Professor de matemática, especialista em negócios educacionais. Diretor-geral da FTD Educação, vice-presidente da Abrelivros e cofundador da Abraspe
Publicado em 14/05/2025
Durante a Bett Brasil 2025, especialistas discutiram o papel transformador da IA na educação e quais os seus desafios, oportunidades e avanços concretos no ensino público e privado
A inteligência artificial (IA) já é uma realidade concreta na vida das pessoas. Nos últimos anos, ela tem transformado modelos de negócio, reestruturado formas de trabalho e, cada vez mais, conquistado espaço também no ambiente escolar. No campo da educação, é urgente superar o debate sobre sua pertinência — a pergunta já não é mais ‘se’ devemos usar IA, mas ‘como’ usá-la de maneira ética, responsável e pedagógica.
Essa foi uma das grandes pautas da Bett Brasil 2025, maior evento de inovação e tecnologia para a educação na América Latina, que reuniu educadores, gestores, especialistas e empresas do setor. Durante o evento, um dos momentos mais relevantes foi a divulgação de uma pesquisa inédita do Instituto Significare em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que ouviu 346 professores de todos os estados brasileiros.
FTD apresenta recurso com inteligência artificial que corrigi redações manuscritas em escolas públicas — Foto: Shutterstock
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A escola entre permanências e transformações
Errar, aprender, recomeçar: ajustes de rota para futuros mais plurais
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O levantamento revelou que mais de 80% dos docentes reconhecem os benefícios da IA no ensino, sobretudo no planejamento de aulas e na produção de conteúdos mais dinâmicos e interativos. E mais de 60% já utilizam ferramentas generativas de IA para obter ideias, elaborar planos de aula e desenvolver materiais.
Apesar disso, a pesquisa também aponta desafios importantes: apenas 14,3% dos educadores afirmam utilizar a IA na produção efetiva de materiais didáticos. Entre os entraves mais citados estão a falta de tempo, escassez de equipamentos, conectividade limitada e ausência de formação continuada. Isso mostra que, para transformar o potencial da IA em resultados concretos, será necessário formar os professores, ampliar o acesso e garantir o suporte técnico necessário.
Participei de uma palestra no Fórum de Gestores da Bett debatendo, justamente, o papel dos materiais didáticos como ferramentas de transformação na educação básica. O conteúdo educacional precisa dialogar com os desafios contemporâneos, estimular o pensamento crítico, apoiar o desenvolvimento socioemocional e, sobretudo, aproveitar os recursos tecnológicos de forma integrada.
A IA pode — e deve — ser uma aliada neste processo, automatizando tarefas repetitivas e liberando tempo dos educadores para aquilo que é essencial: o vínculo humano com os estudantes e a mediação da aprendizagem.
Mais do que uma solução tecnológica, iniciativa da FTD visa equidade e impacto social — Foto: Shutterstock
No cenário internacional, países como Estados Unidos e China já oficializaram políticas educacionais que colocam o ensino de inteligência artificial no centro de aprendizagem das escolas. Essa decisão estratégica não apenas prepara as novas gerações para o mundo do trabalho, mas também estimula o pensamento computacional, a resolução de problemas e o protagonismo juvenil.
No Brasil, estamos diante de uma oportunidade única de avançar nessa agenda com responsabilidade. Na FTD Educação, por exemplo, temos investido constantemente em inovação com propósito. Um exemplo concreto é o desenvolvimento de uma tecnologia pioneira para correção automatizada de redações manuscritas, em parceria com a edtech Pontue e o Google Cloud, já em uso em escolas públicas de 38 municípios em sete estados brasileiros. Por meio de visão computacional e machine learning, o sistema analisa os textos dos estudantes, gera feedbacks individualizados, apoia a prática docente e — a partir do segundo semestre — contará com detecção de plágio.
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Inteligência artificial na educação é promissora, mas traz desafios
Clima organizacional como base para a convivência e aprendizagem
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Mais do que uma solução tecnológica, essa iniciativa visa equidade e impacto social. Ao permitir que professores acompanhem de forma mais precisa o progresso de cada aluno, essa ferramenta contribui para reduzir desigualdades educacionais, aumentar a eficiência pedagógica e valorizar o tempo do docente.
É uma maneira concreta de mostrar que a inteligência artificial na sala de aula, quando bem implementada, pode fortalecer — e não substituir — o papel essencial do educador.
Concluo reforçando que a inteligência artificial não deve ser vista como um fim em si mesma, mas como um meio para potencializar o que há de mais humano na educação: o cuidado, a escuta, a personalização da aprendizagem e a construção de conhecimento significativo.
Para isso, é necessário que políticas públicas, instituições educacionais, empresas e toda a sociedade trabalhem juntos na construção de um ecossistema que favoreça inovação com responsabilidade, inclusão digital e formação contínua.
A jornada já começou. E cabe a nós garantirmos que ela siga por caminhos que promovam aprendizagem, equidade e transformação real.
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