NOTÍCIA
Parceria é necessária para reforçar cuidados e proteção às crianças e adolescentes, orienta o psiquiatra e terapeuta Wimer Bottura
No Brasil, cerca de uma a cada seis crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos vive com algum transtorno mental. É o que estima o relatório Situação mundial da infância 2021, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o qual ressalta ainda que esta é a parcela da população mais exposta aos riscos de automutilações, depressão e suicídio.
Neste contexto, é importante que toda a sociedade se mobilize para intervir no problema, em especial os adultos mais próximos aos jovens: a família e a escola. Mas, por vezes, conflitos, disputas e desentendimentos dão o tom na relação desses dois atores, o que, em vez de ajudar as crianças e adolescentes em suas questões, deixa-os ainda mais descobertos de proteção e cuidados.
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“É preciso entender que família e escola são parte do mesmo todo, não são antagônicas”, é o que argumenta o psiquiatra e terapeuta Wimer Bottura, especialista em apoio aos pais e relações familiares.
“Desde que a interação pais-escola virou relação de consumo, regida pela lei do consumidor, muitos responsáveis criaram a expectativa de que a escola cumpra papéis e supra necessidades que a família não está conseguindo”, afirma.
De acordo com o médico, o teor acusatório da família para a escola desequilibra a relação e provoca reações defensivas, como o excesso de regras, por exemplo, e que não resolvem o problema das crianças.
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Bett Brasil* 2024: Wimer Bottura estará no painel ‘A sinergia escola, família e saúde mental’, em 25 de abril, às 17h, no Auditório 6 – Aquário.
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Um dos fatores relevantes do desenvolvimento de questões de saúde mental, a violência, revela estatísticas que contrariam a argumentação de muitos pais sobre a responsabilidade da escola no adoecimento de seus filhos.
Segundo levantamento de 2021 do Disque 100 (Disque Direitos Humanos), 81% dos casos de violência contra crianças e adolescentes acontecem dentro de casa. Destes casos, que englobam violações contra a integridade física ou psíquica das vítimas, 70% ocorriam todos os dias, de acordo com as denúncias.
“Dados demonstram que acidentes com crianças, em sua maioria, são domésticos, e abusos sexuais acontecem muitas vezes dentro de casa”, alerta o psiquiatra Wimer.
Mas de acordo com ele, a solução não está em simplesmente culpar, é necessário refletir. “Precisamos constatar erros e problemas sem que haja conotação de acusação. Existe uma diferença entre compreender mecanismos e identificar culpados. Ao longo de milhões de anos, nossa sociedade gastou muito tempo achando culpados e pouco compreendendo os fenômenos”, defende.
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Wimer Bottura faz parte do movimento de parentalização e é cofundador da iniciativa Universidade de Pais, comunidade de informação, aprendizagem e compartilhamento de temas relevantes na criação, educação e formação de filhos em cada fase da vida.
Segundo o psiquiatra, “nunca fomos treinados para ser pais e essa é a função mais importante de quem tem filhos.” Em sua apresentação na Bett Brasil, o médico vai buscar despertar o público para uma reflexão mais profunda sobre o significado de educação.
Questões de saúde mental comprometem a escolarização em vários aspectos. O documento 10 ações para políticas de saúde mental nas escolas, do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e do Instituto Cactus, aponta que “a evasão escolar de estudantes com problemas de saúde mental varia de 43% a 86%, e estudantes com depressão têm duas vezes mais chance de deixar a escola comparados com aqueles sem depressão”.
O estudo também referenciou uma pesquisa que indicou melhora de 83% no desempenho escolar após ações de saúde mental nas escolas com inclusão de acompanhamento terapêutico aos estudantes. Esses dados demonstram o lugar estratégico que a escola ocupa na abordagem da saúde mental, mas, de acordo com Wimer Bottura, a centralização da questão no ambiente escolar, como esperam algumas famílias, não gera os efeitos desejados.
“Algumas escolas já promovem palestras sobre saúde mental, tentam estimular este diálogo, e quem costuma comparecer são os pais cujos filhos menos precisam de ajuda. Os pais dos estudantes que têm mais problemas, por vezes, não vão, acham chato”, comenta o terapeuta. Segundo ele, professores têm despendido cada vez mais tempo mediando conflitos, o que prejudica a transmissão e a construção de conhecimentos.
Nesse sentido, é preciso que a família assuma sua função na formação. “A escola deve seguir tentando envolver os pais no processo de desenvolvimento do conhecimento, mas também deve deixar bem claro as suas possibilidades e limites e envolver a família como parte do sistema escola”, argumenta o psiquiatra.
Sem parceria, com troca de acusações e brigas para estar com a razão entre pais e escola, os maiores prejudicados são os jovens e sua saúde mental. Com menos “a culpa é sua” e mais “vamos fazer juntos?” todos saem ganhando.
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Bett Brasil
*A Bett Brasil é o maior evento de educação e tecnologia na América Latina. Em 2024, acontece de 23 a 26 de abril, no Expo Center Norte, SP. E nós, da Educação, estamos fazendo uma cobertura especial. Clique aqui para ficar por dentro de tudo.
Nossa cobertura jornalística tem o apoio das seguintes empresas: Epson, International School, FTD Educação, Cricut e NR.
Acompanhe a programação completa da Bett Brasil: https://brasil.bettshow.com/agenda-online.
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