Para ser efetiva, análise de aprendizagem requer mudança de cultura e pede que professores e gestores acreditem que ela é capaz de transformar percepções em planos de ação contundentes, aconselha neste artigo, especialista
Nossa convivência de mais de um ano com a pandemia da covid-19 impôs novos comportamentos, impactou as dinâmicas de consumo de produtos, serviços, informação, entretenimento e de educação. Diante desse contexto, o investimento em inovação do ecossistema educacional passou a ser definitivamente guiado pela ideia de que as pessoas (no caso, os estudantes) devem estar no centro da tomada de decisões. E um dos grandes aliados nesse caminho é o learning analytics, ou análise de aprendizagem por meio da tecnologia. Por meio dela é possível interpretar individualmente o percurso, as dificuldades e os hábitos de estudos dos alunos.
Dos diversos pontos de contato das crianças e jovens na sua jornada de aprendizagem aos seus desempenhos nas múltiplas atividades e disciplinas, passando por ferramentas que podem ser personalizadas de acordo com a necessidade específica de cada estudante, a análise de aprendizagem por meio de dados na educação ganha novos contornos neste momento, uma vez que o ensino híbrido veio para ficar.
Para uma expressiva parcela da população brasileira em idade escolar, a educação hoje é mediada por telas e isso, literalmente, abre uma janela de oportunidades para medições on time.
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Já falávamos, em tempos pré-pandemia, da evolução da aprendizagem por evidências. A análise sequencial dessas medidas em forma de métricas nos leva a ler comportamentos que, a partir dessas constatações podem, não só ajudar a corrigir rotas de ensino e aprendizagem, como a testar novos métodos para a relação professor/aluno. Redes, escolas e professores, depois de se interessarem por esse tema precisam ter coragem para avançar, o que não é uma tarefa fácil, pois também envolve mudança de cultura. Superada essa etapa, o fluxo de informação constante sobre como os estudantes respondem à orientação passam a se ajustar, visando melhores resultados.
Outra possibilidade interessante que as ferramentas de análise de dados proporcionam é uma previsão da performance dos alunos, ou seja, podemos ser preditivos, da mesma maneira que os algoritmos das redes sociais ficam nos sugerindo artigos de consumo, baseados em nosso comportamento nas redes. Isso permite, por exemplo, perceber se as ações em curso estão promovendo uma real melhora no aprendizado, incluindo tempo dedicado nas resoluções de situações-problema e caminhos escolhidos para tal. Em síntese, ter ciência do que os estudantes já sabem, o quê e como aprenderam em um determinado intervalo de tempo são dados essenciais para medir o sucesso da instituição de ensino.
A boa notícia é que as ferramentas e programas de análise de dados, que antes eram reservados para grandes empresas, agora estão sendo amplamente usadas também em instituições de menor porte, democratizando seu acesso. No dia a dia à frente da FTD Educação, me sinto muito privilegiado por poder aplicar os diversos usos que o aprendizado baseado em dados proporciona à gestão, no planejamento e desenvolvimento de produtos e tantas outras soluções. Além disso, nosso contato constante com uma série de edtechs, algumas das quais estamos adquirindo participações e parcerias, abre horizontes fascinantes com o ensino adaptativo e com as várias formas que a inteligência artificial pode ser utilizada na educação.
Como tudo na nossa jornada, ter um programa de análise de dados em vigor não é uma solução mágica para os desafios educacionais. Esse processo exige, além da mudança cultural, flexibilidade ao erro, canais de comunicação eficientes, especialmente do protagonismo e patrocínio da alta liderança, como aquela que não espera mais ciclos longos para avaliar os indicadores. Professores e gestores de educação só estarão comprometidos com a tomada de decisão baseada em dados se puderem ver seu valor e acreditarem que podem transformar o que eram só percepções em efetivos planos de ação. Bem-vindos a mais uma parte da revolução 4.0 na transformação da educação. Vale a pena.
*Ricardo Tavares é diretor-geral da FTD Educação.
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