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Alexandre Le Voci Sayad

Alexandre Le Voci Sayad é jornalista, educador e escritor. Mestre em inteligência artificial e ética pela PUC-SP e apresentador do Idade Mídia (Canal Futura)

Publicado em 12/09/2024

Inteligência artificial ajuda ou prejudica o meio ambiente?

A revista inglesa The Economist divulgou dados que reforçam: a IA não é verde. Porém, há casos de seu uso na preservação do meio ambiente. Entenda o jogo e como a escola pode atuar diante de situações que afetam a sociedade

Tratar as tecnologias digitais como ‘limpas’ é uma tendência quase que automática, sobretudo quando pensamos que os meios físicos nos exigem derrubar árvores, produzir tinta etc. Mas olhando a questão com profundidade, é possível perceber sua complexidade. Desmatamento, gases de efeito estufa, pesca predatória, caça e poluição das águas agora devem dar espaço também ao dano causado pela tecnologia; não somente aquela da queima do carvão da Quarta Revolução Industrial, mas a do consumo ligado à manutenção da inteligência artificial na revolução da informação.

No último mês, a revista inglesa The Economist divulgou os números de gastos de energia e água de uma das gigantes da tecnologia e mostrou que pesquisadores estão cada vez mais certos: a inteligência artificial não é verde. Quando os sistemas de IA começaram a tomar mais espaço na sociedade, mais processadores gráficos para imagens (chamados de GPU, ou Graphic Processor Unit) e centros de dados (‘data centers’) foram necessários. Fazê-los funcionar e também resfriá-los (o mesmo papel das ventoinhas nos computadores domésticos, mas exponencialmente mais potentes), por conseguinte, fizeram os números de consumo disparar.

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Além disso, todo o sistema de inteligência artificial, antes de ser lançado ao uso público, necessita ser treinado com uma base gigantesca de dados. Esse processo de treinamento é ainda mais dispendioso que uma simples ‘busca’ ou ‘ação’ feita por um usuário no ChatGPT, por exemplo. Para se ter ideia, os números da empresa fornecidos à revista mostram que o consumo de litros de água utilizados para resfriamento de GPUs entre 2020 e 2023 aumentou de 5 bilhões para 12 bilhões. Algumas companhias do Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, têm, inclusive, mergulhado seus processadores e ‘data centers’ nas águas frias do Oceano Pacífico, criando ‘fazendas aquáticas’ na busca por um resfriamento mais eficiente. A prática, entretanto, é controversa.

Ao tratar do gasto de energia para processar dados de inteligência artificial, a mesma empresa saltou de 10 bilhões de quilowatts em 2020 para 25 bilhões em 2023. Para se ter uma grandeza de comparação, uma residência no Brasil, durante o inverno, consome em média 2 mil quilowatts/hora. Segundo um levantamento feito pelo jornalista Michel Thomas, a Microsoft e o Google consumiram mais energia elétrica do que 100 diferentes países em 2023.

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Calcular o dano da inteligência artificial para o meio ambiente não é uma tarefa simples nem para especialistas. Primeiro, porque os números de consumo raramente são publicados; depois, o efetivo custo ambiental deve ser calculado em cada sistema, porque varia segundo a utilização de processadores, de ‘data centers’, de sua velocidade, de seu sistemas de resfriamento e, sobretudo, de qual matriz energética é utilizada em cada caso (energia renovável ou não).

Deve ser considerada também a questão geográfica; hoje um terço dos ‘data centers’ do mundo está localizado nos Estados Unidos, o que faz o país ter que buscar rapidamente soluções energéticas para evitar ‘apagões tecnológicos’, como o ocorrido ano passado em uma empresa na Dakota do Norte.

Para que essa questão se torne mais transparente para o usuário comum, já existem laboratórios no mundo que abrem suas pesquisas para serem utilizadas na escola, dedicados a investigar e propor soluções para o uso sustentável da inteligência artificial. O AI Sustainable Lab, composto por grupo de pesquisadores internacionais e baseado na Universidade de Bonn, Alemanha, realiza estudos e seminários dedicados a encarar os efeitos das tecnologias de inteligência artificial e parametrizá-los com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS).

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Escute nosso episódio de podcast:

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Mas, quando a inteligência artificial ajuda na preservação do meio ambiente? Um trabalho de qualidade sobre o tema no ambiente escolar não pode esquecer este outro lado. Hoje, o mesmo reconhecimento de imagens por IA que polui foi capaz de automatizar em mais de 99% o trabalho de biólogos em reconhecer animais por meio de câmeras, que tomava horas. Também já são produzidos drones equipados com inteligência artificial capazes de reconhecer focos de incêndio automaticamente e apagá-los. Na Sérvia, o projeto Centre for Water for Sustainable Development and Adaptation to Climate Change, ligado à Unesco, utiliza a inteligência artifi cial para monitorar sistematicamente a qualidade das águas, reconhecendo padrões.

Para os educadores, é urgente a criação de oportunidades de aprendizagem, reflexão e criação de projetos para o meio ambiente mirando o presente e o futuro. É impossível ignorar a fuligem e fumaça das queimadas que entram pela janela da escola, ou o inverno que faz calor, além do verão de temperaturas extremas insuportáveis. Esse trabalho é amplamente amparado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prevê a questão da sustentabilidade como central na escola, de maneira articulada, em todos os níveis. Mas ao considerar a ação do homem e a evolução da técnica, antes representadas pelo automóvel e a motosserra, é necessário abrir espaço para a recém-explorada inteligência artificial — no que ela traz de benefícios e riscos.

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