NOTÍCIA
Evento será gratuito de 11 a 14 de maio e também discutirá sobre ensino híbrido e metodologias ativas e gestão de mudança e inovação. Adriana Martinelli, diretora de conteúdo da Bett, conversou com a Educação sobre os caminhos educacionais no país
A transformação digital e humana da educação é o eixo dos debates da 2ª edição da Jornada Bett Online, que acontece gratuitamente de 11 a 14 de maio, e conta com certificado de 14 horas (clique aqui para inscrições e programação). Augusto Cury, Carla Tieppo, Lilian Bacich, Alexandre Sayad, José Moran e Leo Burd são alguns dos mais de 40 especialistas que compõem a programação. Vitor de Angelo, secretário de estado da Educação do Espírito Santo e presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e Luiz Miguel, secretário municipal de Educação de Sud Mennucci, SP, e presidente da Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação) também são destaques.
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Nas discussões sobre a transformação digital, os convidados abordarão quais metodologias de ensino podem ser usadas para um melhor estímulo do ensino e aprendizagem, além do debate sobre a educação híbrida, uma vez que há falta de conhecimento sobre a modalidade – o que o hoje as escolas oferecem é ensino remoto emergencial. Adriana Martinelli, diretora de conteúdo da Bett Educar, espera que no pós-pandemia as escolas tenham mais clareza de que há vários formatos de aprendizagem, e não apenas o tradicional carteiras enfileiradas e aula expositiva. A modalidade híbrida, por exemplo, força a discussão do que é propício para cada ambiente, auxiliando nesse processo.
“Hoje acontecem aulas online no mesmo formato do presencial. A escola coloca câmera na sala presencial e transmite para quem está em casa. Isso não é ensino híbrido”, alerta a diretora.
Mas falar de tecnologia e não olhar o indivíduo não é um caminho inteligente, tampouco empático em um período pandêmico que desperta a ansiedade. Sabendo disso, Adriana Martinelli montou uma programação que coloca como segundo pilar da Jornada a saúde mental e habilidades socioemocionais dos educadores, e que inclui oficina de meditação. “Estamos vivendo processos emocionais que talvez nunca imaginaríamos viver. Vários estudos apontam que talvez os humanos nunca tenham vivido tanto medo como nessa pandemia. Há uma montanha-russa de emoções que não pode ser desconsiderada. Ninguém aprende em situação de medo e alta ansiedade. Por isso precisamos olhar para o lado humano”, alerta.
A terceira parte da Jornada Bett Online se volta para a gestão baseada em mudanças, o que inclui como desenvolver habilidades para agir perante o incerto. “Aqui o olhar não será para o gestor escolar em si, mas no sentido de que para qualquer coisa que você precisa fazer, é necessário atitude de gerir, empreender, fazer acontecer. Será um momento para os participantes orquestraram suas ações”, detalha a diretora de conteúdo. Outro ponto que será destaque é olhar para a educação de forma mais inclusiva e voltada a práticas que abracem a diversidade como por exemplo, adotar uma agenda antirracista.
A diretora tem propriedade para falar em inovação, uma vez que possui mais de 25 anos de experiência na área educacional e no desenvolvimento de estratégias inovadoras para metodologias de ensino com utilização de tecnologias de comunicação e informação. Diante de sua experiência, seu receio é que no futuro os debates fiquem no mexer nos processos, nas metodologias, no abraçar ainda um método conteudista.
“Isso é incoerente com o propósito educacional. Porque quando a gente fala em BNCC [Base Nacional Comum Curricular] e quer olhar as competências socioemocionais, estamos falando de um modelo de educação e temos que ter modelos para saber aonde queremos chegar. Brinco que séculos atrás o estudante entrava na escola e bastava o cérebro esquerdo dele. Hoje a gente precisa ver que o estudante vem com corpo, coração e todo o cérebro. Tudo isso se desenvolve, é funcionamento de um organismo aprendente. É olhar o cérebro e todo aspecto corporal do estudante. Emoção impacta a educação e não dá para desconsiderar”, ressalta.
Martinelli trabalhou por 15 anos no Instituto Ayrton Senna e brinca que foi seu MBA em rede pública. Ali atuou como gerente de tecnologia educacional em projetos para as redes estaduais e municipais. Seu foco era em metodologias que favoreciam o ensino e aprendizagem. “Processo muito de mudança de cultura. Não é colocar o computador no laboratório, ligar e usar. Impacta em formação dos professores, didáticas novas, discutir como os processos de aprendizagem se davam”, explica.
Já no Centro Universitário Braz Cubas, desenvolveu, coordenou e implantou um curso de pós-graduação com metodologia inovadora para professores da educação infantil à superior. Também participou de um programa de formação de professores na Universidade Stanford e em novas tecnologias na educação pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou ainda como consultora em projetos estratégicos de inovação na educação para o Instituto Singularidades, para o British Council e para a United Way Brasil.
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Aliás, Martinelli não gosta da semântica por trás da palavra “formação” por entender que está atrelada a uma forma que todos devem se encaixar. “Em outras áreas se fala em desenvolvimento profissional. A palavra ‘desenvolvimento’ vem de um processo de dentro para fora, eu desenvolvo e ganho autonomia. E formação alguém faz com você, te coloca na forma”, analisa.
“O mais rico é o desenvolvimento profissional dos docentes. Conteúdos temos bastante, assim como muitas tecnologias e soluções. Mas se não temos um desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes à altura, não adianta. O foco principal de melhoria da educação está nesse ponto. Vejo isso de uma forma realmente de valorização desse profissional e não utilitária, em que ele também tem seu protagonismo e autonomia”, diz.
Adriana Martinelli integra desde o início deste ano o time da Bett Educar. “Minha vinda para a Bett é muito em ser espaço de troca de professores para que eles possam aprender, se desenvolver. Quero daqui para a frente trazer aquele professor que tem algo a falar. Não estou desmerecendo os especialistas, mas valorizando os professores que têm práticas a compartilhar. Atuar com um aprendizado mais horizontal”, explica.
Segundo a diretora de conteúdo, o gargalo da educação pode estar na desvalorização dos professores. “É fácil colocar em um texto como seria uma escola perfeita, currículo perfeito. No papel cabe tudo. A questão é transformar isso em uma prática, realidade. E na realidade você lida com comportamento, atitude, reflexões e processos de autoconhecimento. Como cada um está reagindo. Questões que se a gente não levar em consideração não teremos o professor por completo. Professor também precisa ser integral. Isso não é tendência, é um caminho”, aconselha.
“Professores não são robôs que entram para dar aula e saem. Não são porque se fossem jamais conseguiriam desenvolver competências socioemocionais. E são os exemplos deles que fazem os alunos aprenderem. Eles são modelos de práticas e atitudes. Competências socioemocionais você não lê livro e aprende, você desenvolve fazendo e tomando consciência da sua emoção”, defende ao dizer que tais aspectos sempre foram fundamentais desenvolver, mas se tornam ainda mais fundamental em um período de isolamento social e de aulas online (ou falta da aula em locais sem recursos).
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