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Instituição tem inserido essa área do conhecimento no dia a dia escolar: projeto se divide entre equipe representativa e robótica curricular
Publicado em 09/11/2023
A participação das mulheres no campo das exatas tem aumentado. Cada vez mais projetos e campanhas são realizados para despertar o interesse das meninas para essa área. Este é o caso do Colégio Marista Pio XII, localizado na região central de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, que trabalha com robótica há aproximadamente 15 anos.
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“Sempre tivemos um número interessante de meninas na robótica. Elas se deram conta de que novas tecnologias e mudança do mercado de trabalho são fatores que impulsionam mais mulheres a trabalhar na área das exatas”, analisa o vice-diretor pedagógico Pedro Manfroi.
Presente desde a educação infantil até o ensino médio no período regular, a robótica é trabalhada em duas dimensões: equipe representativa e robótica curricular. Na primeira dimensão, estudantes a partir do 6º ano podem escolher as aulas para participar no extraclasse, como música, esporte, dança ou robótica. Aqueles que se interessam pela robótica têm a oportunidade de entrar para o grupo que participa de competições.
A equipe intitulada Under Control se classificou para a competição educacional mundial de robótica do ano que vem, a First Robotics Competition (FRC), que acontece anualmente nos Estados Unidos. Na equipe, dos 28 estudantes, 16 são mulheres. A Under Control já conquistou quatro vezes a premiação da competição Chairman’s Award — voltada aos que se dedicam a disseminar a ciência e a tecnologia —, sendo reconhecida como uma das três melhores equipes do mundo.
Desde 2019, a equipe de robótica do colégio tem um subgrupo composto apenas por meninas, as Girls in Control. A iniciativa foi pensada pelas próprias estudantes. Além da participação em competições, o objetivo é incentivar a participação feminina na área. “Desde que esse movimento aconteceu, hoje nós temos um número maior de meninas no extraclasse [de robótica] do que de meninos”, ressalta Pedro Manfroi.
Segundo Pedro, durante os eventos escolares, a equipe tem um espaço destinado para atrair novas estudantes a participarem das aulas de robótica. “Elas têm o espaço para dialogar com as estudantes, apresentar a robótica e sempre tentar desmistificar que não é algo masculino.”
Os estudantes que fazem parte da equipe representativa têm a possibilidade de se tornarem mentores dos alunos de robótica após se formarem, inclusive, os cinco educadores responsáveis por ensinar robótica são todos ex-alunos do colégio.
A segunda dimensão é a robótica curricular. O colégio aplica uma metodologia de projetos da educação infantil até o 5º ano, ou seja, a cada semestre os estudantes possuem uma temática trabalhada como plano de fundo das aulas. Há três anos um projeto piloto insere na grade curricular do 5º ano aulas semanais obrigatórias de robótica que podem ser trabalhadas de forma transversal. O projeto será expandido para as outras etapas do fundamental 1.
“Digamos que a temática seja relacionada à sustentabilidade, então eles vão selecionar alguns conteúdos de habilidades de matemática e natureza, e nas aulas de robótica com a professora vão trabalhar isso envolvendo programação, a temática da pesquisa e a apresentação. Então a robótica entra no currículo de uma forma mais orgânica”, explica Pedro.
Já a partir do 6º ano, no período regular, é seguida a metodologia de sequência didática, que trabalha com base em quatro áreas do conhecimento: matemática, linguagens, humanas e natureza. A cada semestre, os estudantes desenvolvem trabalhos individuais de cada área, além de projetos interdisciplinares. Com isso, ao longo do ano são desenvolvidos oito trabalhos voltados à sequência didática.
Nos trabalhos interdisciplinares, a robótica é inserida pelos conhecimentos dos estudantes que fazem parte do extraclasse. Segundo Pedro, ela acaba se encaixando de diversas formas nas áreas das sequências didáticas. “Neste semestre, está acontecendo, na sequência didática das linguagens, um trabalho voltado a Machado de Assis, os estudantes têm que produzir curtas-metragens em língua inglesa. Então eles fazem a leitura do livro em português e têm que se preparar em inglês para fazer a apresentação. Geralmente alguns dos alunos estão na robótica, e aí na programação, montagem e edição dos vídeos eles auxiliam”, detalha o vice-diretor pedagógico.
O colégio faz parte da Rede Marista Brasil, possui 1.100 estudantes, em média 65 professores e uma mensalidade em torno de 1.300 a 1.700 reais. Para Pedro, o desafio da educação nos próximos anos é trabalhar as habilidades socioemocionais e interpessoais, sendo a robótica um caminho para isso acontecer.
“Pegando o exemplo da robótica, a gente percebe uma mudança nos alunos que acabam entrando nas nossas equipes. Às vezes eles são bem tímidos, mas são eles que apresentam hoje [o trabalho desenvolvido no mundial de robótica] em inglês. Então percebemos que mudaram muito seu desempenho acadêmico e interpessoal, porque na robótica se forma muita confraria, as famílias convivem no final de semana, eles desenvolvem a questão da proximidade e têm as viagens onde acontecem trocas. Acredito que esses movimentos são alguns dos principais desafios da educação nos próximos tempos”, conclui Pedro Manfroi.
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