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NOTÍCIA

Formação Docente

Desenvolvimento socioemocional e motivação para despertar o potencial dos estudantes

Como estimular o engajamento dos jovens na escola é destaque deste primeiro artigo da equipe do laboratório de ciências para educação do Instituto Ayrton Senna (EduLab21) para a revista Educação

Publicado em 18/06/2024

por Instituto Ayrton Senna

Por Gisele Alves e Ana Carla Crispim, do laboratório de ciências para educação do Instituto Ayrton Senna (EduLab21)*: No Brasil, a falta de interesse nos estudos figura como um dos principais motivos para o abandono escolar entre jovens de 15 a 29 anos sem ensino médio completo, de acordo com dados da PNAD Contínua de 2023. Esse desinteresse integra um cenário crítico na educação brasileira, em que se estima que por volta de 9,8 milhões de jovens nessa faixa etária não concluíram as etapas do ensino básico em 2022. 

Para além do abandono escolar, o desengajamento dos estudantes também aparece naqueles que estão frequentando as escolas, sendo relatado por educadores como um problema que requer atenção. Em pesquisa da Pew Research, por exemplo, 47% dos professores relataram que a falta de interesse para aprender é um dos maiores problemas nas suas turmas, seguido pela distração causada pelo uso de celulares (33%).

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O primeiro passo para uma intervenção é olhar para as evidências e saber diferenciar se o comportamento do estudante é algo pontual ou recorrente. 

Intervir de modo bem-informado garantirá suporte adequado capaz de afetar positivamente a forma como alunos estudam, suas notas escolares e a forma como se percebem na comunidade escolar. Isto é importante porque estudantes engajados na comunidade escolar são mais motivados para participar das atividades propostas nas salas de aula e contribuírem para a comunidade escolar, o que fomenta para a construção de um ambiente saudável e acolhedor para todos. 

Motivação para aprender

Um estudante motivado é capaz de planejar, iniciar e continuar uma tarefa com o objetivo de aprender e alcançar suas metas, ajustando suas estratégias quando necessário. Esse processo de motivação envolve fases que passam pelo desejo, vontade, intenção e ação. Completar essa sequência é fundamental para alcançar diversas realizações, tanto na escola quanto na vida. Mas como apoiar essa motivação?

Reconhecemos que a resposta é complexa, já que a motivação é influenciada por vários aspectos. Por isso, abordaremos essa problemática propondo duas perspectivas amplas que consideramos fundamentais no contexto escolar, com base no modelo teórico com maior sustentação empírica até o momento: o desenvolvimento de características individuais; e a importância das situações de ensino e aprendizagem.

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Trazendo a primeira perspectiva, das características individuais, um aliado essencial da motivação para aprender é o desenvolvimento de competências socioemocionais, seja ajudando o estudante a se concentrar nas aulas ou em algo que o interessa mostrando a importância da abertura para novos conhecimentos. Elas dizem respeito à sua capacidade de pensar, sentir e se comportar nas interações sociais e emocionais e no engajamento nas atividades e podem ser desenvolvidas no ambiente escolar por meio de experiências formais de aprendizagem. Sua relação com a motivação tem sido cada vez mais evidenciada, especialmente no que se refere às competências de abertura ao novo, autogestão e resiliência emocional.

A abertura ao novo ajuda o estudante a se motivar pela curiosidade e geração de ideias, essenciais para o engajamento ativo nas atividades. No entanto, o interesse e a curiosidade precisam ser acompanhados pela autogestão, que envolve estabelecer metas e estratégias, promovendo comprometimento e monitoramento do progresso. As competências de autogestão são cruciais para o estudante manter o foco e a persistência em seus objetivos. 

Isso inclui a capacidade de estruturar, monitorar e avaliar o próprio aprendizado, utilizando rotinas de estudo e estratégias de concentração, além de mitigar os efeitos dopaminérgicos negativos da superexposição digital. A resiliência emocional é fundamental para que o estudante regule suas emoções, mantenha a autoconfiança e persista em seus objetivos, enfrentando adversidades com menos impacto emocional e confiança nas suas habilidades.

desenvolvimento socioemocional

Esse processo de motivação envolve fases que passam pelo desejo, vontade, intenção e ação (Foto: divulgação)

Desprogramar padrões

A segunda perspectiva trata do ambiente e da estrutura do ensino e da escola. No contexto atual de incessantes mudanças e evolução tecnológica, a escola também precisa se adaptar frente a essas demandas, fomentando flexibilidade, habilidades diversas e um compromisso com a coletividade e o meio ambiente. 

Para isso, é fundamental promover uma educação integral abrangente, que considere as dimensões intelectuais e socioemocionais, e que ajude a formar uma sociedade mais equitativa, democrática e inclusiva, como é o propósito da atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ainda em processo de implementação.

Portanto, é pertinente considerar, em conjunto com premissas da educação integral, mudanças estruturais amplas e profundas no paradigma educacional posto. De modo simplificado, o paradigma educacional tradicional ainda bastante vigente na atualidade compreende a aprendizagem regularmente programada, estruturada e dirigida pelo professor. 

Enquanto isso, um paradigma moderno de educação da ‘era da informação’ trata uma perspectiva centrada no aprendiz, visando engajar cada estudante de forma significativa no seu aprendizado — considerando sua realidade e seus próprios interesses para um aprendizado mais personalizado. Existem pesquisas sólidas a partir de aplicações práticas desse paradigma, como o PIES (em tradução livre Sistema Educacional Integrado Personalizado, do inglês Personalized Integrated Educational System). 

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No Brasil, também já foram aplicadas diversas intervenções educacionais seguindo princípios centrados no aprendiz, embora apresentem limitações e possam se beneficiar da realização de mais estudos. Para que abordagens centradas no aprendiz sejam bem-sucedidas em nível amplo, oferecidas a todos os estudantes — garantindo acesso e qualidade para todos — é essencial que haja a incorporação delas nos currículos escolares como parte de uma política, com diretrizes claras e bem fundamentadas. 

Ou seja, em última análise, a verdadeira motivação para aprender vai além da simples acumulação de informações; trata-se de despertar a curiosidade e o entusiasmo interior do estudante. Para que isso aconteça, é importante que os estudantes tenham recursos e um contexto que lhes apoie.  

Heródoto nos lembra que a educação não é apenas um processo de encher um balde, mas sim de acender uma chama, iluminando o caminho do aprendizado contínuo e significativo, e estimulando a busca incessante por conhecimento e crescimento pessoal. Portanto, o objetivo da educação deve ser o de cultivar essa paixão, formando indivíduos que não apenas absorvem fatos, mas que também são movidos por um desejo de explorar, inovar e transformar o mundo ao seu redor.

Para saber mais sobre o tema: 

* Gisele Alves é gerente executiva do eduLab21, laboratório de ciências para educação do Instituto Ayrton Senna. Psicóloga, mestre em psicologia com ênfase em avaliação psicológica pelo Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco, EUA. Consultora em avaliação psicológica, construção de instrumentos, adaptações transculturais e treinamento na área de avaliação psicológica. Experiência em R&D desenvolvendo e adaptando instrumentos psicológicos nas áreas de habilidades cognitivas, rendimento escolar, habilidades sociais, motivação, entre outros, bem como trabalhando com gestão de projetos.

Ana Crispim é gerente de pesquisa do Laboratório de Ciências para Educação (eduLab21) do Instituto. Psicóloga, mestre em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em psicologia, com ênfase em psicometria pelo programa de pós-graduação em psicologia da University of Kent, Reino Unido, com pós-doutorado em modelagem estatística para ciências do comportamento na Universidade de São Paulo.  

 

Autor

Instituto Ayrton Senna

Artigos escritos por pesquisadoras do laboratório de ciências para educação do Instituto Ayrton Senna (EduLab21)


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