NOTÍCIA
Hoje, aprende-se em casa, nas praças escolas e, no caso do ensino superior, até nos bares. Com o aprendizado para toda a vida ficou impossível determinar um local específico
Publicado em 19/08/2021
Não faz muito tempo, as escolas eram os únicos cenários de aprendizagem. E o professor, o comandante. O que mudou? Por exemplo, nenhuma escola faz publicidade de seu espaço físico, como era feito antes: duas quadras poliesportivas, ginásio coberto e outros elogios aos prédios. Não se culpe a pandemia, mas o espaço de aprendizagem mudou muito, ampliou-se, porque se afinal vamos ter que aprender a vida toda, isso pode ocorrer num belo prédio, numa sala de aula comum, na praça ou em casa. A tecnologia cuida de ligar as pessoas a esses espaços.
Com seis andares, distribuídos em 3 mil m², a Trevisan Escola de Negócios, localizada no Brooklin, em São Paulo, e focada no ensino superior, além de arcar com o custo do edifício exclusivo investiu na construção de um auditório, que servia para eventos da instituição. Como a experiência digital já estava adiantada, quando houve a paralisação das aulas presenciais, a migração fluiu de maneira surpreendentemente boa. Os alunos aprovaram o digital.
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A partir daí a escola adotou o slogan de 100% digital, e sem aluguel, houve recursos para investir ainda mais em novas plataformas. A locação do espaço representava 20% da receita da instituição. Considerando os investimentos que também já vinham sendo feitos no ensino digital desde 2018, a Trevisan lançou mão de ser representada por um prédio, e desde março de 2020, funciona 100% digital: nem mesmo a administração faz uso de um espaço único.
Com a economia em aluguel, a instituição pôde dar foco no ensino e na nova metodologia.
“Deixamos de gastar com tijolos e cimento e passamos a investir na qualidade, tecnologia, novos conteúdos e também destinar boa parte do recurso para capacitação de professores”, conta Fernando Trevisan, diretor administrativo.
O modelo, claro, funciona especialmente por causa do perfil do público da Trevisan Escola de Negócios: aquele que procura por EAD por estar no mundo do trabalho e sem vontade ou tempo para a deslocamentos pelas atravancadas ruas de São Paulo.
Essa quebra de paradigma foi precedida de muitas discussões sobre a repercussão de abrir mão de um local físico. Foi aí que as experiências vitoriosas em todo o mundo na utilização de novos espaços de aprendizagem foram determinantes para a tomada da decisão. Agora é aprender em casa.
“Um diferencial que percebemos foi no networking. Antes isso era restrito a quatro paredes, hoje nossos alunos conseguem se relacionar com pessoas de outras partes do mundo; temos alunos de língua espanhola e brasileiros que moram em outros países”, comenta Fernando Trevisan, reforçando que tudo isso representa uma adequação à realidade do mercado e de público. “Vejo essa decisão certamente como um caminho promissor, especialmente para quem lida com educação para área de negócios. A tendência de digitalização, flexibilidade e conveniência na oferta de serviços é algo sem volta”, conclui.
As fórmulas ortodoxas de aprendizagem e de instalações pipocam por todos os lados. A Ânima, grupo que reúne faculdades no Brasil, vendeu as escolas internacionais de Florianópolis e de Blumenau e o Colégio Tupy, em Joinville, por 30 milhões de reais. Pelo contrato, a Bahema, empresa que vem colecionando escolas de educação básica pelo país, assume o compromisso de sublocar espaços nos campi das faculdades da Ânima, pelo prazo mínimo de 10 anos, com valor anual de 816 mil reais.
No comunicado, de fato relevante ao mercado, a Ânima informa que “integra o acordo, ainda, o compromisso da Bahema de sublocação de espaços em outras IES da Ânima Educação. Estima-se, em um cenário-base, a sublocação de 15 espaços adicionais, a um VPL de R$ 54.270.949,00, considerando o fluxo dos 20 primeiros anos dos contratos de locação. Caso a Bahema não subloque ao menos cinco outros espaços nas IES da Ânima Educação até 2025, será devida uma multa de R$ 1.000.000,00 para cada espaço que deixar de ser sublocado”.
Segundo pronunciamento da Bahema, é uma oportunidade bastante vantajosa e eficiente para a utilização de imóveis que já são adequados ao setor de educação e que viabilizam a expansão das escolas do grupo, em especial de novas unidades da Escola Mais. Encontrar espaços adequados e financeiramente viáveis para abertura de escolas costuma ser um desafio grande e exige investimentos relevantes. Com os espaços ociosos das faculdades, esse passo é dado com mais facilidade e segurança.
Segundo a resposta da Bahema por escrito, “no caso da sublocação de espaços ociosos da Ânima pela Bahema Educação, trata-se de um acordo de parceria que faz sentido para as duas companhias: para a Ânima é uma oportunidade de dar utilidade a espaços ociosos de seus campi, o que pode gerar valor incremental de pelo menos R$ 5 milhões para a companhia; para a Bahema é uma forma mais eficiente de encontrar imóveis adequados para viabilizar a expansão de suas escolas.
Isso porque o contrato prevê que o valor da sublocação é um percentual da receita da escola que ocupará o espaço abaixo do percentual que usualmente pagamos como aluguel. Além disso, os investimentos em reforma e adequação serão menores, já que os existentes são espaços de educação. Assim, essa é uma operação ganha-ganha, que faz sentido para as duas companhias”, finaliza a nota.
A utilização de espaços antes nunca usados pôde ser vista com professor dando aulas ao ar livre no campus, durante a pandemia, nos Estados Unidos, com um copo de vinho e outras excentricidades. Exageros à parte, e consolidada essa questão de evitar aglomerações, os espaços abertos de aprendizagem, que antes eram decantados apenas por especialistas, se impuseram.
No Ceará, o grupo Christus, com várias escolas e centro universitário, já utiliza a fórmula com sucesso há muito tempo, o que permitiu um crescimento mais rápido. Os alunos do curso superior à noite se dirigem para as salas de aulas do Colégio Christus, da família Rocha. A filha mais nova que dirige uma das escolas, Raquel, disse que no começo, e já faz anos, houve um estranhamento, mas passou logo. O centro universitário tem um prédio exclusivo que abriga as ciências: medicina, odontologia e outras. “O laboratório de cada disciplina exige um espaço próprio”, diz Raquel Rocha.
Na Inglaterra, em 2012, uma comunidade de estudantes de pós-graduação e de pós-doutorado resolveu criar um programa de divulgação de ciência para a população. Os locais escolhidos foram bares, restaurantes e cafés. Com o sucesso, a iniciativa, com o nome de festival Pint of Science, espalhou-se pela Inglaterra e de lá para o mundo.
No Brasil, o Pint of Science chegou em 2012 e encontrou um ambiente favorável para o crescimento. Em 2020, havia mais de 80 cidades que promoviam esses encontros anuais. A pandemia dispersou, alguns ficaram online, mas a tendência é a retomada. O festival Pint of Science tem como premissa reunir cientistas, pesquisadores e o público leigo para um happy hour informal e divertido sobre assuntos científicos, organizados por voluntários.
Em Curitiba, por exemplo, no ano passado as doses de conhecimento foram tomadas por 2.450 pessoas, que assistiram a 18 palestras ministradas por pesquisadores sobre termas como inteligência artificial, agrotóxicos, violência obstétrica, desastres mundiais, ficção e vacinação. Para o coordenador do Pint of Science de Curitiba, Fabio Marcel Zanetti, professor do Departamento de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
“os bares estiveram lotados em todas as noites e as palestras foram muito produtivas. O público interagiu e fez perguntas ao final, mostrando interesse em aprender. É esse justamente o espírito do evento, gerar discussão e levar a ciência para conversa de bar”, avalia Zabetti.
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