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Educadores indicam propostas para superar um dos maiores entraves da profissão
Há algum tempo, especialistas na área de Recursos Humanos afirmam que os professores precisam transformar sua postura em relação à profissão e apontam para a necessidade de mudança na visão de desenvolvimento profissional. Mas quanto o desenvolvimento profissional depende apenas de um planejamento pessoal? Como superar o contexto de uma cultura de desqualificação do trabalho docente e a baixa qualidade dos cursos de formação continuada, apontada por estudos recentes?
Para a socióloga Gisela Wajskop, professora visitante da Universidade de Toronto, no Canadá, há muito ainda a ser feito. “No Brasil, infelizmente, a docência é mais uma ocupação do que uma profissão”, critica. Segundo ela, entre as características que justificam sua análise, estão a falta de um perfil profissional definido e aceito nacionalmente, a não integração entre universidade e escolas onde se exercem estágios, a falta de residência pedagógica, os baixos salários e a falta de indicadores de competência nas carreiras.
Os mitos em torno dessa prática profissional começam pela ideia de que ser docente é uma profissão cujo valor social está acima de qualquer recompensa. “Isso é uma forma de desvalorizar a carreira. Trata-se de uma profissão que merece ser tratada enquanto tal, com condições dignas, bons salários, plano de desenvolvimento”, diz Roberto Leão, presidente da Confederação dos Trabalhadores em Educação (CNTE).
Para Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, a valorização da carreira estimularia o professor a enxergar a própria formação de outro modo. “Infelizmente, o que se verifica na prática é a ausência de um plano de carreira estruturado para o seu desenvolvimento profissional, diferentemente do que ocorre, por exemplo, com os professores das universidades públicas que, se não ganham tão bem, têm possibilidades concretas de evoluir ao longo da vida, de um mestrado a um pós-doutorado; isso dá motivação e percepção de um futuro promissor. Precisamos fazer o mesmo para o professor da Educação Básica, seja ele da rede pública ou particular”, diz.
Quais seriam, portanto, as ações sistêmicas necessárias para alterar esse cenário? Na visão de Gisela, um dos caminhos seria criar certificações das próprias associações de classe, nos moldes do CRM e da OAB. “Sem nada disso, fica muito difícil para um professor, no Brasil, ir atrás de sua própria formação, como acontece no Canadá”, diz Gisela, defendendo que a valorização depende também da própria atratividade da carreira. Segundo conta a professora, no Canadá, um professor formado nas melhores universidades leva cinco anos para conseguir lecionar na rede pública, à espera de vagas. “Os professores só fazem concursos para vagas existentes”, diz.
Como isso não ocorre no Brasil, também não haveria estímulo para o que professor invista na própria carreira. Para ela, o concurso nacional seria um bom começo para as mudanças. Em 2011, o Ministério da Educação finalizou a matriz de conteúdos da Prova Nacional de Concurso para o Ingresso na Carreira Docente, mas até hoje a proposta não saiu do papel. “Se invertêssemos o modo como a profissão é vista, haveria gente mais animada e implicada com paixão na docência, e a pressão por melhores salários e condições seria facilitada. Ser professor é uma das carreiras mais estimulantes, a meu ver, para quem gosta de ser desafiado”, considera.