NOTÍCIA
Coordenadores pedagógicos falam da experiência ao inserirem essas temáticas como disciplinas
A preocupação em trabalhar as competências socioemocionais dos estudantes tem ganhado força na educação nos últimos anos — e o tema está presente, inclusive, na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Visando ir além do conteúdo tradicional e em diálogo com as necessidades atuais, as escolas têm buscado alternativas para oferecer aos estudantes o desenvolvimento dessas habilidades. No Colégio da Imaculada Conceição, em Recife, PE, que conta com 900 estudantes, em 2024 foi iniciada uma disciplina de socioemocional, presente da educação infantil ao ensino médio.
Segundo Solange Santos, coordenadora pedagógica do 6º ao 8º ano da instituição, o saldo da experiência tem sido positivo. Os estudantes contam com uma aula de socioemocional por semana, com duração de 50 minutos. A psicóloga do colégio trabalha conjuntamente com a professora responsável pela disciplina, sendo acionada quando necessário.
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Atividades extracurriculares podem ajudar no desenvolvimento de competências socioemocionais
Emoções e autoconhecimento dentro do currículo
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“Há alguns momentos em que a psicóloga escolar entra com a professora na sala e trabalha algumas dinâmicas com os alunos. É um momento em que, inclusive, alguns estudantes até se sentem bem à vontade para trazer questões inerentes à faixa etária, inerentes à questão familiar. Muitas vezes, eles até se emocionam em sala de aula e acabam vindo ou na coordenação ou no setor de psicologia”, conta a coordenadora.
A aceitação das famílias foi boa, segundo Solange. E os alunos, apesar de certa resistência inicial — tanto para encarar o novo quanto para compreender que a disciplina não tem nota —, agora lidam bem com a nova matéria.
A percepção de Solange dialoga com pesquisadores da área que destacam a importância de trabalhar as competências emocionais na escola. Entre as causas, para saber lidar com emoções como medo e ansiedade. “Com esse emocional estando validado, o acadêmico flui com mais positividade”, avalia.
Já no ensino médio, ainda que se use a mesma metodologia, o socioemocional é trabalhado no chamado Projeto de Vida — que se tornou obrigatório com o Novo Ensino Médio —, segundo Luiz Souza, coordenador desta etapa.
Luiz conta que o Projeto de Vida, como é aplicado no ensino médio, tem também a característica de permitir o autoconhecimento e uma preocupação com a orientação profissional, tendo em vista a difícil escolha do vestibular.
Sobre o saldo da experiência com a disciplina de socioemocional, Luiz pondera que não significa que os problemas da escola deixaram de existir, mas destaca resultados positivos para os alunos, como uma maior capacidade de entender o outro. “A gente percebeu um aumento no processo da empatia. Então você consegue identificar quando o outro está bem ou quando o outro não está bem”, afirma. “Eles [alunos] nos procuram, no setor da psicologia, e falam ‘professor, eu acho que aquela menina ali precisaria ser ouvida’. Eles percebem quando o outro está meio fora de sintonia, porque as discussões que eles têm dentro de sala incentivam a percepção do outro.”
Outra aposta do colégio tem sido inserir as finanças no currículo. Segundo o coordenador Luiz Souza, o trabalho com essa temática vem desde 2020, mas, com a nomenclatura Oficina de finanças, o início se deu ano passado. Atualmente, participam os estudantes do 1º ao 9º ano — mas, para o ano que vem, há a previsão da oferta de um itinerário formativo de matemática financeira para o ensino médio.
No fundamental 2, a disciplina é ministrada pelos professores de matemática, com uma aula por semana. Esdras Henrique de Souza e Silva, responsável pela oficina para as turmas de 8º e 9º anos, avalia que a disciplina se faz “muito necessária”. “Os alunos criam uma intimidade com alguns termos, com alguns conteúdos que são específicos dessa área, que são presentes no dia a dia, presentes nas provas dos concursos”, analisa. Esdras conta que há grande interesse por parte dos alunos e que alguns até foram inscritos em olimpíadas de finanças.
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Algoritmo, o personagem do ano
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Já Alexsandro Oliveira da Fonseca, professor de matemática do 6º, 7º e 8º anos e responsável pela oficina de finanças para essas turmas, afirma que o novo modelo “moderniza o que chamávamos, antes, de educação financeira”. Ele pontua que o material utilizado não divide o tema do ano em capítulos, mas em missões.
No 6º ano, por exemplo, os estudantes são convidados a observar, no seu dia a dia, quais atividades envolvem dinheiro. Já o 8º ano conta com o projeto ‘quanto custa ter um pet’ — que, de acordo com Alexsandro, é interessante tanto para quem tem quanto para quem não tem um bichinho de estimação.
Luiz Souza, coordenador do ensino médio, afirma que, hoje em dia, é muito comum que famílias percam não apenas a capacidade de investimento como também a de serem felizes devido à falta de organização financeira. Desta forma, o objetivo ao se trabalhar a disciplina na escola, ele afirma, é também chegar às famílias. “A gente tenta fazer com que os nossos estudantes acabem sendo multiplicadores de conhecimento para os próprios pais. Muitas vezes, são eles que precisam de orientações no que se refere ao uso do dinheiro”, explica.
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