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Novo estudo sobre a aplicação da voz na área educacional busca aperfeiçoar a produção de conteúdo para educação a distância e potencializar a capacidade de compreensão do aluno por José Eduardo Coutelle Imagine um método que possibilite a condensação do tempo das aulas ministradas em […]
Novo estudo sobre a aplicação da voz na área educacional busca aperfeiçoar a produção de conteúdo para educação a distância e potencializar a capacidade de compreensão do aluno
por José Eduardo Coutelle
Imagine um método que possibilite a condensação do tempo das aulas ministradas em apenas uma décima parte do original e ainda permita a assimilação melhorada do conteúdo pelos estudantes. A proposta é ambiciosa, mas já existe, e promete revolucionar o processo da aprendizagem na educação a distância.
O nome provém do inglês, apesar de ter nascido na capital paranaense. O Voice Design – ou design da voz, em português – começou a ser desenvolvido pelo jornalista e radialista Jorge Cury Neto em 2008, dono da empresa responsável pela iniciativa, a Webcombrasil.
O radialista pesquisou e concentrou princípios de diversas áreas do conhecimento, passando pela linguística, acústica e semiótica, até chegar à antropologia, psicanálise e hipnose. Por meio de estudos e de sua vivência profissional no rádio, resgatou técnicas da oralidade, como tom de voz, frequência, volume, ritmo, timbre, entonação e pausas estratégicas, para criar uma narrativa capaz de transmitir um conteúdo de forma eficiente, garantindo maior capacidade de assimilação do ouvinte. O estudo será apresentado no 10º Seminário Nacional da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), que acontecerá nos dias 24, 25 e 26 de abril em São Paulo, e, em setembro de 2013, recebeu prêmio de Menção Honrosa em congresso também da Abed.
Com o novo método, um vídeo de 30 minutos poderia ser reduzido a apenas três, que trariam de forma destacada os conceitos-chaves a serem transmitidos. O milagre da abreviação do tempo, ou processo científico, se deve principalmente a dois fatores: a formatação do conteúdo e o uso da palavra falada. E é no segundo que está a sua maior contribuição.
Assim se formou um dos principais pilares do Voice Design: o resgate da oralidade, principalmente no processo educacional. Para Cury, o ato de educar ficou centrado demais no “ler” – que é um processo visual – e a narrativa da palavra falada foi deixada de lado. Ele lembra que até meados da década de 50 as escolas brasileiras ensinavam retórica e exercitavam a oralidade por meio de recitais de poesias. Isso, segundo Cury, reduziu a capacidade do professor de ensinar através do uso da sua palavra. Relacionado ao conteúdo de ensino a distância, o jornalista tem ainda mais receio sobre a eficiência do material que vem sendo produzido. “É absurdo o modelo praticado. Assisti a alguns vídeos em que o professor durante uma hora expõe o conteúdo gaguejando e com o uso abusivo de preposições”, conta.
Sob a ótica do Voice Design, Cury propõe refazer todo o esquema de exposição do conteúdo. Para isso, o primeiro passo é treinar o professor com técnicas vocais. Em seguida, são extraídos três ou quatro conceitos-chaves da videoaula original, que são reapresentados por meio de pequenos versos. “O objetivo é tornar a mensagem o mais melodiosa possível para que se ganhe o recurso da memorização”, explica. A partir daí são feitas as marcações fonéticas em todo o texto – que vão determinar a forma correta de proferir cada palavra – e identificados os momentos de pausa, importantes para a assimilação do conteúdo. Por último, o conteúdo apresentado pelo professor ganha a adição de elementos visuais, como diagramas e infográficos, sempre convergentes à narrativa do professor.
Aposta para o futuro
Apesar de ainda não haver estudos oficiais sobre a real eficiência do Voice Design no ensino a distância, o vice-presidente da Abed, Stavros Xanthopoylos acredita no potencial da técnica. “A ideia é interessante. As pessoas querem ouvir e ver cada vez mais. A voz tem impacto”, afirma.
Para Stavros, a falta de contato direto de bons professores com os alunos é um problema no universo da educação a distância. “Lembro que nos nossos cursos, principalmente nos tecnológicos, os alunos queriam mais contato com os autores”, comenta Stavros que também é diretor executivo da FGV On-line. Nesse ponto, a utilização da nova técnica poderá ajudar a reduzir tal distância. Por outro lado, segundo o diretor, é também aí que reside o principal entrave da aplicação. “O treinamento de todos os professores talvez seja a grande restrição”, acredita Stavros.
A doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e consultora em Tecnologia Educacional e Educação a Distância Andrea Filatro entende que a principal contribuição para a melhoria do processo da educação é o trabalho profissional do uso da voz. A pesquisadora comenta que na vida acadêmica a escrita vem assumindo aos poucos uma função massificadora que oprime o uso da palavra falada. Andrea destaca algumas teorias que apontam que as pessoas aprendem de formas diferentes. Ou seja, existem pessoas mais auditivas e conseguem captar melhor o conteúdo ouvindo, enquanto outras são mais visuais.
Para tentar reverter esse processo, a tecnologia se tornou uma forte aliada. Andrea conta que é crescente o uso de dispositivos móveis na educação. E no Brasil, os smart–phones estão na crista da onda. Por meio deles, os alunos podem acessar o conteúdo em qualquer lugar ou até mesmo quando estiverem em deslocamento. “Esse registro oral fica gravado e os alunos podem ouvir quando quiserem. Além disso, com a voz é possível usar a emoção da palavra para agregar mais valor à comunicação didática”, completa a pesquisadora.
Primeiros contatos
Com pouco mais de dez anos de experiência na elaboração e disponibilização de cursos a distância, a Universidade Anhembi Morumbi encontrou no Voice Design um possível aliado para o seu projeto de conteúdos multimeios. O diretor acadêmico de Educação a Distância, Janes Fidélis Tomelin, conta que a instituição está em conversação para iniciar uma parceria para elaboração de podcasts e que uma colaboração na área de pesquisa científica já está em articulação. Tomelin explica que essa estratégia se deu em parte devido à crescente explosão de estudantes que passaram a utilizar os recursos mobile. Com isso, o desenvolvimento de conteúdo foi adequado para o segmento e justamente neste ponto surgiu uma necessidade. “Percebemos que os podcasts que fazíamos de forma caseira precisavam ser melhorados”, conta.
Ainda sem um contrato definido, Tomelin levanta algumas dúvidas sobre o processo. “Temos de entender como preparar nosso professor para fazer essa narrativa. Se ele não tem habilidade de voz, tem de fazer uma formação continuada. O professor que tem um pé na sala de aula tem de ser preparado para usar os multimeios”, ressalta.
A formação de voice designers
Uma das propostas de Jorge Cury é formar mão de obra capacitada. Para isso, ele aposta em duas áreas profissionais onde a voz já é uma ferramenta explorada: jornalismo e fonoaudiologia. A diretora do Univoz e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, Ana Elisa Moreira Ferreira, conta que o estudo da utilização da voz pelos professores não é um assunto novo para os fonoaudiólogos. A diretora explica que essa é uma das áreas com maior número de pesquisas, tanto para a Voz Clínica, que detecta e trata patologias como rouquidão e disfonias, quanto para Voz Profissional, área encarregada de desenvolver estéticas e estilos vocais para cada profissão. E é justamente este segundo que tem semelhanças com conceitos do Voice Design. “Se um professor entra em sala com fala lenta, curva melódica não variada, pronuncia todas as palavras com o mesmo ritmo e com articulação pouco precisa, pode fazer com que o aluno perca a atenção no que está sendo dito. O professor precisa ser um comunicador envolvente”, destaca. Para fazer esse trabalho de avaliação e possíveis correções existem diferentes formas. A primeira é no próprio ambiente escolar, com a presença do fonoaudiólogo observando a atuação do professor. Já a segunda é por meio de gravações em vídeo. A partir daí, são realizados exercícios para desenvolver a qualidade vocal do docente.
Ana Elisa entende que os problemas relacionados à voz do professor são históricos e provêm desde o período da sua formação. E isso em parte, segundo ela, por culpa das próprias instituições de ensino superior. Assim, diz ela, grande parte dos professores não tem consciência do seu papel de comunicadores e passam a falar para si em vez de para o outro. “As palavras transmitem a informação, mas é a voz que transmite a emoção. E é a voz que vai dar o significado”, completa.