NOTÍCIA
Por Silvana Pepe*: Em um mundo cada vez mais complexo, em que “causa e efeito” são desconectados ou desproporcionais; mais dinâmico, em que “o que aprendo hoje, amanhã pode ser antigo”; mais exigente, pois é preciso saber conviver, ter criatividade e uma boa capacidade de […]
Publicado em 31/08/2023
Por Silvana Pepe*: Em um mundo cada vez mais complexo, em que “causa e efeito” são desconectados ou desproporcionais; mais dinâmico, em que “o que aprendo hoje, amanhã pode ser antigo”; mais exigente, pois é preciso saber conviver, ter criatividade e uma boa capacidade de resolução de problemas; mais competitivo, o que demanda pensamento crítico e analítico, preocupa-me o fato de se oferecer poucas possibilidades às crianças e jovens para lidarem com o aleatório, com as incertezas de uma sociedade cada vez mais fluída, em que a única certeza estável é a mudança constante.
De acordo com Yuval Noah Harari, professor, Ph.D. em História, autor do livro 21 lições para o século XXI, “para sobreviver num mundo assim, é preciso muita flexibilidade mental e grandes reservas de equilíbrio emocional”, aspectos do desenvolvimento humano muitas vezes negligenciados por quem educa, mesmo que inconscientemente, entregando a educação às telas de um celular, smartphone ou IPad.
Não quero aqui negar a importância da tecnologia e seus avanços para a humanidade, nem poderia! O que ela não pode substituir, no entanto, é a aprendizagem que acontece quando nos conectamos com o outro. Para crescer, crianças e jovens precisam conhecer a generosidade, observar os gestos humanos, os olhares, sorrisos e carinhos, o encorajamento! Seres humanos precisam observar o mundo à sua volta, compartilhar sentimentos e emoções. Devem e merecem ter a possibilidade de olhar para a vida e entender o seu funcionamento.
O trabalho socioemocional nos possibilita mais abertura para que crianças e jovens se conheçam e façam escolhas mais assertivas: com liberdade e responsabilidade, com respeito e empatia, com resiliência e foco. O desenvolvimento adequado destas competências permite a autogestão emocional, dando luz às descobertas que vão reger nossa vida: quem sou eu? Como quero agir no mundo? Que causas quero defender? Quantas pessoas posso impactar? Significa viver a integralidade nas dimensões intelectual, física, emocional, social e cultural, pois permite-nos lidar com as nossas emoções e com as emoções do outro, conscientizar-nos acerca de nossa saúde física e autocuidado (boa alimentação, horas suficientes de sono, atividades físicas); promover nosso desenvolvimento intelectual (curiosidade para aprender algo novo e estar disponível para novas experiências) além de cultivarmos relacionamentos construtivos conosco e com os outros.
Um projeto que desenvolva competências e habilidades socioemocionais, abre para as escolas a possibilidade deste olhar integral e integrado, à medida que permite desenvolver os aspectos mais relevantes do desenvolvimento do aluno, tanto relacionados às habilidades cognitivas (na interface com todos os componentes curriculares) quanto em relação às não cognitivas, como os sentimentos e emoções.
Respondo hoje pela gestão de uma metodologia de transformação social, precursora na temática socioemocional, em que cada módulo de nossos livros é um passo para desenvolver o projeto de vida de crianças e jovens. Presente em mais de 1300 escolas no Brasil, a Metodologia OPEE já inspirou milhares de crianças e jovens a construírem projetos de vida eficazes, éticos, sustentáveis e felizes, explorando aspectos do autoconhecimento que favorecem escolhas mais assertivas, além do mundo do trabalho e educação financeira, tudo permeado por valores humanos que moldam o caráter.
As aulas que contemplam aspectos do desenvolvimento socioemocional nas escolas devem dar voz e vez aos alunos, num espaço de acolhimento no qual ter emoção e expressá-la, pedir ajuda, falar de seus medos, anseios e sonhos é permitido e bem-vindo!
No passado aprendemos como controlar o mundo exterior, mas ainda hoje temos pouco controle sobre o mundo interior. Não basta entendermos cada vez mais sobre o cérebro humano se continuamos distantes de nossa consciência. O desenvolvimento das competências socioemocionais como o autoconhecimento, empatia, resiliência e consciência planetária, por exemplo, pode ser o caminho para uma educação mais humanizada e transformadora! Penso que vale a reflexão.
*Silvana é educadora e diretora da metodologia OPEE. Formada em letras e especialista em educação, foi mantenedora de escola e diretora de sistema de ensino