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Adriana Fóz

É neuropsicóloga, educadora e diretora da NeuroConecte

Publicado em 07/10/2024

O papel de todos no combate ao bullying

Além do acolhimento, as escolas devem reavaliar protocolos de prevenção, detecção de casos de risco e encaminhamentos apropriados

Tem sido cada vez mais frequente — e vai aumentar se não mudarmos nossa forma de agir e pensar — o número de vítimas de agressão nos espaços escolares. Bullying, racismo e outras formas de exclusão e violência são pautas recorrentes nos noticiários de jornais, streamings e redes sociais.

No final do primeiro semestre deste ano foram noticiados casos de racismo em diversas escolas, públicas e particulares. Será que houve condutas adequadas por parte da gestão escolar diante das consequências? Será que as famílias puderam aprender com as sofridas e inadmissíveis situações? O aumento da frequência e da gravidade desses desafios exige uma resposta abrangente e multifacetada, principalmente fazendo valer o papel de educar.

Fato é que temos assistido, nos últimos anos, a muitos casos de violência física, psicológica e emocional nas escolas. 

Expulsar um aluno que praticou um ato recriminatório ou suspendê-lo por alguns dias ou mais de um mês e pouco fazer sobre os fatores que colaboraram para o triste desfecho, ou nada fazer para uma possível reintegração, não deveria fazer parte das primeiras opções de uma escola.  

Ademais, é vexatório que escolas privadas — cujas mensalidades passam dos cinco dígitos —, não façam mais do que ‘colocar panos quentes’, quando é preciso que façam uma profunda reflexão sobre ações que promovam um clima escolar positivo e tornem a escola, de fato, um espaço de convivência saudável evitando tragédias e minimizando sofrimentos. 

Sim, tragédias que também acontecem em bairros ‘nobres’ das diversas cidades, mas que nem sempre ultrapassam ‘os muros das escolas’, acabando por não aparecer na mídia e tampouco no pensamento crítico das pessoas.

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O bullying entre menores pode ser apenas um ato infracional, mas a omissão e a negligência dos adultos são crimes. Quantos mais estudantes precisam cortar-se, sofrerem calados, serem agredidos? Quantos mais precisam morrer? Tenho participado de algumas orientações e mediações entre estudantes, famílias e escolas, e testemunhado a fraca mobilização para transformar os episódios difíceis em possibilidades de crescimento, amadurecimento e aprendizagem.

É fato que em todas essas situações a primeira conduta deva ser de acolhimento. Mas, na sequência, as escolas deveriam reavaliar protocolos de prevenção, detecção de casos de risco e encaminhamentos apropriados. No entanto, mesmo as escolas que têm recursos para investir em prevenção e promoção de saúde mental com uma melhor formação de seus quadros em práticas de resolução de conflitos, gestão de sala de aula e outras intervenções precoces têm, com alguma frequência, negligenciado estas ações. 

Já temos informações suficientes. Já sabemos sobre técnicas, temos evidências científicas robustas tanto de desfechos positivos quanto do que dá errado. Já sabemos que não é colocar a polícia ou o psiquiatra dentro da escola, e também que não é ‘extirpar o algoz’, afastar o problema com a ideia errada de que desta forma estaremos fazendo nosso papel.

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Bullying entre menores pode ser apenas um ato infracional, mas a omissão e a negligência dos adultos são crimes (Foto: Shutterstock)

Ora, se alunos precisam aprender sobre empatia, autoconhecimento, habilidades de relacionamento, seus professores deveriam saber ensinar. Ou não? Esses estão sendo, de fato, capacitados adequadamente? E os gestores, estão atentos e propiciando reflexões e transformações para promoverem um clima positivo a todos os atores escolares?

Cabe à instituição escolar, desde as mudanças na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em 2019, promover o desenvolvimento de habilidades socioemocionais que, por sua vez, se transformam em fatores de proteção da saúde mental. É, então, crucial que as escolas assumam um papel ativo na preparação dos professores para os diversos desafios que se apresentam, acreditando no poder transformador do investimento na formação dos educadores.

Espero (e trabalho por isso) que toda a comunidade escolar, principalmente as que passam por experiências dolorosas, busquem, com coragem, mudanças efetivas e uma cultura de paz que só será obtida com profissionais mais preparados, alunos mais engajados e famílias mais presentes e comprometidas. 

As famílias podem aproveitar a imensa capacidade de comunicação que ferramentas como WhatsApp proporcionam para se organizar, informar-se e propor ações para a prevenção e promoção da saúde mental e emocional dentro da escola. Avante, esta lição é de todos.

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