O personagem central que dominou a agenda social em 2024, da política ao meio ambiente, foi um objeto: o algoritmo. No ano que concentrou o maior número de eleições em todo o mundo, não houve influenciador mais debatido, abnegado e influente do que ele.
No meio ambiente, o uso de dados para alimentar os algoritmos de inteligência artificial (IA) iniciou um debate que pode alterar a maneira com a qual lidamos com a geração e consumo de energia; na economia, o algoritmo é a estrela das startups, além de fator determinante na corrida de desenvolvimento das nações. No universo do entretenimento está cada vez mais presente, bem como na mediação da interação entre seres humanos e na relação destes com o mundo que os cerca. E assim povoou, dia após dia, os medos, sonhos e imaginação de boa parte da população.
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A tradicional capa de personalidade do ano da revista Times poderia ceder espaço inédito a um objeto; não seria injusto, tampouco exagerado. Subtraí-lo, por sua vez, do debate educacional dentro e fora das salas de aula é uma irresponsabilidade. Pois é justamente nas políticas públicas de educação que a centralidade humana e as diretrizes éticas encontram a oportunidade perfeita para o desenvolvimento e uso dos algoritmos nos sistemas de inteligência artificial.
Para facilitar essa jornada dos educadores a incorporar o tema em seus planos de aula, desenvolvi uma bula simples de como lidar com esse personagem que não deve abandonar a vida pública pelos próximos séculos:
– O ALGORITMO É UM TERMO MATEMÁTICO MILENAR, de origem persa, muito presente na área das ciências. Seu nome vem do matemático Muhammad al-Khwarizmi. Hoje, o algoritmo também compõe a unidade mínima de qualquer sistema de inteligência artificial. É ele que processa os dados utilizados nessa tecnologia;
– ELE FUNCIONA COMO UMA RECEITA DE BOLO; é uma sequência precisa e finita de funções que o sistema cumpre para, por exemplo, nos entregar um resultado da busca no Google, um texto no ChatGPT, ou uma decisão na automação de um veículo;
– ESTAMOS CERCADOS DE ALGORITMOS POR TODOS OS LADOS, mesmo que não percebamos. Eles estão presentes nas redes sociais, nos aplicativos de banco, nos sistemas de biometria, nos buscadores, nos games e nas plataformas de streaming, por exemplo;
– HÁ VÁRIAS NATUREZAS E TIPOS; os sistemas de IA também têm engenharias múltiplas dependendo da função. Os algoritmos de recomendação, por exemplo, são aqueles que nos sugerem filmes, livros, produtos ou mesmo amizades em nossas interações na internet. Outros, compõem os sistemas de IA generativa que nos possibilita gerar textos, imagens ou vídeos a partir de pedidos (os chamado prompts);
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– ELE FUNCIONA UTILIZANDO UMA ENORME QUANTIDADE DE DADOS, inclusive os gerados por nós, usuários. Por isso, é possível ‘educá-lo’. Em outras palavras, alimentar e treinar o sistema com dados próprios, ou acostumá-los a preferências que gostaríamos que ele nos indicasse, como sites, perfis de livros, estilo de escrita e conteúdo (como no caso das IAs generativas);
– COMO TODA TECNOLOGIA, A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NÃO É NEUTRA. Algoritmos carregam vieses, pois são parte da evolução técnica criada pelo ser humano. Podem ser racistas e discriminatórios, por exemplo. Seus impactos éticos devem ser mitigados com legislação e educação;
– A PRESENÇA DE ALGORITMOS E SISTEMAS DE IA AFETA O UNIVERSO DA EDUCAÇÃO em diversas camadas, entre elas: na gestão, na aprendizagem e na necessidade de uma contrapartida ética que a escola deve proporcionar aos estudantes;
O personagem central que dominou a agenda social em 2024 foi um objeto: o algoritmo (Foto: Freepik)
– NA GESTÃO, OS SISTEMAS DE IA AUXILIAM NA IDENTIFICAÇÃO DE PERFIS DOS ESTUDANTES, com base nos dados de origem e desempenho de aprendizagem, por exemplo. Podem auxiliar os gestores a preparar o ambiente escolar de forma estratégica, criando planos de expansão, otimização de recursos, potencialização de aprendizagem e identificação de necessidades específicas.
– PARA OS EDUCADORES, OS SISTEMAS DE APRENDIZAGEM ADAPTATIVA, que funcionam com algoritmos, podem prover dados importantes sobre o desempenho dos estudantes auxiliando o professor a criar estratégias de ensino. Além disso, os sistemas de IA podem auxiliá-los em processos de automação e precisão na criação de avaliações, correções de tarefas e montagem de aulas;
– OS ESTUDANTES, SOBRETUDO JOVENS E CRIANÇAS, DEVEM ENTENDER OS IMPACTOS ÉTICOS DOS ALGORITMOS e da inteligência artificial, pois estão imersos neles. Por exemplo, será que as crianças sabem que existem algoritmos para reconhecimento facial no TikTok? Ou que empresas podem se utilizar de sistemas de inteligência artificial para vender seus dados para finalidades comerciais? Por isso as práticas de educação midiática devem contemplar o chamado letramento algorítmico. Há oportunidades na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), sobretudo na competência base da cultura digital, para que educadores desenvolvam atividades em sala de aula;
– A BOA NOTÍCIA: HÁ UMA SÉRIE DE MATERIAIS GRATUITOS ONLINE PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES e utilização em sala de aula. Essas práticas podem ser utilizadas nas mais diversas disciplinas e ciclos de aprendizagem. O Ministério da Educação prevê a criação de uma ampla formação aberta e gratuita para 2025 com foco no tema da educação midiática.
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