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Publicado em 29/11/2023
Competências digitais que o professor precisa desenvolver e pontos que as formações docentes precisam se atualizarem
Temos discutido bastante uma nova modelagem de formação inicial e continuada docente que contemplem os novos desafios da educação, por exemplo, a necessidade de rever os cursos de licenciaturas para que preparem verdadeiramente os futuros educadores aos desafios da sala de aula e que contemplem uma residência pedagógica, entre outros. No entanto, é preciso ir além e nos questionarmos: como constituímos conhecimento no século 21?
Com a indústria 4.0 e a educação 4.0 e 5.0, as competências digitais são de extrema importância devido às transformações trazidas pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). As tecnologias têm o potencial de enriquecer o processo de ensino e aprendizagem, proporcionando acesso a uma quantidade imensa de informações, recursos educacionais e oportunidades de interação e colaboração em que nossos professores não foram formados para lidar com elas.
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Assim, a formação inicial e continuada do professor são aspectos fundamentais para garantir a qualidade e equidade da educação. No entanto, diante das rápidas transformações tecnológicas e da crescente digitalização da sociedade, torna-se cada vez mais necessário rever e atualizar essa formação, incluindo no currículo docente o desenvolvimento de competências digitais.
As competências digitais são habilidades essenciais para que os professores possam utilizar de forma eficiente as tecnologias digitais em suas práticas pedagógicas. Isso inclui desde o conhecimento básico sobre o funcionamento de computadores e dispositivos eletrônicos até a capacidade de utilizar aplicativos, softwares e recursos online com intencionalidade pedagógica, além da compreensão das tecnologias como objeto de conhecimento.
Essas competências são essenciais para que os professores possam utilizar as tecnologias de forma a enriquecer o processo de ensino e aprendizagem, tornando-o mais dinâmico, interativo e humanizado.
Alinhado a esse novo contexto educacional, o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) definiu três novas competências digitais como essenciais para a atuação e desenvolvimento profissional docente: análise de dados; mentalidade orientada a dados e pensamento computacional. Essas competências são fundamentais para que os professores possam utilizar as tecnologias de forma eficiente e inovadora em suas práticas pedagógicas, promovendo uma educação mais contextualizada e alinhada com as demandas do século 21.
Pensamento computacional: capacidade de resolver problemas de forma lógica e estruturada, utilizando algoritmos e abstrações para decompor problemas complexos em partes menores;
Segurança digital: conhecimento sobre os princípios básicos de segurança na internet, como proteção de dados pessoais, senhas seguras, identificação de ameaças e comportamentos seguros online;
Tecnologias emergentes: familiaridade com tecnologias emergentes, como inteligência artificial, realidade virtual, internet das coisas, blockchain, entre outras, e compreensão de como essas tecnologias podem ser aplicadas em diferentes contextos;
Pensamento crítico e ético: capacidade de analisar criticamente informações encontradas na internet, identificar fake news e compreender os impactos éticos e sociais das tecnologias;
Colaboração e trabalho em equipe: capacidade de trabalhar em equipe, compartilhar conhecimentos e colaborar na resolução de problemas utilizando recursos tecnológicos;
Criatividade e inovação: capacidade de utilizar a tecnologia de forma criativa, desenvolvendo projetos inovadores e explorando diferentes possibilidades de uso das ferramentas tecnológicas;
Letramento digital: conhecimento básico sobre o funcionamento de computadores, sistemas operacionais, softwares e aplicativos, além de habilidades de pesquisa na internet e uso de ferramentas digitais.
Feedbacks no dia a dia da formação docente
O objeto de aprendizado — crônica de Rubem Alves
A partir da matriz de competências digitais docentes, o CIEB desenvolveu uma ferramenta de autoavaliação online e gratuita para promover a reflexão dos professores sobre seus próprios conhecimentos e uso de tecnologias digitais. A ferramenta também serve para informar as redes de ensino sobre perfil agregado das competências digitais dos professores, de forma que possam desenvolver formações docentes mais efetivas.
A inserção das competências digitais na formação docente pode ser feita de diversas formas. Uma delas é por meio de cursos e capacitações específicas, que abordem desde o uso básico de tecnologias até a aplicação de metodologias inovadoras no ensino, como a gamificação e o ensino híbrido.
Além disso, é importante que as instituições de ensino superior incluam disciplinas relacionadas às competências digitais em seus currículos de formação inicial de professores. Essas disciplinas devem abordar não apenas o uso de tecnologias, mas também aspectos éticos e de segurança digital, para que os futuros professores estejam preparados para lidar com os desafios e responsabilidades que o uso das tecnologias implica.
A formação continuada também desempenha um papel fundamental na inserção das competências digitais na prática docente. Os professores devem ter acesso a programas de atualização e capacitação ao longo de sua carreira, de forma a se manterem atualizados em relação às novas tecnologias e metodologias educacionais.
Também é importante que as escolas e redes de ensino ofereçam suporte e infraestrutura adequada para que os professores possam utilizar as tecnologias em suas práticas. Isso inclui desde a disponibilidade de computadores e acesso à internet até a formação de equipes de suporte técnico e pedagógico.
Atualização dos currículos: as instituições de ensino superior devem revisar seus currículos para incluir disciplinas que abordem o uso das tecnologias na educação (como objeto e ferramenta de ensino). Essas disciplinas devem oferecer conhecimentos teóricos e práticos sobre o uso de ferramentas digitais, bem como estratégias pedagógicas para sua aplicação em sala de aula;
Vivência prática: além de oferecer disciplinas teóricas, as instituições de ensino superior devem proporcionar oportunidades de vivência prática das tecnologias. Isso pode ser feito por meio de laboratórios para que os futuros professores possam experimentar e explorar diferentes ferramentas digitais;
Parcerias com escolas e instituições de pesquisa: as instituições de ensino superior podem estabelecer parcerias com escolas e instituições de pesquisa para promover a troca de experiências e conhecimentos sobre o uso das tecnologias na educação. Essas parcerias podem incluir a realização de projetos conjuntos, a participação em eventos e o compartilhamento de recursos e boas práticas;
Formação continuada: além da formação inicial, é fundamental que os professores tenham acesso a programas de formação continuada que abordem as competências digitais. Esses programas podem incluir cursos, workshops, palestras e eventos que atualizem os educadores sobre as novas tecnologias e suas aplicações na sala de aula;
Compartilhamento de experiências: os professores devem ser incentivados a compartilhar suas experiências e boas práticas relacionadas ao uso das tecnologias na educação. Isso pode ser feito por meio de grupos de estudo, fóruns online, redes sociais e outros espaços de troca de conhecimentos;
Incentivo à pesquisa e inovação: as instituições de ensino superior devem incentivar a pesquisa e a inovação no campo das tecnologias educacionais. Isso pode ser feito por meio da criação de grupos de pesquisa, da oferta de bolsas de estudo e do estímulo à participação em eventos científicos.
Essas são apenas algumas das maneiras de rever a formação inicial e continuada de professores para contemplar as competências digitais. É importante que as instituições de ensino, os professores e os gestores educacionais estejam abertos a novas ideias e práticas, buscando sempre atualizar-se e adaptar-se às demandas da sociedade digital.
Isso não significa substituir o papel do professor, mas sim potencializar suas práticas pedagógicas, tornando-as mais dinâmicas, interativas e contextualizadas com anseios dos estudantes.
É necessário que haja um esforço conjunto entre as instituições de ensino, as redes de ensino e os próprios professores para rever a formação inicial e continuada, inserindo as competências digitais de forma efetiva. Somente assim será possível garantir uma educação de qualidade com equidade e que esteja alinhada com as demandas e desafios atuais em que a inclusão das competências digitais na formação de professores não significa substituir o ensino tradicional, mas sim complementá-lo.
As tecnologias devem ser utilizadas como ferramentas pedagógicas, auxiliando no processo de ensino e aprendizagem, mas sempre com um propósito educacional claro e alinhado aos objetivos do currículo.
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