Tivesse o panorama educacional brasileiro se modificado em profundidade desde a redemocratização do Brasil, e talvez a reedição de Linguagem e escola, publicado pela primeira vez pela professora e linguista Magda Soares em 1986, não fosse uma necessidade premente. Passados mais de 30 anos, no entanto, e a questão da equidade no campo educacional continua em pauta, como uma necessidade a ser perseguida por toda a sociedade caso queiramos efetivamente que a escola tenha uma ação transformadora.
Como resume a autora, introdutora do conceito de letramento no Brasil, no prefácio à nova edição, os problemas da educação brasileira analisados tanto em seu livro como em obras de contemporâneos “continuam presentes, não se tendo ainda chegado à equidade de resultados na educação, porque ainda são injustas as relações entre a sociedade e a escola pública, permanecendo o fracasso escolar das crianças e jovens das camadas populares”.
Identificando nas relações entre linguagem e escola um dos pontos fulcrais do insucesso das camadas populares na educação, em função do alijamento de sua cultura do universo normativo instituído pelas camadas mais altas da população como ponto de corte para a vida letrada, Magda Soares mostra como o fracasso desse público é, na verdade, o fracasso da escola. Para isso, utiliza-se de ferramental teórico ancorado tanto na sociologia, como na sociologia da linguagem e na sociolinguística, destrinchando um processo de exclusão que acaba por se dar dentro da escola. Como de resto vem se dando em toda a história do Brasil na sociedade como um todo. Subverter essa lógica é pré-condição para reverter os seguidos reveses educacionais que continuam a segregar expressivas camadas da população.

Linguagem e escola: uma perspectiva social, de Magda Soares, Editora Contexto, 160 páginas, R$ 29,90

Autor

Rubem Barros