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Formação docente

Pensar o futuro se não quisermos que ele pense por nós, orienta António Nóvoa

Professor português nos convoca a reagir às mudanças voltadas ao clima e à tecnologia: o que podemos fazer daqui para a frente?

Publicado em 16/09/2024

por Maria Eugênia

A escola, a ciência e a universidade devem pensar e construir o futuro. Temos sempre que reagir ao desastre, reagir à tragédia, porém, não somos capazes de agir. É o que destaca o português António Nóvoa, professor do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e titular da Cátedra Unesco – Futuros da Educação, sobre a importância das instituições de ensino e da ciência se voltarem ao futuro e construírem alternativas para lidar com os problemas que já existem, para que eles não sejam agravados.

De acordo com o professor, um dos grandes dramas no Brasil e em todo o mundo é que a política, os movimentos políticos, e muitas vezes as universidades focam apenas no presente, nos posts, nos likes, redes sociais. Diante disso, é necessário pensar urgentemente no futuro, se não quisermos que ele pense por nós. Precisamos reagir aos problemas com as fumaças, com os incêndios e com as tecnologias que não dominamos. 

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“Nós, seres humanos, somos natureza em forma humana, e essa convicção que se deve fazer forte em nossos esforços educativos”, destaca Nóvoa, sobre sermos responsáveis pela natureza, e a necessidade da escola se reinventar e transformar a si mesma, para assim transformar o mundo. 

O professor António Nóvoa participou do painel Como se tornar um educador para o futuro do planeta?, que aconteceu nesta segunda-feira, 16, durante o II Congresso Internacional de Educação Sesi-SP, organizado pelo Sesi-SP e Faculdade Sesi de Educação de forma online e presencial na cidade de SP. O evento, que acontece até amanhã, 17, tem como tema geral Educação e futuro juntos: humanização para além do ser humano.

O que queremos da escola?

Para começar a mudança, António estabelece três transformações que a escola deve fazer. A primeira relaciona-se com o conhecimento. Para ele, falar de conhecimento na escola é falar sobre a importância da ciência, mas também da ciência da convergência, uma junção de diversas áreas, vários saberes e conhecimentos que contribuem para a aprendizagem dos estudantes.

“Precisamos copiar o que é a ciência hoje. Os grandes centros de ciência hoje já não estão organizados por disciplinas, estão organizados por grandes temas”, exemplifica Nóvoa. 

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A segunda mudança se relaciona com o pertencimento, cuja cooperação é a base do trabalho pedagógico. Para ele, as escolas devem ser um lugar de pertencimento, de diálogo, de diferença, inclusão, diversidade, cujos estudantes se encontram para ouvir o professor, mas, sobretudo, podem trabalhar uns com os outros. 

“A aula pode ter o lugar de vez em quando, como um momento de síntese, pode acontecer uma vez por semana. Mas a escola não pode ser uma sucessão de aulas, de disciplinas, de conhecimentos fragmentados, de coisas que depois não conseguimos dar sentido ao significado”, explica o professor, destacando que os estudantes precisam ver sentido na escola e nas disciplinas.

António Nóvoa

“Nós, seres humanos, somos natureza em forma humana, e essa convicção que se deve fazer forte em nossos esforços educativos”, destaca Nóvoa (Foto: Ana Beatriz de Oliveira Fidalgo)

A terceira mudança que Nóvoa propõe diz respeito ao envolvimento. Para ele, nenhum dos grandes problemas da humanidade se resolvem dentro das fronteiras nacionais, sendo assim, ter consciência planetária é essencial para os nossos jovens.

“As escolas servem para sermos livres, não estarmos sós, e conseguirmos cumprir nossa responsabilidade cidadã no quadro planetário”, pontua Nóvoa. 

Do que os professores precisam?

De acordo António Nóvoa, para que haja a mudança na escola, a formação de professores também precisa passar por transformações: devemos mudar radicalmente a formação desses profissionais, tornando-a mútua, em que os professores se formam com outros professores. Esses ainda precisam se tornar mais protagonistas, autores de suas próprias profissões.

“A educação, as nossas escolas, parecem um supermercado de coisas. Plataformas que não foram nós que produzimos, que vêm todas de fora e que nós, genuinamente, vamos aplicando”, exclama Nóvoa, destacando a necessidade de os professores se tornarem protagonistas dentro e fora da escola. 

De acordo com ele, os profissionais ainda devem ter o compromisso com a profissão, tendo uma presença pública, propondo coisas e sendo reconhecidos pela sua atuação. O português também diz que o trabalho pedagógico precisa ser alterado, e isso exige a colaboração entre os professores. 

“A mudança na área da educação não vem de fora, ela está em nós”, finaliza António Nóvoa, propondo aos educadores que construam liberdade para experimentarem criações.

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Maria Eugênia


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