Os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) são parte de um projeto educacional concebido por Darcy Ribeiro. Tinha como objetivo oferecer ensino público de qualidade em período integral. Darcy considerava-os “uma revolução na educação pública do país”. Num vídeo com data próxima à do seu falecimento, ele diz-nos que falhou em tudo aquilo que tentou e que seria tarefa dos vindouros concluir a obra inacabada. Se o saudoso Darcy nos deixou esse legado, compete-nos completar a sua obra. Se um câncer prematuramente o levou do nosso convívio, façamos jus à sua memória, devolvamos aos CIEPs a sua vocação.
Esses edifícios escolares deveriam funcionar em tempo integral, num horário entre as 8h e as 17h, oferecendo oportunidades de aprendizagem do currículo regular, bem como atividades culturais e recreativas, estudos dirigidos e educação física. No segundo governo de Brizola, alguns CIEPs foram equipados com piscinas. E forneciam refeições completas, além de atendimento médico e odontológico. Visava-se tirar crianças carentes das ruas, oferecendo-lhes “pais sociais”.
Sucessivos desgovernos não deram continuidade ao projeto, desvirtuando a sua principal característica: a educação integral. Os CIEPs tornaram-se escolas comuns, com o ensino em turnos. Alguns, parcialmente concluídos, foram abandonados. Para melhor compreensão do projeto e da incúria do poder público, sugiro a leitura dos textos Cieps: a educação como prioridade e O livro dos Cieps.
Na década de 1990, os jornais do Rio registraram uma saudável polêmica entre Darcy Ribeiro e Lauro de Oliveira Lima. Apesar de reconhecer a genialidade do projeto arquitetônico concebido por Niemeyer, o mestre Lauro aconselhava que o projeto do Darcy não se limitasse a um exercício de pedagogia predial. Ao sonho do visionário Darcy, Lauro acrescentava uma proposta teórica esboçada no livro Escola de Comunidade, publicado na década de 1960. Provavelmente, terá sido a primeira obra publicada no mundo sobre novas construções sociais de aprendizagem. Somente 30 anos depois, os anglo-saxônicos e os catalães conceberiam as suas “comunidades de aprendizagem”. À luz da contribuição teórica do Lauro, atualizemos a proposta do Darcy. Façamo-lo em concreto, no Estado do Rio, que a viu nascer.
O Projeto Alto Independência de Petrópolis teve início em meados de 2015. Em 2016 foi reconhecido pelo MEC como um dos projetos brasileiros mais inovadores, rejeitou o recurso a paliativos, com que o poder público continua a enfeitar um modelo educacional obsoleto, que nega a muitos brasileiros o direito à educação. Recentemente, foi convidado para representar o Brasil num importante evento internacional e agregou mais um espaço na comunidade.
É provável que, em 2018, o projeto integre um novo espaço: um CIEP. E nesse CIEP poderá nascer um protótipo de comunidade de aprendizagem, uma nova construção social de aprendizagem. Será fruto do esforço de educadores, que assumiram um compromisso ético com a profissão, mas também por vontade da comunidade, por ação do Ministério Público e o apoio de parcerias, que reconhecem o seu potencial.
Em conformidade com um projeto efetivamente político e pedagógico, o sonho do Darcy e do Lauro tomará forma, assegurando educação integral em tempo integral, sem contraturno de desculpabilização curricular, provando a oculta vitalidade da educação brasileira.
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