Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo
Publicado em 14/09/2021
A então professora de escola pública Débora Garofalo inicia seu primeiro artigo para a Educação destacando sua trajetória bem como os benefícios da robótica
O ensino de robótica vem se tornando uma forte tendência na educação por possibilitar que crianças e jovens tenham a oportunidade de desenvolver habilidades e competências que são essenciais a esses novos tempos como a criatividade e o pensamento crítico, além do raciocínio lógico, oportunizando que eles não sejam apenas consumidores, mas sim, produtores de tecnologia.
Escrever sobre os benefícios da robótica e ter a oportunidade de abordar a minha própria experiência junto aos estudantes com o trabalho de robótica com sucata, serão alguns dos destaques de minha coluna aqui na Educação.
Leia: Débora Garofalo, nova colunista da Educação, quer difundir uma aprendizagem significativa
Sempre lecionei em escolas públicas e em 2015 me deparei com uma das realidades mais impactantes da minha trajetória como docente. Fui lecionar para estudantes em uma escola cercada por quatro grandes favelas na cidade de São Paulo, com alto índice de violência, tráfico de drogas e uma comunidade sem saneamento básico.
Do desafio, nasceu a vontade de transformar aquela realidade por meio do ensino de programação e robótica, mas a escola não possuía condições para realizar o trabalho, como a ausência de materiais especializados.
Durante a avaliação diagnóstica, 70% dos meus estudantes relatavam que o lixo era um problema na vida deles, por impedi-los de irem à escola em dias de chuvas por conta dos alagamentos e de doenças ocasionadas pela dengue e leptospirose.
Diante deste cenário, havia dois caminhos possíveis: me lamentar por aquilo que não possuía e/ou transformar o lixo em objeto de conhecimento. Preferi a segunda opção, ao transformar o lixo em currículo. Conheça aqui a história do trabalho de robótica com sucata.
Robótica com sucata trouxe diversos benefícios à comunidade escolar, entre eles a melhora do Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira (Ideb), diminuição da evasão escolar, combate ao trabalho infantil, retirou mais de 1 tonelada de lixo das ruas de São Paulo e possibilitou novos caminhos para o ensino de robótica no Brasil a partir da sensibilização ambiental e transformação do território educativo. Atualmente é uma política pública estadual de São Paulo, impactando 3,5 milhões de estudantes.
Existem diversas maneiras de levar o ensino de programação e robótica para a sala de aula. O importante é partir de resoluções colaborativas de problemas para que os estudantes tenham a oportunidade de se envolverem em ações pertencentes e exerçam o protagonismo juvenil. Veja a seguir os benefícios deste aprendizado.
O professor é mediador de conhecimento e pode aguçar os estudantes a resolver problemas de maneira colaborativa, para isso, ele deve trazer questionamentos, estudos de casos, filmes e ou debates, relacionados ao currículo e permitir que os estudantes encontrem soluções a partir de atividades que podem ser oficinas que envolvam a cultura maker, como bordado, marcenaria e construção de protótipos.
Leia: Os benefícios da aprendizagem baseada em projetos
O ensino de robótica favorece a colaboração, pois, na construção dos projetos, os estudantes são estimulados a desenvolver os problemas de maneira colaborativamente, além do desenvolvimento do senso de equipe, e a integração com o meio, em que são incentivados a aprenderem e respeitar ideias diferentes das suas. Outra característica marcante é o desenvolvimento do relacionamento interpessoal, visto que há uma intensa troca de experiências e compartilhamentos de ideias, em que agem em conjunto e em soluções para resolução do problema proposto.
Durante as aulas de robótica, os estudantes lidam com resoluções de problemas reais, desde a concepção e idealização dos seus projetos, até sua montagem e ou na programação de seus protótipos. Assim, a intensa busca para resolver problemas, estimula o cognitivo, o raciocínio lógico, a criatividade e o pensamento crítico.
Para além do trabalho com a robótica, essa modalidade desenvolve competências psicomotoras em que ele melhora o seu processo de aprendizagem se tornando mais rápido, perspicaz, auxiliando no processo escolar como um todo e permitindo o protagonismo juvenil.
Outro grande benefício de estudar o pensamento computacional na escola é que o aluno pode equilibrar conhecimentos teóricos aplicados em seus projetos de forma prática. Por ser interdisciplinar o conteúdo oferece a possibilidade de vivenciar na prática diferentes áreas do conhecimento em que o lúdico está a presente a todo momento, em que colocam a mão na massa e tem espaço para criar e aplicar conhecimentos de maneira prazerosa.
Elaborar um projeto exige o desenvolvimento do pensamento crítico e da criatividade. O resultado é que essa experiência prepara o estudante para se tornar mais criativo e colabora com a resolução de problemas, permitindo que a educação básica seja um grande laboratório de vivências.
Na prática, os estudantes são estimulados a mostrarem suas ideias para a classe, comunidade escolar, território educativo e dependendo do nível de aprendizagem em feiras e competições nacionais e internacionais. Tudo isso, ajuda os estudantes a se organizarem melhor, a explorar o campo da criatividade, desenvolverem autonomia em suas ideias e projetos.
O ensino de programação e robótica é um poderoso aliado para transformar o processo de ensino e aprendizagem e dar sentidos às nossas crianças e jovens que acompanham as mudanças na sociedade, além do desenvolvimento pessoal e social, preparando-os para um futuro próximo.
Débora Garofalo é a primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo