Resultados do último Pisa mostram que o desempenho dos brasileiros não mudou; estagnação com grandes distâncias entre alunos ricos e pobres
Publicado em 13/04/2020
A condição socioeconômica dos alunos brasileiros é um fator preditivo de desempenho no Pisa, exame realizado pela OCDE com alunos de 15 anos. Quanto maior a renda do estudante, melhor a sua performance na prova – e o fosso que separa alunos de diferentes classes sociais está se aprofundando. Em 2009, havia uma defasagem de 84 pontos entre jovens ricos e pobres, indicador que saltou para 97 pontos na prova de leitura de 2018. Na média dos países da OCDE, o gap é de 89 pontos.
Leia: Um dos criadores do Pisa analisa o investimento público em educação no Brasil
Marrocos, Panamá, Colômbia, México, Costa Rica e Vietnã são outros países citados no relatório com índices de desigualdade semelhantes. Na ponta oposta aparecem Rússia, Japão, Bielorrússia, Finlândia e Croácia.
Em termos gerais, os resultados divulgados também apontam que o Brasil está praticamente estagnado em todas as áreas (veja mais nos gráficos abaixo). Em leitura, apenas metade dos alunos atingiu ao menos o nível 2 de proficiência (a média da OCDE foi de 77%), o que quer dizer que os outros 50% não conseguem identificar a ideia principal de um texto de extensão moderada, encontrar informações solicitadas e refletir sobre o propósito do conteúdo e sua forma. Uma parcela ínfima (2%) conquistou o nível de proficiência 5 e 6 (média da OCDE: 9%). Os jovens que chegam aos estágios mais altos têm competência para ler com textos mais longos, lidar com conceitos abstratos ou contraintuitivos e estabelecer distinção entre fato e opinião.
Em matemática, somente um terço dos alunos está no nível 2 de proficiência (média da OCDE: 76%), no mínimo. Esse nível de conhecimento indica que eles conseguem comparar a distância de duas rotas e converter preços em outra moeda, para citar dois exemplos. Somente 1% dos estudantes está no nível 5 (média da OCDE: 11%). Ainda sobre esse tópico, o levantamento revela que as economias asiáticas detêm os maiores percentuais de jovens nesse estágio. São elas: Pequim, Xangai, Jiangsu e Zhejiang (44%); Singapura (37%), Hong Kong (29%), Macau (28%), Taipei-China (23%) e Coreia (21%).
Finalmente, em ciências, 45% dos alunos podem ser classificados, ao menos, no nível 2 (média da OCDE: 78%), enquanto o estágio mais avançado está, novamente, restrito a 1% dos brasileiros avaliados. Estes conseguem aplicar seus conhecimentos de forma criativa e autônoma em uma grande variedade de situações, mesmo nas desconhecidas.
Em 2018, a prova do Pisa foi aplicada em 79 países e economias e mobilizou em torno de 600 mil jovens. Eles responderam a perguntas de múltipla escolha e também a questões relacionadas ao ambiente da escola e à vida pessoal. Dessa parte do relatório, destacou-se novamente a dificuldade enfrentada pelos professores brasileiros para acalmar os alunos e iniciar efetivamente a aula; 41% dos alunos reportaram essa condição, e eles apresentaram um desempenho inferior (19 pontos a menos) em leitura em comparação com aqueles que não vivenciam esse tipo de situação. Em relação à média da OCDE, os brasileiros também estão sofrendo mais bullying: 29% disseram passar por isso algumas vezes no mês, contra 23% da média dos países desenvolvidos.
Pisa: meninas superam meninos em ciências
Fundeb é prioridade na agenda da Educação. Entenda o motivo