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Arte e Cultura

Ritos de passagem no cinema

Publicado em 17/11/2016

por Gabriel Jareta

boyhood

Imagens de Boyhood, de Richard Linklater | Divulgação

Os gêneros cinematográficos (comédia, drama, terror etc.), embora úteis para classificar um filme na sinopse do jornal ou nas antigas estantes das locadoras, não costumam dar conta de elementos comuns a filmes de diferentes naturezas, histórias que se baseiam em uma “mitologia” própria da linguagem cinematográfica. É o caso dos filmes que abordam a passagem da infância/adolescência para a vida adulta, em que os protagonistas vivenciam uma situação dramática que irá “ensiná-los” sobre as dificuldades da vida ou, de alguma forma, vai moldar seu caráter.
Essas histórias sobre uma transição – um rito de passagem ou “coming of age”, termo pelo qual são conhecidas em inglês – baseiam-se em uma tradição da literatura que se confunde com a própria história do romance moderno, mas que encontram no cinema um meio ideal para condensar e transmitir essa experiência. Recentemente, Boyhood, que concorreu ao Oscar de melhor filme em 2015, levou ao extremo esse gênero ao acompanhar o crescimento do seu protagonista ao longo dos anos, fazendo com que o tempo cronológico fosse coincidente com o tempo diegético (o tempo da narrativa).
Esse rito de passagem pode ser provocado por diversos eventos: o divórcio dos pais, a reação à violência doméstica, a descoberta do sexo (ou a busca pela “primeira vez”), a influência de um professor ou um amigo mais velho, a decisão sobre o que estudar na faculdade. Basta pensar em filmes tão distintos quanto as comédias americanas de high school dos anos 1980, como Porky’s (1981), até dramas a respeito da formação intelectual, como A sociedade dos poetas mortos (1989), passando por romances como O verão de 42 (1971). Em todos, os protagonistas chegam ao final do filme tendo “aprendido” algo sobre a vida.
Ver as próprias angústias traduzidas na tela, em tempos e espaços tão distintos, pode provocar reflexões interessantes especialmente no que diz respeito à vida escolar. No Brasil, o momento de tentativas de reformas escolares que colocam em xeque o que é aprendido no ensino médio, ao lado de episódios de levantes juvenis contra a estrutura educacional, constituem terreno fértil para gerar discussões sobre a passagem da adolescência para a vida adulta do trabalho, das responsabilidades e do inevitável abandono de alguns sonhos.


Jovens e juventude

A passagem da adolescência para a vida adulta é tudo menos um período tranquilo. Na seleção a seguir, algumas leituras desse período que variam da lembrança afetuosa à crueza da desesperança.
juventude-transviadaJuventude transviada (Estados Unidos, 1955)
Símbolo da rebeldia juvenil americana do pós-guerra. Nicolas Ray antecipa questões que se tornariam iminentes nas décadas seguintes: conflito de gerações, inadequação social, vazio existencial. Os personagens de James Dean, rapaz problemático que chega a uma cidade pequena, e Natalie Wood, uma jovem em busca de seu lugar como mulher, são inesquecíveis.
 
conta-comigoConta comigo (Estados Unidos, 1986)
Quatro garotos de uma cidadezinha no norte dos EUA saem, no final dos anos 1950, em busca do corpo de uma criança desaparecida, que teria sido morta por um trem. A aventura é uma oportunidade para estreitar os laços de amizade e lealdade. Primeiro grande papel de River Phoenix, que morreria aos 23 anos, até hoje reverenciado como grande ator.
 
e-sua-mae-tambemE sua mãe também (México, 2001)
Na Cidade do México, dois amigos prestes a entrar na faculdade, cujas namoradas estão na Europa, decidem viajar para a praia com uma mulher mais velha, casada com o primo de um deles. Dirigido por Alfonso Cuarón e com Gael García Bernal em um dos papéis principais, é um road movie sobre a amizade e descobertas emocionais e sexuais.
 
entre-os-murosEntre os muros da escola (França, 2008)
Os costumes, crenças e problemas de adolescentes de diversas origens étnicas e sociais compõem o dia a dia de uma sala de aula na periferia de Paris. Palma de Ouro em Cannes, é baseado no livro do professor François Bégaudeau, que, na tela, também faz o papel do professor da turma. O desinteresse pelos estudos e as dificuldades de integração social dão o tom da narrativa.
 
linhadepasseLinha de passe (Brasil, 2008)
Os sonhos de quatro irmãos de um bairro pobre da zona leste de São Paulo, filhos de pais diferentes e criados pela mãe grávida, são o fio condutor do filme de Walter Salles e Daniela Thomas. Trabalho, religião, futebol e a busca pela imagem paterna marcam a vida dos jovens. No papel de mãe dos garotos, Sandra Corveloni foi eleita melhor atriz em Cannes.

 

Autor

Gabriel Jareta


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