É preciso que as trocas afetivas e o desenvolvimento intelectual caminhem juntos, defendem autoras
Certamente é possível diminuir a violência na escola, como muitas pesquisas sobre intervenções internacionais já demonstraram, mas não se trata de uma tarefa fácil. Ao contrário, professor, tal tarefa começa com o mais difícil, isto é, perceber que o problema é de todos e que nossa atuação sempre será limitada, mas apesar disso, devemos perguntar: O que ainda não tentei? O que posso fazer melhor? Esse início é a primeira e mais importante etapa, pois, sem essa, culpamos a todos os outros, mas não ganhamos o poder de ir adiante, de descobrir, de aprender e de tentar. O livro É possível superar a violência na escola? de Tognetta e Vinha (2012) é um material a ser desfrutado por aqueles que acreditam que podem fazer a diferença, que querem refletir sobre o problema das más relações interpessoais na escola, que querem estratégias para resolver o problema.
Você irá perceber que esse livro não traz soluções mágicas enganosas, tampouco é sensacionalista, como tantos outros divulgados pela mídia sobre “as mentes perigosas”, que realmente são gostosos de ler, quase livros de ficção, mas que simplificam o problema entre os bons versus os maus e pouco informam sobre como minimizá-lo. Notará, também, que neste livro o dilema entre preocupar-se em ensinar habilidades acadêmicas ou habilidades de convivência sociais e princípios morais é superado, uma vez que a obra fornecesse argumentos de que, para ensinar habilidades acadêmicas, deve haver um ambiente de cooperação e trocas afetivas. E que o desenvolvimento intelectual e moral devem caminhar lado a lado.
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O livro destaca de forma brilhante assuntos comumente negligenciados em reuniões de planejamento semanal e em cursos de formação de professores: a importância de oportunizar a construção de amizades em contexto escolar; a necessidade de desenvolver maneiras de os alunos entrarem em contato com as consequências negativas das suas próprias ações, ao invés de receberem punições arbitrárias; a preferência por regras que sejam construídas pelos alunos, aumentando a chance de que as sigam, e a relevância de englobar a comunidade e a família na gestão escolar. Contudo, é importante que o leitor busque também outras referências teóricas sobre os tópicos abordados no livro: é importante valorizar os comportamentos adequados dos alunos? Quais seriam as maneiras corretas e incorretas de ocorrer tal valorização? Diversas pesquisas no campo da análise do comportamento apontam que quando se quer desenvolver um comportamento novo, valorizações constantes, quase que imediatas aos comportamentos e fáceis de serem percebidas, são necessárias (como elogiar, dar atenção ao aluno), já quando o comportamento está instalado é mais fácil que esse se mantenha pelas consequências produzidas pelo seu próprio responder.
Por fim, este livro pode servir como uma ótima referência ao tema da violência escolar, porém ainda se percebe na literatura brasileira carência de materiais descrevendo intervenções sistemáticas à violência escolar, as quais produziram resultados benéficos comprovados cientificamente. Somente com dados de pesquisa, com comparações entre índices qualitativos e quantitativos anteriores e posteriores às intervenções, se terá certeza de que não apenas é possível superar a violência na escola, mas o quanto cada intervenção supera e, exatamente, como supera.
Ana Carina Stelko-Pereira é doutora em psicologia pela Universidade Federal de São Carlos