NOTÍCIA
Para isso, o primeiro passo é romper modelos estabelecidos na educação e adotar um currículo tridimensional
Publicado em 20/06/2024
Por Juliana Fontoura: Como garantir uma aprendizagem significativa e que permita que o estudante seja aquilo que deseja ser — no presente? Para o educador José Pacheco, criador da Escola da Ponte, em Portugal, é preciso transformar todo o sistema e os modelos aos quais estamos habituados: sem sala de aula, sem série e tendo como centro não o professor e nem o aluno, mas sim a relação entre eles. Para fazer essa transformação, ele defende, é necessário tomar uma decisão ética. “Se do modo como tu trabalhas não ensina a todos, faz de outra maneira”, afirma.
No painel que encerrou o evento Escolas Mais Admiradas, promovido pela revista Educação ontem, 19, Pacheco dividiu sua trajetória como educador, aquilo que aprendeu nas andanças pelo Brasil, e trouxe reflexões profundas sobre o que se considera inovador na educação.
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“O centro não é o aluno e nem o professor”, diz José Pacheco
A liberdade do pensar de Maria Nilde Mascellani e Lauro de Oliveira Lima
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O educador destacou a importância da autonomia, mas uma autonomia baseada na coletividade:
“Uma escola não pode ter um professor solitário em sala de aula. A profissão do professor não é solitária, é solidária. Sozinhos não somos autônomos, somos autossuficientes”, refletiu José Pacheco.
Na sua própria experiência com modelos estabelecidos — com sala de aula, turma dividida por idade —, o educador avalia que não havia autenticidade. “Quando eu ia dar aula às 8h, não era eu que estava ali na sala de aula; era um ator, um clown representando um papel. Eu não estava ali. Não havia autenticidade, não havia relação. Não havia comunicação.”
Essa experiência aconteceu no início da década de 1970. Pouco tempo depois, em 1976, José Pacheco criou a Escola da Ponte, em Portugal, que se afasta dos modelos tradicionais e se organiza a partir do trabalho com projetos e pesquisa, desenvolvidos pelos alunos em conjunto com seus orientadores, e baseia-se em valores solidários e democráticos.
José Pacheco também falou sobre o currículo tridimensional. Se, por um lado, é preciso cumprir o que o currículo estabelece, por outro, ele defende que não é preciso fazê-lo da forma como o documento coloca. No currículo tridimensional, há o currículo da subjetividade, o da comunidade e o universal. A partir de cada um desses currículos, é possível criar um projeto de vida adequado para cada aluno e garantir que ele aprenda e realize sonhos.
Mas, como promover essa transformação tão profunda, que vai às raízes do que costuma ser feito nas escolas? Segundo José Pacheco, não há receita e nem fórmula pronta. Deve-se partir da situação concreta. O educador, que percorre o Brasil e conhece diferentes experiências de aprendizagem, dispõe-se a ir à sala de aula e descobrir, de forma conjunta com o educador, como fazê-lo de acordo com a realidade que se coloca.
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O evento da revista Educação Escolas Mais Admiradas aconteceu na Fecap, em SP. Foi patrocinado pela Internacional School, Editora do Brasil, Faber-Castell, Seven Consciência Bilíngue, EducAtiva e Uniu, e teve o apoio da Fecap e Bureau.
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