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Bett Brasil

Parceria entre museu e escola vai além da visitação

Especialistas Marina Toledo e Clara Azevedo apresentam as possibilidades de projetos que o museu e a escola podem fazer

Publicado em 12/05/2023

por Leticia Scudeiro

O museu precisa ser visto como um ambiente para além da análise e observação. No contexto das escolas, parcerias e projetos podem ser realizados pensando no conhecimento completo do estudante sobre determinado tema. Segundo Marina Toledo, coordenadora do núcleo educativo do Museu da Língua Portuguesa, podem ser planejadas visitas, oficinas, além de projetos personalizados de acordo com cada escola.


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“Nós estamos abertos a todas as escolas para essa construção conjunta. Acho até uma pena que a maioria das escolas não nos procure para isso. As pessoas agendam as visitas, seja diretamente com o educador no museu ou por uma agência, mas não conversam conosco. Talvez não tenham essa informação de que isso é possível. Para nós é tudo que o queremos — que o professor nos ligue ou nos mande um e-mail e diga: ‘olha, estamos pensando em ir ao museu falar sobre tal assunto, ou explorar tal tema, para podermos elaborar juntos’”, comenta.

Marina tem experiência voltada à coordenação e gestão de pessoas e de programas educativos em exposições e museus, além de formação de educadores em museus e instituições culturais. Dentre as parcerias no Museu da Língua Portuguesa, ela destaca projetos estruturados pensados nas escolas da região que contam com visita aos espaços expositivos, a exposição principal do museu, oficinas, caminhadas entre o museu e a escola (ou vice-versa) e exploração na cidade.

Marina Toledo e Clara Azevedo participam hoje, 12, às 10h30, do painel Como os museus podem ser considerados espaços para desenvolvimento do currículo escolar?’ juntamente com Monica Weinberg, na Bett Brasil 2023*.

Aprofundamento multidisciplinar

“O museu não é um depósito de objetos e informações distantes ou de verdades absolutas. Ele é uma instituição de pesquisa, de preservação, de comunicação, de artefatos, de memórias, de evidências da nossa produção cultural artística, da nossa história, e da história das mais diferentes áreas do conhecimento. É um espaço também de apreciação estética que está, ou pelo menos deveria estar, o tempo inteiro em ebulição, buscando novas evidências, revendo interpretações, articulando conhecimentos e visões de mundo de muitas épocas e do presente também, apresentando evidências e proporcionando contato e interpretações sobre elas”, destaca Clara Azevedo, sócia-diretora da Tomara! Educação e Cultura, empresa que mobiliza e gera iniciativas de impacto social.

Clara trabalha há 20 anos com iniciativas ligadas à gestão cultural, pesquisa e produção de conhecimento, atuando com temas relacionados principalmente à educação e ao patrimônio cultural. Dirigiu por cinco anos o Museu do Futebol, instituição na qual, hoje, assim como no Museu da Língua Portuguesa, é vice-presidente do Conselho de Administração. Clara resume que o museu pode ser visto como um lugar multidisciplinar, com diversas possibilidades de aprendizagem e formação do estudante.

“Quando fui diretora do Museu do Futebol a gente recebia milhões de visitas de escolas, só que prioritariamente de professores de educação física e professores de história. E a gente falava: ‘Ótimo, venham professores de educação física e professores de história. Mas professores de física, será que vocês não querem vir também? Porque de repente pensar a trajetória de uma bola pode ser uma boa maneira de ensinar de modo contextualizado algum conteúdo e despertar o interesse do estudante a partir de uma manifestação tão importante e presente na nossa vida como é o futebol”, expõe Clara.

Oportunidades de aprendizado e parcerias com as escolas

São diversas formas que a parceria entre a escola e o museu podem ser formadas. No Núcleo Educativo do Museu da Língua Portuguesa, segundo Marina Toledo, o museu está trabalhando com a Universidade Mackenzie na elaboração de pesquisas e projetos.

“Os estudantes de letras vieram até o museu, fizeram uma visita com os nossos educadores explorando todas as experiências que temos. Na semana seguinte voltaram para um bate-papo sobre o que eles viram, de que maneira eles percebiam que aquilo poderia ser trabalhado em sala de aula, ou o que o museu explora em cada experiência em termos de conteúdo, e produzimos jogos. A gente trabalha de uma forma lúdica. Atualmente esses alunos estão preparando projetos para a educação não formal e alguns um plano de sala de aula para nos apresentar. Os trabalhos que estiverem bem formatados o museu irá fazer um e-book e colocar no site, onde também temos cadernos educativos. A ideia é sempre multiplicar esses conhecimentos”, apresenta Marina.


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A escola protagonista


Já na educação básica, em uma parceria com a Secretária Municipal de Educação e o Núcleo de Estudos Étnicos-raciais, o museu pretende desenvolver um material para a educação infantil que talvez conte músicas e parlendas que envolvam culturas de outros países. Segundo Marina, com o aumento de crianças imigrantes na educação infantil, principalmente em São Paulo, o objetivo dessa parceria é trabalhar com essas diversidades e ampliar as diversas possibilidades na sala de aula. 

Clara Azevedo também destaca as possibilidades de temas que podem ser discutidos durante as visitas e as formas como o professor pode pensar nas possibilidades de atividades com os alunos nos museus.

“Por exemplo, um professor pode ir para aprofundar algum aspecto já trabalhado na sala de aula, contrapor e problematizar alguma perspectiva ou, inclusive, trabalhar com aquilo que não está apresentado. ‘Por que essa história não tá sendo contada aqui neste museu?’, e perguntar aos alunos: ‘Vocês estão sentindo falta de alguma coisa? Algum elemento está sendo esquecido aqui nessa narrativa? Qual pode ser o efeito desse esquecimento para nós enquanto sociedade?’”, aponta Clara.

“Quando a gente fala ou apresenta nossa produção cultural, as expressões culturais, acho que emergem diferentes questões transversais que são muito importantes para a formação do estudante. Questões ligadas à noção de história, de patrimônio, de memória e relações de poder, diversidade dos nossos corpos, das nossas expressões — e a beleza dessa diversidade, e dessas várias formas de estar no mundo. Os museus são espaços que proporcionam esse contato com essa diversidade e isso é capaz de promover empatia, tolerância, respeito, curiosidade e de acionar competências ou condutas dos estudantes que são importantes para a convivência em sociedade”, conclui Clara.



Bett Brasil

*A Bett Brasil é o maior evento de educação e tecnologia na América Latina. Acontece de 9 a 12 de maio, no Transamerica Expo Center, São Paulo. E nós, da Educação, estamos fazendo uma cobertura especial. Clique aqui para ficar por dentro de tudo.

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Autor

Leticia Scudeiro


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