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José Pacheco

Educador e escritor, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves (Portugal)

Publicado em 20/05/2025

Um currículo tridimensional para exercer a mudança

São várias as concepções de currículo, sendo ele também o conjunto de experiências, vivências, procedimentos, opções metodológicas, modos de avaliação e muito mais

Viamão, 30 de janeiro de 2045 | Quase a completar 95 viagens à volta do sol, considero necessário reavivar memórias, que poderão ajudar a compreender como se chegou à Idade da Educação. Os futurólogos sempre apontaram a década de 40 como a inaugural de uma nova educação, e de um novo currículo, por mim proposto em 2025. E a referência mais remota ao termo ‘currículo’ remonta ao século 17.

São várias as concepções de currículo, associadas a diferentes formas de se conceber a educação. Tradicionalmente, currículo é a seleção cultural de determinados conhecimentos e práticas. Mas não é só isso. É também o conjunto de experiências, vivências, procedimentos, opções metodológicas, modos de avaliação, etc. etc.

Currículo é, pois, um conceito de vasto espectro semântico, de difícil unanimidade. Kelly, Goodlad, Gimeno Sacristán e muitos outros autores diferem na sua definição. Deparei com dezenas de definições, que são reflexo da época e do contexto sociopolítico em que foram produzidas, ou da corrente pedagógica e teoria da aprendizagem em que estão filiadas.

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Perante este fato, remeto para a leitura das obras de diferentes teóricos, eximindo-me a reproduzi-las, dado que presumo que o leitor não seja analfabeto e porque tudo se encontra disponível na internet. Apenas lhes acrescento algumas despretensiosas considerações, numa prosa acessível ao comum dos mortais (incluídos os especialistas, mais ou menos, especializados em currículo).

Na Finlândia, o processo de reforma do currículo envolveu todos os educadores do país. Como declarou a ministra da Educação finlandesa: 

“Para que o novo modelo seja bem-sucedido, os professores nas nossas escolas têm muita liberdade. E uma mudança curricular não poderia ser diferente. Não dizemos aos professores quais materiais devem usar, como ensinar. Eles têm de ter liberdade, porque são eles que sabem o que funciona melhor com cada aluno”.

E acrescentou:

“Além de o currículo focar nos projetos interdisciplinares, ele também avança no maior uso de ferramentas digitais em sala de aula. E esse processo de digitalização não significa apenas colocar um computador em sala de aula, mas usar essas ferramentas tecnológicas para aumentar e melhorar o processo de aprendizado”.

No Brasil, abriu-se uma consulta pública de um documento previamente elaborado. Colhidas milhares de sugestões de alteração — quase todas fundadas no senso comum — e de 27 mil pedidos de inclusão de novos objetivos, uma BNCC cativa do velho modelo escolar foi promulgada.

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Os discípulos de um velho e esclerosado modelo educacional perdiam-se em tentativas de reforma reformadas no chão das escolas. A obsessão uniformizadora e seletiva da escola vinha sendo questionada por muitos ‘especialistas’, teoricistas instalados em torres de marfim que induziam os políticos a acrescentar camadas de tinta nova em velhos palimpsestos, nos quais os registos primitivos não se apagaram. Até mesmo a euforia da introdução das novas tecnologias de informação e comunicação nas escolas concorreu para a sedimentação de velhas práticas.

Em 2025, se começou a demolir essa descomunal farsa — e um currículo tridimensional fertilizou práticas de mudança, para que a expressão ‘insucesso escolar’ não se constituísse em paradoxo.

Sabemos que o caos precede a mudança. O Brasil passava por um período de profunda inversão de valores. Mas, a ‘crise’ — o ‘projeto’ a que Darcy se referiu — era, também, geradora de oportunidades.

E fazíamos a nós mesmos esta pergunta:

Para refundar a educação, não teríamos de repensar a escola?

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Currículo é, pois, um conceito de vasto espectro semântico, de difícil unanimidade (Foto: Shutterstock)

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