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Ensino Superior

Mesmo enfrentando obstáculos, alunos e professores conseguem inovar

Escassez de investimento, falta de tradição e burocracia de sobra dificultam o surgimento de novos produtos e serviços na academia. Apesar disso, alunos, instituições e professores mantêm o foco e celebram cases de sucesso

Publicado em 08/05/2017

por Ensino Superior

Com o apoio da Nasa, aluno do Belas Artes projeta habitação em Marte. Invento também poderia ser implantado em regiões inóspitas, como mostra a projeção

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Por Ana Carolina F. Nunes
Campo fértil para a inovação. Ou pelo menos assim deveriam ser os campi universitários, que reúnem no mesmo ambiente mentes jovens e experientes, laboratórios, bibliotecas e muita troca de informação. A questão é como fazer para que trabalhos e pesquisas acadêmicas cruzem os portões e cheguem ao setor produtivo. O caminho é longo e custoso, o que faz com que a academia se limite muitas vezes a produzir patentes – ou nem isso.
O trampolim para que uma patente ultrapasse o limite da invenção para a inovação é historicamente formado por dois eixos: estímulo e investimento, ambos insuficientes no Brasil. A presença do país na 100ª posição (de 139) no pilar ‘Inovação’ do mais recente relatório global de competitividade do Fórum Econômico Mundial é um reflexo dessa insuficiência. Não por acaso, o Brasil responde por apenas 0,2% da produção de patentes no mundo, enquanto os Estados Unidos detêm uma fatia de 30% desse bolo, aproximadamente.
Fazer pesquisa ainda é caro. Além de infraestrutura, a iniciativa demanda o envolvimento de pesquisadores com títulos de mestres e doutores. O governo ainda é o principal financiador, via agências de fomento. O corte recente de 44% no orçamento dedicado ao setor representa, portanto, mais um revés no histórico do investimento científico brasileiro.
“É uma questão cultural o fato de o Brasil não fazer nada em longo prazo, mas a própria natureza da pesquisa é ser de médio e longo prazo. Claro que podemos inovar por meio de outras formas, mas a pesquisa que realmente gera inovações disruptivas é a de longo prazo. E, para piorar, não temos estabilidade no dispêndio com tecnologia, que está sempre oscilando. Não conseguimos manter um padrão de recursos”, pontua Elizabeth Ritter, diretora da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), organização de empresas que busca a integração com os diferentes setores ligados à inovação no país.
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Visão de mercado
Mas se os recursos públicos são escassos, buscar em fonte privada pode ser uma alternativa. Porém, mais uma vez, será preciso transpor outra barreira cultural, que é a parceria academia-empresas. A Lei da Inovação (Lei nº 13.243/2016) foi o primeiro passo para azeitar essa relação, já que deu mais incentivo e segurança legais para ambas as partes. “Até hoje, a academia não foi priorizada na busca por inovação pelas empresas, mas ambas as partes estão vendo que esse é o caminho a ser trilhado”, diz Ana Lúcia Torkomian, diretora do Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec) e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ela acredita que a iniciativa privada tem alterado sua percepção em relação à universidade, porém ainda em ritmo lento e de retorno insuficiente. “No Brasil, temos todo um histórico de separação entre academia e empresa que precisa ser refeito. Tem ocorrido essa mudança de cultura, mas não em volume necessário para reverter o quadro de inovação do país”, ressalta Elizabeth, da Anpei.
E ainda dentro desse cenário, as instituições privadas acabam sendo prejudicadas, já que tradicionalmente as universidades públicas atraem mais recursos. Um termômetro pode ser o Ranking das Universidades Folha (RUF), que traz somente na 16ª posição (no indicador ‘Inovação’) uma instituição particular. A próxima ocupa o 30º lugar. Para o coordenador de pós-graduação da Universidade Positivo, Leandro Henrique de Souza, aqui também há uma perspectiva de mudanças.
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Ele acredita que as próprias instituições privadas estão percebendo o potencial mercadológico do investimento em inovação. “As maiores instituições começam agora a ter uma visão mais de negócio da pesquisa, e os investimentos começam a aparecer. Venda ou liberação de patentes, pesquisas ou patrocínio de laboratório são alguns exemplos. O mercado tem ditado um pouco mais as regras do que vai ser a pesquisa, já que depois é mais fácil transformar isso em produto.”
Nathália dos Reis, coordenadora do setor de regularização de propriedade intelectual da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ratifica o discurso de Souza e acredita que as particulares devem tirar proveito desse movimento. “As empresas têm começado a ver essa relação com mais relevância até mesmo dentro de sua estratégia de negócios”, declara.
A Lei foi fundamental também para a criação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), a princípio obrigatórios apenas nas instituições públicas, mas adotados por muitas IES privadas. Eles são essenciais para contornar outro entrave à inovação universitária: o trabalhoso e burocrático processo da patente.
Os Núcleos otimizam as exigências formais, que são pautadas por questões jurídicas e institucionais (e são muitas), direcionando os esforços burocráticos que muitas vezes eram abandonados no meio do processo – seja por custo, por tempo ou até mesmo por falta de incentivo da própria instituição de ensino.
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Eles orientam os processos de proteção de propriedade intelectual, acompanham a morosidade do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi) no registro de patentes, coordenam as incubadoras e resolvem obstáculos relativos à transferência de tecnologia para uso comercial da inovação. “É um departamento que, além de fazer a gestão mais eficiente das pesquisas feitas na universidade, pode promover cursos, ter novas ideias ou buscar formas de viabilizar parcerias”, afirma Nathália.
Em sala de aula, muita coisa ainda precisa ser feita também. Na graduação, grande parte das inovações propostas são frutos dos trabalhos de conclusão de curso, os TCCs. Falta, na opinião de especialistas, uma variedade maior de iniciativas para despertar nos alunos o desejo de criar novos produtos e serviços. O Congresso Nacional de Iniciação Científica (Conic), realizado pelo Semesp e que em 2016 completou 16 edições (leia mais acima), é um exemplo de ação nesse sentido. Um dos casos tratados a seguir, aliás, ganhou destaque justamente no evento.

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