famílias, não podendo as famílias responsabilizar o Criador…
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Continuará a saga humana no embate entre humanidade e crueldade?
Novamente os índices de insucesso escolar
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O exame de acesso à universidade era mero instrumento de darwinismo social e de morte. Já, então, era tempo de trocar um ensino pretensamente superior (superior em quê?) por uma aprendizagem igualitária. Mas ainda levaria muito tempo e muita morte até que esse inútil e nefasto exame fosse erradicado.
Felizmente, há cerca de duas décadas, uma nova geração surgia, cuidada por seres humanos sensíveis, capazes de buscarem a perfeição possível e que viam com olhos que veem muito para além da aparência das coisas. Assim escrevia a Amanda no seu facebook (um dia, vos explicarei o que era uma rede social):
“Ontem, ganhei o meu melhor presente. Meu afilhado nasceu e tive a honra de poder participar e registrar essa chegada tão pura e emocionante. De longe, o momento mais sublime que já presenciei. Te apresento o mundo, Lucas. Com todo meu amor, te recebo de braços e coração abertos, para cumprir meu papel de madrinha da maneira mais singular que puder. Te desejo um feliz início de ciclo, recheado de conquistas e alegrias. Que você desfrute de todas as doçuras da vida, aprenda com os tropeços e jamais tenha medo de sonhar e voar alto. Para tudo, estarei aqui. Te guiando e protegendo, entre erros e acertos, mas acima de tudo, te amando incondicionalmente”.
Nos idos de 24, a modernidade nos remetera para uma ética individualista. Mas, seres sensíveis como a Amanda ajudaram educadores a exercitar a consideração positiva incondicional, de que falava Carl Rogers, a praticar a confirmação do Martin Buber e o amor incondicional postulado pela Alice Miller.
Neste ano da graça de 2044, o Lucas está a estudar na universidade que escolheu. Fez entrega de um portfólio de avaliação aos tutores da sua comunidade. Não precisou passar por inúteis e nefastas provações, pois, há já muito tempo, os vestibulares, Enem e outras provas de acesso à universidade foram extintas.
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