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Dezoito anos após o levantamento que mais professores ouviu para aferir questões sobre sua saúde, uma nova pesquisa – de proporções bem menores – virá a público nos próximos meses para ratificar alguns dos aspectos que chamaram a atenção em 1999. Naquela ocasião, uma parceria entre a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e a Universidade de Brasília (UnB) possibilitou que 52 mil trabalhadores do campo educacional de 1.440 escolas fossem ouvidos. Destes, 48% apresentavam algum sintoma relacionado à síndrome de
burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, que, em seu nível mais agudo, leva a pessoa a um estado de esgotamento que exige o afastamento do trabalho.
Agora, o universo é de 762 respondentes, participantes do congresso realizado pela CNTE em janeiro deste ano. Apesar de ainda em fase de tabulação de dados, a pesquisa atual (que não se restringe a questões de saúde) já permite, segundo Jussara Dutra Freire, coordenadora do trabalho, ter certeza de que os problemas de ordem psíquica são os que têm maior presença entre as enfermidades da educação. “Verificamos a menção de muitas menções a estresse, depressão e a diversas síndromes, tais como
burnout, pânico e outras novas, como a síndrome do pensamento acelerado”, relata Jussara, que foi também presidente da CNTE.
Recém-nominada, a síndrome do pensamento acelerado está relacionada à velocidade do mundo contemporâneo, ao excesso de informações e ao uso intensivo de dispositivos digitais. Assim como as outras síndromes relatadas, está ligada a quadros de ansiedade e depressão, manifestando-se quando os profissionais se veem frente a grandes pressões cotidianas.
Na pesquisa atual, sublinha Jussara, é provável que haja algum desvio que não possibilite projetar o resultado para a categoria como um todo, não só pelo número de participantes, mas também pelo fato de a representação não ser proporcional a um universo mais amplo.
“Era o perfil dos participantes do Congresso. Na maioria, mulheres (70%) dos grupos etários mais velhos, de 41 a 50 anos e de 51 a 60 anos”, ressalva. Outros problemas que chamaram a atenção – também já tradicionais no âmbito da educação – são aqueles relacionados às cordas vocais, à coluna cervical e, no caso das mulheres, a varizes.
Carência de dados
Chama a atenção o número pequeno de pesquisas voltadas à saúde do professor. Se na década passada eram mais frequentes, como mostraram algumas matérias de Educação ao longo destes 20 anos (vide Professor sob pressão, março de 2007, e Alerta para a saúde docente, dezembro de 2008, reportagens de capa da publicação), parecem ter escasseado nos últimos anos.
Matéria de capa de Educação em dezembro de 2008: olhar para as principais causas de afastamento dos docentes do trabalho
Uma daquelas que se destacam nesse universo foi publicada em 2015 pelas professoras Amanda Aparecida Macaia e Frida Fisher, ambas da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. “Retorno ao trabalho de professores após afastamentos por transtornos mentais” é um levantamento qualitativo, feito por meio de grupos focais, com 20 professores (17 mulheres) ativos e em readaptação funcional, todos do ensino fundamental.
No trabalho, as autoras abordam a dificuldade que esses profissionais têm para voltar do afastamento, o que decorre de alguns fatores, entre eles a inação da gestão para criar novo ambiente de trabalho junto ao corpo docente e a outros atores do ambiente escolar.
As autoras salientam ainda que esse professor é discriminado pelo fato de o transtorno psíquico ser “invisível”, ao contrário da doença que afeta diretamente o corpo (cordas vocais, coluna etc.). Com isso, há desconfiança de que estejam efetivamente doentes.
“Há descrença de que os TMC sejam problemas que necessitem de afastamento, embora tenha havido um consenso entre os professores de que o contexto educacional atual esteja relacionado ao adoecimento mental”, escrevem. E, para aqueles readaptados, é preciso ainda encontrar um sentido novo para o trabalho, diferente daquele das rotinas do docente na ativa.