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Falta de coordenação para ações de enfrentamento à covid nas escolas é uma dessas ausências. Vitor de Angelo conversou também sobre aulas online e Novo Ensino Médio, temas de sua participação na Jornada Bett Online
O enfrentamento da pandemia nas escolas, o agravamento das desigualdades educacionais entre estados e a implementação do Novo Ensino Médio no país são assuntos que permearão a participação de Vitor de Angelo, secretário da Educação no Espírito Santo e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), na abertura da 2ª Jornada Bett Online, amanhã, 11, às 18h30. Ele estará ao lado de Claudia Valério, diretora da Bett Educar, e de Luiz Miguel, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). “A gente pode tratar de vários assuntos, mas não tem como evitar o que estamos vivendo”, diz Angelo.
Sem o Ministério da Educação (MEC) como coordenador das ações de enfrentamento à pandemia nas escolas brasileiras, explica o secretário capixaba, os estados tiveram de tomar sozinhos as decisões diante de uma conjuntura completamente nova.
“O verdadeiro apagão da educação, talvez o maior deles, tenha sido a ausência do grande articulador em condições de coordenar uma resposta coletiva que pudesse enfrentar os desafios que a pandemia trouxe”, afirma Vitor de Angelo.
Segundo o presidente do Consed, a falta de coordenação nacional prejudica a educação no país em vários aspectos. “Diante de um cenário em que cada um tenta enfrentar a pandemia com as armas de que dispõe, uns tomam decisões mais acertadas, outros têm mais força política, além das características socioeconômicas regionais. Uma federação autônoma não é cada um por si”, afirma.
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Para exemplificar as discrepâncias vistas no país atualmente, o secretário cita o levantamento Cenário da exclusão escolar no Brasil – Um alerta sobre os impactos da pandemia da covid-19 na educação, publicado em 2021 pelo Unicef no Brasil. No estudo, com base em dados do ano passado, foi calculado o percentual por estado de crianças e adolescentes com idades entre seis e 17 anos com ensino médio incompleto que não frequentam a escola.
“O Unicef fez um levantamento a partir do Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios]. Tem uns critérios muito particulares, por exemplo, quem não recebeu atividade remota está no grupo dos evadidos. Poderia ser questionado, mas serve para se ter uma ideia. Enquanto tem estados com 4%, outros estão com 38%. Esse é o tipo de situação que a gente vai enfrentar”, diz. “Não é fruto só das decisões dos secretários, há as condições locais sanitárias e socioeconômicas. Por isso, o apoio do MEC teria sido importante.”
No levantamento, o Espírito Santo ficou com 11,1% – entre os 4,4% obtidos por Paraná e Santa Catarina e os 38,6% de Roraima. “Nós conseguimos agora, aqui, fazer um programa para a compra de computadores para professores e estamos fazendo também para alunos. Mas o Espírito Santo está em uma situação particular: tem classificação nota A no Tesouro desde 2011, vai financeiramente muito bem. E os gestores que receberam estados com um passivo grande?”, questiona Angelo. “No Consed, alguns lamentam: ‘que pena que não dá para fazer isso aqui’. Não é uma questão de vontade, é uma política nacional.”
O presidente do Consed lembra que emergências exigem respostas velozes, o que já é difícil devido ao ritmo devagar da administração pública. “Mesmo se tivesse o MEC coordenando, já não seria do dia para noite. Sem eles, há a lentidão da burocracia e ainda condições muito diferentes nos estados para percorrer esses caminhos. O rápido já é lento. Tudo isso somado, é uma tragédia”, afirma.
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Segundo o secretário capixaba, o estado já vinha trabalhando a digitalização. “Demos muita sorte no Espírito Santo porque, quando entramos no governo em 2019, eu trouxe para a minha equipe muita gente que tinha know how de EAD para dar escala na incorporação de tecnologia. Não começamos a falar disso em março de 2020. Já tinha um ano de trabalho de EAD com a formação de professores do infantil e do fundamental”, diz.
No entanto, Vitor de Angelo ressalta que não foi possível implementar EAD de fato nas escolas capixabas, mas sim “uma resposta emergencial a uma pandemia”. “Não é culpa do professor. Ele não teve uma formação inicial na universidade voltada para isso e, depois, entrou em uma rede que bem ou mal não fazia isso. Então organizamos lives de formação continuada e cursos de 10 horas. Mas ninguém está imaginando que, com isso, ele vai sair um exímio editor de vídeo.”
Em 2022, escolas das redes pública e privada do país têm de ter implementado o Novo Ensino Médio, conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). É o limite do prazo estabelecido para que o currículo passe a ser flexível, incluindo itinerários formativos voltados a diferentes interesses. Atualmente menos de dez estados estão com seus novos currículos homologados – o Espírito Santo é um deles.
“Na medida em que você vê os estados sendo deixados literalmente à própria sorte, as condições que têm para enfrentar algumas agendas são limitadas. Com isso, o Novo Ensino Médio ficou para depois porque a pandemia é algo muito mais urgente”, afirma Angelo. “Ou por uma questão de timing porque o estado já estava um pouco mais bem posicionado em relação a esse assunto, ou de novo por características regionais, ou por caráter fortuito. Por exemplo, quem deu azar de ser pego no contrapé ou de ter uma equipe menor, coisas que seriam facilmente superáveis em um contexto normal.”
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