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Autor

Deborah Ouchana

Publicado em 14/11/2014

No interior do Espírito Santo, crianças desenham pela primeira vez com giz de cera

Vencedora do concurso Meu Trabalho Transforma proporcionou a crianças da zona rural o primeiro contato com o universo do desenho

“Meus alunos da zona rural ganharam, cada um, uma caixa de giz de cera. Pintaram pela primeira vez. Já são artistas. Da vida!” – Euza Gonçalves

Mantenópolis é um pequeno município localizado no norte do Espírito Santo que tem como base de sua economia o cultivo de café. Famílias inteiras trabalham na roça e buscam na colheita do grão o sustento de seu dia a dia – até mesmo as crianças, que são obrigadas a acompanhar os pais pela falta de um lugar apropriado para elas passarem o dia realizando atividades relacionadas à infância.

Na Escola Municipal Anedina Bretas, porém, um grupo de professores e voluntários tenta reverter essa situação e resgatar as crianças do trabalho infantil. Euza Gonçalves, vencedora do concurso Meu Trabalho Transforma, é uma dessas pessoas. Vinda de uma família de educadores, Euza lecionou por sete anos e há um ano mudou de carreira para trabalhar na área da saúde. No entanto, não conseguiu deixar a educação de lado e continua trabalhando como voluntária da escola rural. Para impedir que as crianças tenham que trabalhar com os pais no período da tarde, ela organiza atividades extracurriculares no contraturno com recursos do próprio bolso.

“É uma escola bem fragilizada, localizada em uma região muito pobre. As crianças mal têm acesso ao material escolar, às vezes elas usam o caderno do ano anterior”, conta a educadora. No mês das crianças, Euza aproveitou lembrancinhas e brinquedos que sobraram do trabalho de sua irmã com festas infantis e levou uma caixa de giz de cera para cada uma das 15 crianças, de 7 a 11 anos, que frequentam a escola.

O que a princípio parecia ser uma atividade simples se tornou um evento marcante para as crianças, que nunca tinham desenhado com giz de cera. “Elas ficaram tão emocionadas e deslumbradas, que não sabiam por onde começar. Mostravam as cores um para o outro e iam aos poucos conhecendo o mundo do desenho”, relata Euza.

A professora deixou os alunos livres para desenharem o que quisessem. No começo, os meninos e meninas apenas rabiscavam com o giz sobre a folha, mas depois de um tempo, com o estímulo dos professores, começaram a tentar dar forma aos desenhos, como flores, árvores e pessoas. “Nós achamos que essa situação de pobreza extrema está muito longe de nós, mas quando começamos a nos envolver percebemos que está muito perto. Essas crianças não têm contato com crianças de outras realidades, então elas nem podem querer fazer algo diferente”, aponta.

Mostrar aos alunos a porta de entrada para um novo mundo é, na opinião da educadora, uma das capacidades do professor. Ela pontua ainda que a situação em que uma pessoa nasce não determina o seu destino. “A educação transforma e qualquer aprendizado é bem-vindo. O desenvolvimento cognitivo a interação social, tudo isso desperta nas crianças a vontade de aprender coisas novas, de conhecer coisas que elas nem imaginam”, observa. “Nós as estimulamos e elas estão cada vez mais abertas para absorver o que temos a ensinar. Não conheço um impulsionador melhor do que a vontade de aprender.”


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