NOTÍCIA

Formação docente

Autor

Redação revista Educação

Publicado em 24/04/2025

Psicopedagogia e educação bilíngue: trilhando caminhos inclusivos

Em programas bilíngues, intervenções psicopedagógicas realizadas em encontros de formação continuada têm impacto positivo na aprendizagem das crianças com Necessidades Educativas Especiais

Por Tatiani Basso* | A crescente demanda por práticas pedagógicas inclusivas em contextos de educação bilíngue suscita reflexões acerca da formação docente e das estratégias necessárias para atender à diversidade presente nas salas de aula. Este artigo, derivado de uma pesquisa-ação participativa (baseado na minha pesquisa de pós-graduação em psicopedagogia institucional), investiga a efetividade de intervenções psicopedagógicas na formação continuada de professores de inglês, visando a inclusão de estudantes com Necessidades Educativas Especiais (NEE) em programas bilíngues.

A pesquisa, de cunho qualitativo com tratamento quantitativo, acompanhou professores de escolas privadas nos estados do Rio de Janeiro e Bahia, abrangendo turmas da educação infantil e ensino fundamental 1. O estudo buscou compreender como a atuação psicopedagógica pode contribuir para a ressignificação das práticas docentes, promovendo um ambiente de aprendizagem mais equitativo e responsivo às singularidades de cada estudante.

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A complexidade do cenário educacional contemporâneo, marcado pela inclusão de alunos com NEE em turmas regulares, impõe desafios aos professores, especialmente no contexto bilíngue, onde a língua inglesa figura como meio de instrução e interação. A pesquisa revelou que a formação inicial em Letras, sem aprofundamento em educação especial e inclusão escolar, frequentemente deixa os docentes desprovidos das ferramentas necessárias para lidar com as especificidades das crianças com NEE.

Essa lacuna, por sua vez, gera insegurança e pode comprometer a qualidade do processo de ensino e aprendizagem. Conforme Antunes (2013), a inclusão não deve ser encarada como uma imposição, mas como uma oportunidade para o desenvolvimento de uma visão mais abrangente sobre o ser humano e a convivência com as diferenças.

Diferentes abordagens

Nesse sentido, a intervenção psicopedagógica propôs um percurso formativo centrado na escuta ativa das dificuldades e anseios dos professores, no compartilhamento de saberes e na construção coletiva de novas práticas pedagógicas. Os encontros de formação continuada abordaram temas como a criação de um ambiente de imersão linguística, estratégias para dar instruções eficazes, desenvolvimento de habilidades orais, neurociência da aprendizagem e a abordagem CLIL (Content and Language Integrated Learning).

Além disso, foram utilizados recursos como vídeos de boas práticas inclusivas e discussões em grupos focais, visando a reflexão sobre a práxis docente e a adaptação das atividades pedagógicas. A metodologia empregada buscou, assim, embasar os docentes, fornecendo-lhes o suporte teórico e prático para a construção de uma pedagogia inclusiva nas aulas do programa bilíngue.

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A análise dos dados coletados, por meio de observações em sala de aula, questionários e grupos focais, evidenciou a importância do apoio mútuo na formação continuada. Os professores relataram maior segurança e criatividade na adaptação das atividades, utilizando recursos como materiais concretos, linguagem visual e ludicidade para tornar o conteúdo mais acessível a todos os aprendizes.

A ênfase na individualização do ensino, considerando os ritmos e estilos de aprendizagem de cada estudante, alinha-se aos princípios da Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), que preconiza a adaptação do ensino às necessidades da criança, e não o contrário. A formação continuada contribuiu para a ressignificação da prática docente, promovendo a transição de uma abordagem centrada no professor para uma pedagogia centrada no aluno, conforme defendido por Assis (2018).

Os resultados da pesquisa demonstram que as intervenções psicopedagógicas realizadas nos encontros de formação continuada tiveram impacto positivo na aprendizagem das crianças com NEE. Os professores observaram maior participação, engajamento e interação desses alunos e alunas nas aulas, bem como o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como comunicação, autonomia e autoestima.

Atuar em parceria

A colaboração entre os professores e a troca de experiências em grupos focais também se mostraram fundamentais para o sucesso das práticas inclusivas. Conforme Pacheco (2007), a colaboração entre os profissionais da escola é crucial para o atendimento às necessidades dos alunos com NEE.

A pesquisa corrobora a hipótese de que uma educação inclusiva eficaz se baseia na individualização do ensino e no respeito às diferenças, considerando as necessidades específicas de cada aluno.

A experiência relatada neste estudo reforça a necessidade de uma abordagem mais holística e colaborativa na formação de professores, com foco no desenvolvimento de competências específicas para atender à diversidade presente nas salas de aula. Assim, contribui para a reflexão sobre a importância da articulação entre a teoria e a prática, promovendo a transformação do professor em um agente ativo na construção de uma escola mais justa e equitativa para todos.

Formação docente, ainda um desafio

As implicações da pesquisa, contudo, estendem-se para além do âmbito da sala de aula. Os resultados obtidos podem subsidiar a elaboração de políticas públicas voltadas para a formação inicial e continuada de professores, bem como para a implementação de práticas inclusivas em geral.

A necessidade de investir na formação docente, proporcionando aos professores o suporte necessário para atender às demandas da educação inclusiva, constitui um desafio para os sistemas de ensino. A pesquisa-ação participativa, como metodologia de investigação, demonstrou seu potencial para promover a reflexão crítica sobre a práxis docente e para a construção coletiva de saberes. Conforme  Penteado  (2010),  a  formação  do  professor  deve  visar   desenvolvimento de uma ‘atitude e conduta investigativa’, essencial para a construção de uma cultura docente inclusiva.

A formação continuada, mediada pela psicopedagogia, não se limita à transmissão de conhecimentos técnicos, mas busca promover a ressignificação da prática docente, estimulando a reflexão sobre os próprios valores, crenças e concepções de educação.

psicopedagogia

A análise dos dados coletados, por meio de observações em sala de aula, questionários e grupos focais, evidenciou a importância do apoio mútuo na formação continuada (Foto: Shutterstock)

Prática cotidiana

A escuta ativa, o diálogo e a troca de experiências entre os professores criam um espaço de aprendizagem mútua, em que os desafios e as potencialidades da inclusão são compartilhados. Desta forma, evidencia-se a importância de se valorizar o saber docente e de se criar espaços de formação que sejam relevantes para a prática cotidiana da equipe docente.

Por fim, este estudo reforça o compromisso com a construção de uma escola mais justa, democrática e inclusiva, em que todos os estudantes tenham as mesmas oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento.

A aliança entre a psicopedagogia e a formação continuada apresenta-se como um caminho promissor para a promoção da inclusão na escola, contribuindo para a formação de professores mais preparados e comprometidos com a construção de uma sociedade mais equitativa. A continuidade das pesquisas nessa área é fundamental para o aprimoramento das práticas pedagógicas e para a consolidação da cultura inclusiva nas escolas.

Referências

ANTUNES, Celso. Professores ou Professorauros? : qualidade e progresso ou estagnação e retrocesso: em breve palavras. Rio de Janeiro: Rovelle, 2013.

ASSIS, Sheldon. Educação para o Século XXI: desafios e oportunidades para uma transformação pedagógica. Rio de Janeiro: Albatroz, 2018.

PACHECO, José. Caminhos para a Inclusão: um guia para o aprimoramento da equipe escolar. Porto Alegre: Artmed, 2007.

PENTEADO, H., GARRIDO, E. Pesquisa-ensino: a comunicação escolar na formação do professor. São Paulo: Paulinas, 2010.

UNESCO. Declaração de Salamanca e Enquadramento da Acção na Área das Necessidades Educativas Especiais. Salamanca, Espanha, 1994. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em: 22 abr. 2025.

*Tatiana Basso é pedagoga, especialista em psicopedagogia institucional; Especialista em educação especial e inclusiva. Tem experiência com coordenação de programas bilíngues e promoção da compreensão intercultural

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