NOTÍCIA
Transformação da escola e docência é fundamental, incluindo as pessoas brancas criadas dentro de uma crença de racializar apenas os outros
Como ser um educador antirracista? A partir de uma série de perguntas recebidas pelas redes sociais, a professora, palestrante e escritora Bárbara Carine escreveu o livro que recebe esse título e ocupa o 1º lugar na lista de mais vendidos da Amazon na categoria Política educacional.
Uma das perguntas abordadas na obra, feita por muitos professores brancos, diz respeito à possibilidade de, mesmo sendo brancos, serem antirracistas. A resposta é simples; o caminho, mais complexo. Um educador branco não só pode como deve ser antirracista, mas, para isso, é preciso buscar letramento racial e compreender os próprios privilégios (dentro do sistema da branquitude, que dá privilégios a toda e qualquer pessoa branca), além do lugar de onde se está falando.
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“O que não dá é uma pessoa branca querer falar do lugar da emoção, da vivência da pessoa negra”, explica Bárbara Carine, que é professora na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e idealizadora da Escola Afro-brasileira Maria Felipa, localizada em Salvador, BA.
Ela participou do evento Escolas Mais Admiradas, promovido pela revista Educação, em painel que abordou o conteúdo do livro Como ser um educador antirracista, escrito por ela e publicado em 2023 pela editora Planeta.
Sobre o lugar de fala, a escritora exemplifica: o professor pode mostrar que, por ser branco, nunca foi seguido em um shopping ou teve sua bolsa revistada numa loja; que nunca foi questionado por morar onde mora, diferentemente de uma família negra que more no mesmo local (como um prédio de classe alta, por exemplo). A partir disso, o professor branco está se racializando e compreendendo seus privilégios.
“A gente acha que a pessoa branca é universal. A ciência produziu um pouco isso”, explica. No livro de ciências ou de biologia, por exemplo, essa ideia costuma ser propagada com a representação do humano como branco, homem, em padrão heteronormativo. “Todas as opressões estruturais estão sintetizadas no livro de ciências, pela estética de humano que a ciência propaga.”
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Isso impacta na não-racialização da pessoa branca. “Quando a gente fala em relações étnico-raciais na escola, a gente não pensa em falar sobre privilégio branco, porque a gente não racializa o branco. A gente pensa ‘o que podemos fazer sobre os negros e indígenas?’. Porque o branco é o universal”, analisa.
É por meio do letramento racial que o professor vai conseguir se tornar aliado na luta antirracista – ainda que, mesmo assim, continue inserido no contexto do racismo estrutural. “O antirracista está se percebendo ao longo da vida, nos seus pensamentos, e se reconstruindo, se reconfigurando a partir dos seus processos de acesso à literatura, ao repertório de letramento”, explica Bárbara Carine.
Além da formação do próprio educador, é preciso promover grandes mudanças na estrutura escolar: da presença de pessoas negras em espaços de poder (há profissionais negros na gestão da escola ou no quadro de professores, por exemplo?) e garantir que o próprio currículo não perpetue violências. A história negra não deve, por exemplo, começar a ser apresentada a partir da escravidão.
A especialista também destaca que é preciso pensar na dimensão pessoal do racismo – ou seja, do crime. Caso algum aluno cometa racismo, deve responder dentro do código de conduta da escola – que, ela ressalta, a instituição deve, sim, possuir. “Não dá pra escola esperar o problema chegar para resolver.”
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O evento da revista Educação Escolas Mais Admiradas está acontecendo na Fecap, das 8h às 18h, em SP. É patrocinado pela Internacional School, Editora do Brasil, Faber-Castell, Seven Consciência Bilíngue, EducAtiva e Uniu, e tem o apoio da Fecap e Bureau.
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