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Poesia, humor e aprendizado

Conhecida como clerihew, forma poética que traça breves biografias jocosas pode ser adaptada e atualizada para o universo escolar

Publicado em 30/04/2012

por Gabriel Perissé

Poesia, humor e aprendizado

Corbis (RF) / Latinstock

O escritor e jornalista inglês Edmund Clerihew Bentley (1875-1956), para exercitar a concisão e o senso de humor, costumava escrever biografias poéticas com apenas quatro versos. As rimas divertidas e o modo jocoso de apresentar o biografado são características destas quadras, que, em homenagem ao autor pela originalidade, passaram a ser chamadas clerihews.
Para criar um clerihew é preciso pesquisar e descobrir na vida de uma pessoa traços reveladores, características chamativas, algum aspecto a ser destacado… ou deformado. A exemplo do que faz um caricaturista, no desenho, Clerihew captava, com poucas palavras, o perfil interior de um personagem histórico, de um político, um literato, um cientista etc. Por exemplo, nesta quadra sobre o músico Franz Liszt:
O abade Liszt,
Apaixonado pianista,
Dava nas teclas cada soco!
Era este seu estilo nada barroco.

Que paixões alimentariam Liszt, compositor romântico, um dos maiores pianistas da história? A quadra humorística pode nos despertar o interesse por ouvir suas rapsódias, conhecer sua vida com mais amplitude. Por que, brincando (ou falando a sério), Clerihew afirma que Liszt socava as teclas? Em uma outra quadra, o biografado é Karl Marx:
Karl Marx
Amava os tubarões em alto-mar.
As pobres criaturas sentiam saudade
Quando ele ia atacar o capitalismo na cidade.

O nonsense do humor não é necessariamente falta absoluta de sentido. Mais do que ler, temos de interpretar. Os “tubarões” são metafóricos. Conhecer melhor a vida de Marx e a história do capitalismo poderá nos ajudar a decifrar o enigma. Uma das quadras mais famosas de Clerihew brinca com a rivalidade literária entre dois países:
Os espanhóis dizem que Cervantes
Vale mais do que oitenta Dantes.
Já para os italianos, nem milhares
De Cervantes chegam a valer um só Alighieri.

Comparar dois clássicos da literatura ocidental não é trabalho para uma simples quadra. Essa comparação, aparentemente leviana, bem analisada porém, pode estimular nossa curiosidade. Que pontos em comum haverá entre a trajetória literária de Cervantes e a de Dante, não obstante as grandes diferenças de contexto cultural e histórico? O que haveria de dantesco nas aventuras de Quixote? Algo de quixotesco haveria na Divina Comédia? E se não encontrarmos nenhum ponto de contato entre os dois autores, não fará sentido compará-los!
Outra quadra muito simples (mas provocativa), sobre Francisco Pizarro, parece uma epígrafe ao estudo mais aprofundado e pode gerar debates em sala de aula sobre a história da América Latina:
O modo de pensar de Pizarro
Era no mínimo bastante bizarro.
Matou muitos caciques peruanos
Apenas porque não acataram os seus planos.

Você também pode escrever clerihews
Nada de errado num aprendizado divertido e poético! As brevíssimas biografias (de seres reais ou imaginários) no estilo de Clerihew devem ser imitadas, adaptadas, atualizadas. Os clerihews em ambientação brasileira vão falar de Lula e Dilma, Roberto Carlos e Paulo Coelho, Riobaldo e Capitu. Ultrapassando o campo das biografias, como o fazem muitos praticantes desse formato mundo afora, diferentes temas com intenções variadas serão abordados. Surgirão clerihews sobre o cotidiano, sobre assuntos polêmicos, sobre questões que interessam a diferentes disciplinas escolares, ou, o que é mais interessante em termos didáticos, sobre questões e assuntos que habitam a mente dos alunos.
Basta seguir quatro regras, que correspondem às quatro partes que definem um clerihew:
1. Um clerihew é composto de quatro versos, que falam sobre uma pessoa ou várias, cujo nome deverá aparecer no fim da primeira linha, ou da segunda em menor número de casos. O segundo verso rima com o primeiro.
2. O terceiro verso rima com o quarto.
3. O humor deve ter um toque de extravagância, gerando estranheza.
4. Não há necessidade de rigor métrico. O poema soa até mais engraçado se os versos adotarem tom prosaico.
Tentemos um clerihew sobre Paulo Freire:
Estava Paulo Freire
Trabalhando em seu alqueire,
Quando viu a educação bancária
Cobrando altos juros da classe operária.

Clerihews na escola
O primeiro clerihew que Clerihew compôs, antes mesmo de saber que esta forma poética ganharia o seu nome, foi sobre o cientista inglês Humphry Davy. A aula de química inspirou o futuro escritor, naquela altura com 16 anos de idade:
Sir Humphry Davy
Não teve uma vida leve.
Porque viveu cheio de ódio
Acabou descobrindo o sódio.

Está aí uma possibilidade de trabalho, em que alunos e professores de todas as matérias vão exercitar seus pendores literários e se divertir um pouco. Nos livros e apostilas de história e filosofia, de biologia, geografia, matemática e física, sobram informações e temas inspiradores.
Para comprovar que a proposta é viável, ofereço um clerihew de minha autoria, ilustrando o tema deste artigo:
Se você leu um bom clerihew
Certamente gostou e riu.
Quem acha a ciência engraçada
É porque tem a inteligência aguçada.

Autor

Gabriel Perissé


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