Professoras de licenciaturas premiadas pela Fundação Carlos Chagas falam sobre as propostas que têm desenvolvido em sala de aula
Publicado em 13/12/2012
A qualidade das práticas em sala de aula tem aumentado em todo o Brasil. Pelo menos é o que indica o Prêmio Professor Rubens Murillo Marques, promovido pela Fundação Carlos Chagas (FCC). Com o objetivo de valorizar professores de licenciaturas, o prêmio chega à sua segunda edição com uma surpresa: o nível dos projetos desenvolvidos nas salas de formação docente foi tão alto, que a comissão julgadora ampliou de três para quatro o número de professoras vencedoras. “O número de inscrições triplicou e recebemos trabalhos muito bons. As propostas foram feitas de modo mais completo, com boas justificativas e detalhamento. Ficamos felizes de ver que o prêmio está se consolidando e ajudando na valorização do formador docente”, ressalta a professora Bernadete Gatti, idealizadora do prêmio e pesquisadora da FCC.
A professora explica que a avaliação do trabalho é realizada em diferentes etapas. Primeiro a comissão institucional analisa a pertinência do projeto em relação ao prêmio. É ela também que julga se a iniciativa é inovadora e apresenta uma proposta que contribua à didática. Depois disso, especialistas em diferentes áreas do conhecimento avaliam os projetos referentes ao seu campo. Esse consultor emite um segundo parecer e os trabalhos voltam à comissão institucional que dá o resultado final.
As professoras vencedoras receberam um prêmio de R$ 30 mil, diploma, troféu e publicação do projeto premiado na coleção Textos FCC e no site da fundação.
Conheça os projetos vencedores.
UFAL, Alagoas: tecnologia em auxílio do estágio
Metodista, São Paulo: atividades lúdicas na educação
UFGD, Mato Grosso do Sul: ética para a formação docente
Da universidade para a escola |
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Uma das maiores dificuldades no início da carreira docente é relacionar toda a teoria vista na universidade com o cotidiano da sala de aula. Como mostrou a reportagem “Bem vindo à realidade” , na edição de outubro da revista Educação, uma formação inicial que prepare para a prática escolar é fundamental para que o impacto do “divórcio” entre a faculdade e a vida profissional seja atenuado e essa transição seja feita de maneira mais consciente. Propiciar uma maior integração entre escola e universidade foi o que motivou a professora Ana Lúcia Manrique, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a desenvolver o trabalho “Iniciação à Docência: reflexões sobre a formação inicial de professores”. O projeto, realizado com alunos das licenciaturas em matemática e física, se baseou numa intervenção realizada em uma escola municipal de São Paulo e está inserido no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Durante um ano letivo os alunos participantes tiveram a oportunidade de vivenciar o dia a dia de uma escola pela perspectiva do professor. “Muitos dos alunos nunca tiveram contato com uma escola pública e os que já conheciam tinham apenas a visão da escola como alunos”, conta Ana Lúcia Manrique. Por isso, a primeira atividade realizada envolveu a descrição e análise da realidade escolar, por meio de levantamento de dados de avaliações externas e da observação de características socioeconômicas e culturais dos alunos, do corpo docente e da região da escola. A partir dessa análise, os licenciandos elaboraram um projeto de intervenção que procurou sanar alguns problemas identificados principalmente no ensino de matemática para o 6° ano do ensino fundamental. O passo seguinte foi a elaboração e aplicação de um teste diagnóstico que contemplasse os conceitos matemáticos determinados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental (PCN). A partir dos resultados, os alunos das licenciaturas apresentaram um gráfico do desempenho dos alunos em função dos acertos das questões e do período em que a turma estudava e realizaram uma análise qualitativa das quatro questões que apresentaram maior índice de erro. Com os resultados em mãos, os alunos puderam desenvolver sequências didáticas e planos de aula para serem trabalhados com quatro turmas de 6° ano. Uma nova avaliação foi aplicada, visando contemplar os conteúdos específicos abordados na sequência didática. Ao final do projeto, os alunos entregaram uma análise geral da intervenção apontando ações que devem ser tomadas em relação a cada uma das turmas e sugerindo atividades que podem melhorar o desempenho dos alunos, como a montagem de uma feira de ciências exatas e a criação de um laboratório de matemática. Para Ana Lúcia, o projeto foi inovador e trouxe oportunidades de aprendizado tanto para os alunos das licenciaturas, como para a escola. “Para o sistema de ensino, a avaliação que eles criaram foi inovadora e pode continuar a ser aplicada. Já para os alunos, o projeto foi inovador porque mesmo nos estágios eles não fazem intervenções”, aponta. “O interessante é que esses alunos agora querem ser professores. Eles puderam perceber que existem possibilidades na docência”, acrescenta a professora. |