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Reserva cheia

A despeito da crise no abastecimento, instituições dão o exemplo e mostram que é possível cortar o consumo de água potável pela metade sem prejudicar os usuários Por José Eduardo Coutelle Melhorar a gestão dos recursos hídricos é uma tendência irrevogável e que vem se […]

Publicado em 25/09/2014

por Ensino Superior

A despeito da crise no abastecimento, instituições dão o exemplo e mostram que é possível cortar o consumo de água potável pela metade sem prejudicar os usuários
Por José Eduardo Coutelle
Melhorar a gestão dos recursos hídricos é uma tendência irrevogável e que vem se tornando ao longo dos anos cada vez mais importante para o desenvolvimento sustentável das cidades. O desabastecimento das reservas prejudica hoje a população de parte da região metropolitana de São Paulo, que vive uma das maiores crises de água da história recente. Até o dia 19 de agosto os reservatórios do Sistema Cantareira minguavam 12,7% de sua capacidade e o Alto Tietê 17,8%. Com previsões pouco animadoras, dia após dia os mananciais estão mais secos e a expectativa é que a escassez siga até o período de chuvas, que normalmente ocorre no verão.
Para minimizar esse impacto, a redução dos desperdícios é fundamental, mas despender ações para otimizar o consumo de água é algo que pode ser feito por todos. No caso de instituições de ensino superior, além de um ambiente propício para fomentar pesquisas sobre formas racionais de uso, uma série de ações implantadas já resultam em economia.
Consumo sob controle
Uma das pioneiras a reduzir drasticamente o consumo de água tarifada, a Universidade de São Paulo (USP), desde 1995, opera na Cidade Universitária o Programa de Uso Racional da Água (Pura), criado por meio de uma parceria entre o Instituto de Pesquisas Tecnológicas e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A contrapartida para a participação no programa renderia à universidade um abono de 25% na tarifa mensal, com a condição de ser paga sempre em dia. Com a implantação do programa, após 16 anos a USP conseguiu reduzir 41% de seu consumo anual. Para se ter uma ideia da economia, a água não gasta poderia abastecer uma cidade de porte médio por um mês.
Um dos responsáveis pelo andamento do projeto, o engenheiro civil Humberto Oyamada Tamaki, explica que além de reduzir o consumo como uma medida paliativa, a proposta era mantê-lo estável. Para isso, foram necessárias diversas ações continuadas, sendo uma das primeiras a criação de comissões em todas as unidades do campus, formadas por um professor, um assistente administrativo e um funcionário de manutenção. O objetivo era abrir um canal de comunicação rápido e eficiente para detectar falhas no gerenciamento da água. A implantação do Pura foi dividida em cinco etapas (veja infográfico na página ao lado), mas ações de conscientização e o acompanhamento dos resultados seguem sendo realizados pela universidade.
Este, inclusive é um dos principais fatores do sucesso do programa, repetidamente reiterado pelo engenheiro Tamaki: a vigilância contínua. Mesmo com uma equipe pequena – dois engenheiros, um técnico e um coordenador – o Pura-USP consegue rapidamente identificar focos de desperdício e solicitar o seu reparo. Um sistema informatizado fornece em tempo real o consumo de água das 129 ligações tarifadas e de mais outras 77 ligações de uso exclusivo da universidade para comparar com a sua média mensal. Quando é percebida uma diferença significativa, os engenheiros buscam identificar a sua origem, para em seguida ser reparada. Somente no período entre agosto de 2001 e dezembro de 2013 foram eliminados 395 vazamentos na Cidade Universitária.
Ação integrada
Na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), na região metropolitana de Porto Alegre, as ações para o uso sustentável dos recursos naturais são parte de uma preocupação maior com o meio ambiente. A universidade é a única no Brasil a possuir o certificado ISO 14001, que define normas para operar um Sistema de Gestão Ambiental (veja quadro na página 45). E, com o foco na eliminação de desperdícios, foi possível reduzir pela metade o consumo de água tarifada entre 2006 e 2013, passando de 180,5 mil litros cúbicos para 92 mil litros cúbicos no ano passado.
A coordenadora do departamento de Gestão Ambiental, Luciana Gomes, explica que para chegar a esses números diversas ações foram realizadas. Toda água utilizada na jardinagem, limpeza de calçadas e fachadas é retirada por bombas de um sistema de lagos – abastecidos pela chuva – localizado dentro do campus. A maioria das torneiras foi substituída pelas de fechamento automático e foi implantado um sistema controlador de vazão, que aumenta a pressão da água. Além disso, há cinco anos vem sendo realizado periodicamente um plano de manutenção em toda a rede de abastecimento para evitar e corrigir possíveis vazamentos. A universidade ainda conta com uma Estação de Tratamento de Esgoto, que trata toda a água utilizada no campus para em seguida ser devolvida limpa à rede pública da cidade.
Outro projeto com medidas de economia de água foi desenvolvido na Universidade de Caxias do Sul (UCS), na Serra Gaúcha. Em todos os banheiros masculinos foi implantado um sistema em que a pia é interligada ao mictório. Desta forma, a água com sabão utilizada para lavagem das mãos escoa pela calha e tem a dupla função de descarga. Além disso, os vasos sanitários foram substituídos pelos com caixas econômicas e as torneiras pelas com temporizadores.
A UCS também conta com uma Estação de Tratamento de Esgoto, possibilitando que a água tratada seja utilizada para a irrigação dos jardins. A diretora do Instituto de Saneamento Ambiental da universidade, Vânia Elisabete Schneider, explica que os efluentes são armazenados em um tanque e utilizados principalmente nos períodos de estiagem.
Método de captação
Além de desenvolver formas de consumo racional da água encanada, métodos de captação e armazenagem de água da chuva também estão entre as soluções encontradas para preservar os recursos hídricos. Foi com esse objetivo sustentável que a Universidade Presbiteriana Mackenzie construiu seu campus de Campinas, inaugurado em 2010. Os quase 25 mil metros quadrados de área foram edificados privilegiando a harmonia com o meio ambiente. O encarregado de Manutenção e Obras, Izaias Gomes Cardoso, conta que a água utilizada para jardinagem e lavagem das calçadas, rampas e escadas provém da chuva.
Toda a água recebida pela cobertura dos prédios é direcionada para um sistema de calhas e tubulações. Apesar de não ser indicada ao consumo humano, a água da chuva pode ser utilizada para fins menos nobres.
O encarregado conta que com dois anos de utilização do sistema, a economia já paga o custo das obras. O excedente de água, quando há, segue para outro reservatório, com capacidade de 24 metros cúbicos. O objetivo não é o consumo, mas sim a armazenagem e a liberação na rede pública após os períodos das chuvas, reduzindo assim a possibilidade de inundações.
Tese aplicável
A captação de água da chuva foi tema de um dos trabalhos desenvolvidos na tese de doutoramento em Engenharia Hidráulica de Ricardo Camilo Galavoti, pela USP São Carlos. O experimento realizado, entre março e abril de 2009, foi semelhante ao sistema implantado pela Mackenzie, porém foi utilizado em um lote residencial. As análises químicas permitiram o uso seguro da água para descargas de bacias sanitárias, lavagens de pisos, roupas e veículos, irrigação de jardins e para fins ornamentais, como chafarizes e espelhos d’água.
Galavoti explica que o sistema é aplicável às instalações de instituições de ensino. Além de ser barato, praticamente não necessita de manutenção. Entretanto, é importante, diz ele, realizar um estudo hidrológico para dimensionar o volume ideal do reservatório. No caso do objeto de estudo, apenas 14% da água do tanque de seis mil litros foi utilizada.
A implantação desse sistema nas metrópoles é ainda mais indicada devido ao custo superior da água tarifada. E um dos meios de promover e incentivar esta e outras formas da captação e reutilização de água é através de um incentivo fiscal, como o chamado IPTU Hidrológico. “Teríamos economias potenciais de 30% a 50% somente com ações de uso racional de água. Mas precisamos fazer pesquisas para comparar esses números”, afirma o especialista em Engenharia Hídrica e professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Mackenzie, Antonio Eduardo Giansante. Para ele, as universidades têm dois papéis importantes: desenvolver pesquisas específicas e colocar em prática ações concretas para redução do consumo e para o aumento da infiltração de água no solo.
A utilização de cisternas ou piscininhas abastecidas pela chuva, segundo ele, deveria ser mais explorada. Além da utilização da água para usos menos nobres, seriam importantes para recarregar os aquíferos das cidades e evitar enchentes. O professor reitera ainda a necessidade da criação de uma política mais firme neste sentido, como a mencionada por Galavoti, que ofereça descontos no IPTU para as edificações que adotarem medidas que amorteçam o escoamento superficial através das piscininhas.
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Gestão certificada
O ISO 14001 é um certificado que orienta a implantação do Sistema de Gestão Ambiental auditado pelo Inmetro. No Brasil, existem 174 unidades de negócio – que podem ser mais de uma por empresa – contempladas com selo. No ramo da educação superior, apenas o campus de São Leopoldo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) possui o ISO. Para obter a certificação, a instituição deve apresentar um projeto, que inclui questões como adequação do espaço físico à natureza, comprometimento com a melhoria contínua e com a prevenção da poluição, estabelecimento de objetivos e metas ambientais, entre outros.

 

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