NOTÍCIA
Mesmo no pós-pandemia, adoção de tecnologias inteligentes deve ser prioridade, com estratégias de acelerar o aprendizado dos alunos por meio de formação qualificada dos educadores, infraestrutura adequada e soluções integradas
Publicado em 04/06/2021
Por Augusto Rosa*: Quadro negro à frente, um professor falando, estudantes enfileirados numa grande sala, escutando, e fazendo perguntas esporádicas. Foi assim que a maioria de nós aprendeu (ou não) a fórmula de Bhaskara, a quantidade de cromossomos dentro das células e que o português Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 1500. Este modelo de educação foi estabelecido durante a Revolução Industrial, com o objetivo de replicar uma linha de produção no ambiente escolar e está vigente há mais de um século. Apesar de a indústria ter evoluído com diversas inovações ao longo dos anos, o sistema educacional pouco mudou.
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Se antes o conhecimento era encontrado majoritariamente nas enciclopédias e livros, universidades e professores, hoje o cenário é diferente. Agora, no século 21, a informação e o conhecimento estão em todo lugar; com uma sequência de toques, em segundos, qualquer pessoa com acesso à tecnologia tem uma informação à sua mão para agregar conhecimento. A intimidade com a tecnologia faz com que a geração Z e a geração alpha não se adequem mais ao sistema tradicional de ensino, de modo que a inovação se torna indispensável para gerar engajamento dos estudantes.
Quando se fala em tecnologia, um termo que tem feito parte do vocabulário de diferentes verticais da indústria é a transformação digital. O conceito é muito mais do que simplesmente digitalizar o que era analógico.
A transformação digital veio para mudar o jeito com que as pessoas se comunicam, jogam, trabalham e estudam, resultando em uma mudança cultural à medida que tecnologias são utilizadas para resolver problemas tradicionais.
Com a pandemia da covid-19, as medidas de distanciamento social afetaram a maior parte dos setores da economia, de modo que o consumo das famílias recuou 5,5% e o consumo do governo caiu 4,7% no Brasil em 2020, segundo dados do IBGE. Nessa conta entra também o fechamento de escolas e instituições de ensino, que permaneceram fechadas na maior parte do ano.
Questões econômicas à parte, o efeito do fechamento das escolas é devastador. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a infância, Unicef, mais de 168 milhões de crianças completaram, em março de 2021, um ano sem ir à escola. Além do prejuízo na aprendizagem e aumento da evasão escolar, a ausência de aulas no Brasil deve impactar também a economia, de modo que dificuldades na produtividade e aumento da desigualdade social devem ser sentidas no país como reflexo nos próximos 15 anos, segundo o Boletim Macrofiscal do Ministério da Economia.
Para manter os alunos estudando, as instituições de ensino se viram na necessidade de acelerar a transformação digital, especialmente para aquelas que não tratavam do assunto como prioridade. Escolas e universidades adequaram o ensino a distância à nova realidade para manter os alunos conectados. Estudiosos afirmam que a pandemia acelerou a adoção de soluções de tecnologia de cinco anos para um. O investimento de tecnologias integradas ao sistema de ensino deve ser, no entanto, perene nas instituições públicas e privadas, mesmo depois da pandemia, uma vez que o uso da tecnologia inteligente em ambientes escolares facilita o acompanhamento individual, aumenta o engajamento dos estudantes e apresenta novas ferramentas aos professores.
Leia: Do low ao high tech: como alavancar a aprendizagem
Desde o início do isolamento social e fechamento de instituições de ensino, vimos uma explosão de conteúdos digitais voltados à educação em plataformas como YouTube e até mesmo TikTok, com milhões de visualizações, reforçando a ideia de que a aprendizagem extrapola os limites da sala de aula e bibliotecas, e invade o ambiente digital.
Neste cenário, é preciso também levar em consideração o professor, que precisa ter a capacitação adequada para que consiga desenvolver soluções para o uso das novas tecnologias com a finalidade de aplicar uma nova aprendizagem mais alinhada ao perfil e às demandas da geração de alunos que é nativa digital. Dessa forma, o profissional será capaz de explorar e extrair o melhor de cada ferramenta e inovar, utilizando recursos presentes no dia a dia dos alunos, como eSports e games, por exemplo.
O Brasil conta com mais de 180 mil escolas e 2,5 mil universidades, entre instituições públicas e privadas. No entanto, apresenta gargalos que devem ser superados para que essas inovações sejam implementadas. A Pesquisa TIC Educação 2019 mostra que 40% dos alunos de escolas públicas não têm acesso ao equipamento mínimo necessário para continuarem seus estudos, mesmo a distância como computador, tablet e internet de qualidade. Para não perdermos 15 anos (aproximadamente o tempo de meia geração) é necessário que mesmo após a pandemia, a adoção de tecnologias inteligentes seja prioridade entre as instituições públicas e privadas, com estratégias de acelerar o aprendizado dos alunos por meio de formação qualificada dos profissionais, infraestrutura adequada e soluções integradas.
*Augusto Rosa é diretor de vendas para os segmentos de educação e governo da Lenovo.
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