Mestre em letras e consultora de gestão de projetos educacionais para redes públicas e privadas de ensino
Publicado em 13/03/2024
Desigualdade não é um destino, sob a perspectiva da educação, trata-se de um desafio a ser superado
A infância é um período de imenso poder e potencial, fato já consolidado nos documentos norteadores da legislação brasileira e nas práticas educacionais. O poder da infância se reflete no avanço de sua representatividade, dentro da educação básica, como um sujeito histórico e de direitos. Entretanto, fatos que se desdobram em cenários de desigualdade social da fase adulta, trazem indícios de que há obstáculos que impomos a algumas de nossas crianças desde muito cedo.
Recentemente, os resultados da pesquisa Alfabetiza Brasil, apresentados ano passado, mostraram que, em 2021, 56,4% dos estudantes do 2º ano do ensino fundamental não estavam alfabetizados. Essa lacuna na alfabetização não é apenas um reflexo da defasagem educacional, mas também um fator que contribui para perpetuar a desigualdade social. A pesquisa revelou que a desigualdade racial é evidente na alfabetização, pois 47,4% das crianças pretas e 44,5% das crianças pardas não estavam plenamente alfabetizadas, em comparação com 35,1% das crianças brancas.
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O filósofo Renato Nogueira nos lembra que a infância não é apenas um período de tempo, mas também um espaço de experiências e um estado de ser, além de ser um período de formação e transformação, cujas crianças não são apenas receptores passivos de conhecimento, mas também agentes ativos de sua própria aprendizagem. Entretanto, os caminhos de nossa educação nos mostram que há certos contextos sociais, econômicos e étnicos que têm inviabilizado esse protagonismo da aprendizagem, que passa, sobretudo, pela garantia do processo de alfabetização.
Em 2023 foi lançado pelo MEC o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, uma iniciativa que visa garantir que 100% das crianças brasileiras estejam alfabetizadas ao final do 2° ano do ensino fundamental. O compromisso tem entre suas premissas o enfrentamento das desigualdades regionais, socioeconômicas e de gênero. Trata-se de uma ação importante do governo federal, porém, o seu sucesso exige, além do pacto entre União, estados e municípios em prol da sistematização dos processos de alfabetização, também um esforço concertado em superar as barreiras impostas pelas desigualdades.
Ao olharmos para o novo compromisso, que se inscreve como grande desafio aos educadores e sistemas educacionais brasileiros, deve-se também recordar que a desigualdade não é um destino, sob a perspectiva da educação, trata-se de um desafio a ser superado.
Em última análise, a luta contra a desigualdade social desde a entrada dessa criança na educação básica é uma luta por um futuro verdadeiramente melhor para todos. Como o filósofo Renato Nogueira nos lembra, a infância tem um caráter histórico e social. Nesse sentido, nosso cuidado é pelo olhar para a mudança. Fazer a diferença na vida de nossas crianças e, por extensão, na sociedade como um todo.
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