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Publicado em 20/09/2023
Após a audiência pública realizada pelo Ministério da Educação, podemos esperar algumas mudanças acerca do novo modelo
Com colaboração de Bernardo Soares*: O novo ensino médio é uma proposta de reforma educacional que busca atualizar e modernizar o currículo dessa etapa de ensino, tornando-o mais flexível, humanizado e adequado às necessidades e atrativo aos estudantes.
Após a audiência pública realizada pelo Ministério da Educação, podemos esperar algumas mudanças acerca do novo modelo, se a proposta for aprovada pelo Congresso. Uma das principais alterações é a flexibilização do currículo, que permitirá aos estudantes escolherem parte das disciplinas que desejam cursar, de acordo com seus interesses e aptidões. Isso possibilitará uma maior personalização do ensino, tornando-o mais atrativo e motivador para os jovens.
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De maneira geral, é positivo que as medidas divulgadas busquem preservar fundamentos essenciais da reforma, como expansão da carga horária, flexibilização curricular e maior articulação do ensino médio com a educação profissional e tecnológica, destaque importante diante dos pedidos por revogação que marcaram o debate público nos últimos meses.
Além disso, o novo modelo prevê a ampliação do ensino em tempo integral, com a oferta de atividades no contraturno escolar. Isso contribuirá para a redução da evasão escolar e para a melhoria da qualidade do ensino, uma vez que os estudantes terão mais tempo para se dedicarem aos estudos e participarem de atividades complementares.
Na sala de aula, o novo ensino médio pode impactar a dinâmica e o papel do professor. Com a flexibilização do currículo, os professores precisarão se adaptar a um modelo mais personalizado de ensino, atendendo às necessidades individuais dos estudantes. Isso exigirá uma formação continuada e uma capacidade de planejamento e organização diferenciada. No entanto, as perspectivas são favoráveis para o ambiente de aprendizagem:
Maior flexibilidade: com a flexibilização do currículo, os estudantes terão a oportunidade de escolher parte das disciplinas que desejam cursar. Isso permitirá uma maior personalização do ensino, levando em consideração os interesses e aptidões individuais dos alunos. Os professores terão que se adaptar a essa nova dinâmica, oferecendo suporte e orientação para que os estudantes façam escolhas adequadas e equilibradas.
Aprendizagem mais contextualizada: o novo ensino médio busca promover uma aprendizagem mais contextualizada e conectada com a realidade dos estudantes. Isso significa que as disciplinas serão abordadas de forma interdisciplinar, relacionando conceitos e conhecimentos de diferentes áreas. Os professores terão a oportunidade de trabalhar em equipe, colaborando para a construção de projetos e atividades que estimulem a aplicação prática dos conteúdos.
Integração entre teoria e prática: com a implementação do ensino técnico e profissionalizante, espera-se uma maior integração entre a teoria e a prática na sala de aula. Os estudantes terão a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos em situações reais, por meio de estágios, projetos e atividades práticas. Os professores terão um papel fundamental na orientação e no acompanhamento dessas experiências, buscando conectar os conteúdos acadêmicos com as demandas do mercado de trabalho.
Tecnologia como objeto e ferramenta de ensino: o novo ensino médio também deve estimular o uso de tecnologia e recursos digitais na sala de aula. Os estudantes deverão ter acesso a ferramentas e plataformas que facilitam a pesquisa, a comunicação e a produção de conteúdo. Os professores terão a oportunidade de explorar recursos multimídia, como vídeos, jogos educativos e simulações, para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem.
Acompanhamento individualizado: com a personalização do ensino, espera-se que os professores possam acompanhar de forma mais individualizada o progresso e as necessidades de cada estudante. Isso implica um maior diálogo e interação entre professor e aluno, identificando dificuldades, oferecendo suporte e adaptando as estratégias de ensino de acordo com as demandas específicas de cada um.
Os professores, então, terão um papel fundamental na condução desse processo, adaptando suas práticas pedagógicas e buscando estratégias que promovam uma aprendizagem significativa e engajadora para os estudantes.
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No entanto, nem tudo são flores, e é importante ressaltar que a implementação do novo ensino médio demandará um esforço conjunto de gestores, professores, estudantes e famílias, para além da simples adaptação das atividades em sala.
Estrutura: um dos principais pontos de atenção é a falta de estrutura e recursos adequados para implementar as mudanças propostas. A ampliação da carga horária, a oferta de disciplinas e atividades extracurriculares, o ensino técnico e profissionalizante e o ensino em tempo integral demandam investimentos significativos em infraestrutura, formação de professores e materiais didáticos. Sem esses recursos e investimentos na política pública, a qualidade do ensino pode ser comprometida.
Currículo: além disso, a flexibilização do currículo pode gerar desafios na organização e gestão das escolas. É necessário garantir que os estudantes tenham acesso a uma variedade de disciplinas e que as escolhas sejam feitas de forma equilibrada, para que não haja uma especialização precoce ou uma falta de conhecimentos básicos essenciais.
Desigualdades: outro alerta é a possibilidade de aprofundar as desigualdades educacionais. Nem todas as escolas possuem a mesma capacidade de oferecer uma ampla gama de disciplinas e atividades extracurriculares, o que pode gerar disparidades entre as instituições de ensino. Além disso, nem todos os estudantes têm as mesmas oportunidades de escolher e acessar as disciplinas de seu interesse, especialmente aqueles que estudam em escolas com recursos limitados.
Portanto, embora o novo ensino médio traga mudanças positivas, é importante considerar os desafios e impactos que podem surgir. É necessário investimento em recursos, formação de professores e garantir a equidade no acesso às oportunidades oferecidas pelo novo modelo, para que todos os estudantes possam se beneficiar de uma educação de qualidade, com equidade, inovadora e adaptada à sua realidade.
* Bernardo Soares é professor no ensino médio e pesquisador em educação