NOTÍCIA
Estudo inédito sobre alimentação escolar foi feito por seis universidades públicas brasileiras. Na contramão desses dados, em escolas de SP, como a Lourenço Castanho, a alimentação saudável é integrada ao aprendizado
Nas cantinas de escolas particulares no Brasil, alimentos ultraprocessados são vendidos 50% mais do que os in natura ou minimamente processados. O dado é do estudo Comercialização de alimentos em escolas brasileiras, possivelmente o primeiro sobre o tema, conduzido por pesquisadores de seis universidades públicas, incluindo a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre 2022 e 2024.
Entre os itens mais consumidos, ainda segundo o estudo, o refrigerante lidera, com 61,8%, seguido por salgados assados com recheio ultraprocessado (47,88%), bombons ou chocolates (37,97%) e salgadinhos de pacote (37,48%).
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Para reverter esse quadro, Fábia Antunes, doutora em pedagogia e diretora pedagógica da Escola Lourenço Castanho, ressalta que a escola é um espaço essencial para a introdução de novos hábitos. “É importante ressaltar que a escola é o primeiro espaço social da criança em que ela vai compartilhar e conviver com regras que atendem a todos do grupo.”
Foto: Shutterstock
Diante desse cenário, Fábia destaca que, apesar dos dados preocupantes, cada família tem seus próprios hábitos alimentares, e a escola deve atuar com cuidado nessa questão, já que a alimentação infantil é uma preocupação de saúde pública.
Além da cantina e da orientação às famílias, na Lourenço Castanho, a alimentação é integrada ao aprendizado de inglês durante o English Program, já que o almoço ocorre no horário das aulas. Esse tema é abordado de forma educativa, ajudando os alunos a fazerem boas escolhas ao montar seus pratos e relacionando a alimentação a conteúdos curriculares.
“Um dos nossos projetos, ‘Who Am I’, direciona essa reflexão sobre alimentação saudável, estudando a função dos alimentos no corpo, os food groups e como cada um contribui para o desenvolvimento das pessoas”, explica Érika Leal, coordenadora de inglês do ensino fundamental 1.
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Os alimentos fornecidos na escola são administrados por uma empresa especializada, que prioriza refeições equilibradas, nutritivas, saborosas e seguras. Não são oferecidos doces como sobremesa, apenas frutas frescas. Além disso, evita-se o uso de ultraprocessados, como embutidos, temperos industrializados e frituras.
Além disso, Fábia destaca que a escola adota um caderno de diretrizes, um e-book, que oferece às famílias recomendações sobre lanches, alimentação em festas de aniversário e outros aspectos da nutrição infantil.
“Tem família que prefere mandar lanche para a escola e, com a nossa orientação nutricional, eles conseguem fazer escolhas mais saudáveis. E quando acontece de um aluno levar, por exemplo, uma bolacha recheada, nós entramos em contato, explicamos sobre a estratégia coletiva de alimentação saudável e por isso a relevância dos pais pela escolha de alimentos mais leves”, completa.
A doutora em educação e diretora pedagógica da educação infantil da Unidade Vila Nova Conceição da Lourenço Castanho, Vivian Alboz, destaca que, especialmente na primeira infância, a boa alimentação também envolve diretamente os alunos no processo.
“Diariamente, falamos sobre a importância de montar um prato colorido. Em todos os momentos, mostramos o cardápio que será oferecido e explicamos a importância de escolher alimentos de diferentes grupos alimentares. Vamos envolvendo as crianças nessas dinâmicas que a escola oportuniza. A longo prazo, elas ampliam o paladar e desenvolvem hábitos mais saudáveis. Claro que isso não depende só da escola, precisa se estender para casa, e temos mais casos de sucesso quando a família compartilha dos mesmos princípios”, afirma.
Da mesma visão compartilha Beatriz Pelizzaro, orientadora educacional do 1º e 2° ano do ensino fundamental 1: “A escola tem a responsabilidade de fornecer a melhor alimentação possível, evitando ultraprocessados e incentivando a variedade e a qualidade. Esse cuidado é essencial, pois muitas crianças fazem a maior parte das refeições aqui, e é na escola que elas têm a chance de ampliar o contato com novos alimentos e experimentar o que os colegas e professores estão incentivando a consumir”, conclui.
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