NOTÍCIA
Escolas devem ser promotoras da educação por um mundo habitável e consciente de suas atitudes
Publicado em 31/07/2024
Por André Lázaro*:Poucos temas têm se tornando tão universais atualmente como os relacionados à sustentabilidade. As mudanças climáticas, cada vez mais presentes no nosso cotidiano, seja pelo que vemos no noticiário, seja pelo que sentimos na pele, são uma preocupação crescente nos mais diversos fóruns internacionais ou em qualquer discussão de alto nível.
Secas, inundações, ondas de frio e calor extremo, tudo fora de época ou lugar, fenômenos antes raros e agora assustadoramente frequentes nos fazem pensar: como estará o mundo em que vamos acordar amanhã?
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Soluções para essa questão passam pelas mais diversas ciências e áreas de negócio, mas todas começam no mesmo ponto onde se inicia nossa jornada comum: na escola. O espaço educacional, que nos prepara das primeiras letras aos conhecimentos mais complexos, é onde se alimenta a cidadania que guiará cada criança e adolescente na estrada no futuro. Somos todos frutos da nossa educação.
A sustentabilidade não é mais apenas uma garantia para o futuro. É uma ferramenta de sobrevivência já para nossa geração. Por isso, nenhuma escola deve-se furtar da sua missão, como protagonista civilizatória, de ser uma promotora da educação por um mundo sustentável.
Quando a proposta pedagógica de uma instituição de ensino enxerga a complexidade dos processos atuais, ao mesmo tempo que envolve no currículo todas as dimensões da gestão e da comunidade em que a escola está inserida, é possível encontrar iniciativas educacionais que elevam o processo de ensino para patamares muito acima do mero processo ‘instrucional’. Significa colocar a sustentabilidade em prática sob todos os seus aspectos e oferecer aos alunos uma nova forma de viver uma educação integral.
O Prêmio Escolas Sustentáveis, uma iniciativa da Santillana, da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e da Fundação Santillana, que está na sua segunda edição, vem ao encontro dessa premissa. Essa iniciativa não busca valorizar a competição, mas sim a inspiração por ideias inovadoras e transformadoras.
Ao reconhecer projetos de estudantes e professores que beneficiam a sociedade do entorno, o prêmio busca compreender a escola como uma comunidade de aprendizagem, em que todas as pessoas participam, têm papéis distintos, porém complementares a partir responsabilidades comuns entre todos.
Um projeto socioambiental participativo reforça a importância de se manter um ambiente saudável, promove a colaboração, o diálogo e a troca de experiências, fomenta a curiosidade e diversifica os interesses dos diferentes atores do processo educacional para além das estreitas margens curriculares.
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Criar, desenvolver, implementar e acompanhar soluções para problemas comunitários previamente identificados estimula não apenas o saber, mas o viver, o que significa envolver a inteligência, o corpo, as emoções, a sensibilidade, a intuição, aguçar a capacidade de ouvir os outros para identificar problemas comuns e soluções possíveis com a colaboração de todas as pessoas.
Ao criar uma premiação que evidencia a união orgânica entre educação e sustentabilidade socioambiental, o objetivo é iluminar a, por vezes esquecida, proximidade da escola com a comunidade. O saber escolar, por meio da convivência prática, entra em contato e dialoga com os saberes tradicionais, o conhecimento popular e as culturas locais. Alunos e professores percebem que há saberes valorosos para além do modo como os currículos sistematizam.
O Prêmio Escolas Sustentáveis desenvolve iniciativas de cooperação, criando situações de aprendizagem em que diferentes faixas etárias podem cooperar entre si. Indo mais além, os próprios estudantes ensinam aos profissionais da educação a partir das vivências que realizam.
Educar para a sustentabilidade é fortalecer a percepção da urgência de agir sobre o mundo, compreendendo que os desafios socioambientais atuais não se esgotam em discursos, mas na soma da palavra e da ação orientada e planejada coletivamente.
Mais do que nunca, o amanhã que tanto almejamos precisa não apenas ser construído, mas ser recriado, e a educação tem os meios para assumir esse compromisso.
A sustentabilidade é uma premissa civilizatória e precisamos cultivá-la em todas as atividades humanas. O mundo não é imutável. A transformação está em nossas mãos. Sem uma educação que defenda o meio ambiente, promova a inclusão, o antirracismo, a democracia e abrace a diversidade humana em toda sua complexidade, não teremos um processo de ensino de fato educador, mas mantedor de um status quo que ampliará as ameaças contra a própria humanidade.
*André Lázaro é diretor de políticas públicas da Fundação Santillana no Brasil
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