ARTIGO

Olhar pedagógico

Promovendo a inclusão: terminologias e práticas na educação para todos

Entenda os pilares para a construção de um ambiente escolar inclusivo e conheça um exemplo prático para a sala de aula que estimula o olfato

Publicado em 22/10/2024

por Redação revista Educação

Por André Barbeiro* e William Ulisses**: A inclusão escolar vai além de modificar currículos ou recursos para atender a necessidades específicas; trata-se de garantir que todos os alunos, independentemente de suas condições, tenham acesso equitativo a oportunidades de aprendizado significativas. O respeito e a valorização da diversidade é o valor pelo qual reconhecemos a importância de cada pessoa e a reconhecemos como um ser único e irrepetível. 

A valorização da diversidade supõe o respeito pelos direitos fundamentais, decorrentes da dignidade intrínseca da pessoa. Tratar, portanto, todos os estudantes como um ‘outro eu’ é peça chave na consolidação de uma escola verdadeiramente inclusiva. 

Nesse sentido, instituída em 2015, a Lei Brasileira da Inclusão (LBI) tem como objetivo assegurar e promover, em condições de igualdade e equidade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais das pessoas com deficiência, visando sua inclusão e cidadania. 

Entretanto, nenhuma legislação será capaz, por si mesma, de fazer desaparecer os temores, os preconceitos, as atitudes de orgulho e egoísmo que são obstáculos ao estabelecimento de sociedades verdadeiramente fraternas, justas e solidárias. Tais atitudes só desaparecem com a prática do bem, que vê em cada ser humano um próximo, um irmão.

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Mas, ao desejarmos construir um ambiente escolar verdadeiramente inclusivo, quais são os pilares fundamentais para que isso ocorra, de fato, e se realize no dia a dia escolar?

1) O respeito pela diversidade: cada estudante é único, com suas próprias habilidades e desafios. Respeitar essa diversidade é fundamental para o sucesso da educação inclusiva;

2) A acessibilidade: garantir que o conteúdo e os recursos didáticos sejam acessíveis a todos os estudantes, independentemente de suas necessidades, é uma prioridade;

3) A adequação: a educação inclusiva envolve a customização do conteúdo, das estratégias de ensino e das avaliações para atender às necessidades específicas dos estudantes;

4) A colaboração: a colaboração entre professores, pais, profissionais de apoio e terapeutas é fundamental para criar um ambiente de aprendizado inclusivo;

5) A promoção da autoconfiança: a educação inclusiva visa não apenas ao desenvolvimento de habilidades, mas também à promoção da autoconfiança e do interesse dos estudantes.

 

Verdadeira inclusão escolar ocorre quando proporcionamos a todos os alunos a oportunidade de aprender usando todas as ferramentas e sentidos disponíveis (Foto: Shutterstock)

Verdadeira inclusão escolar ocorre quando proporcionamos a todos os alunos a oportunidade de aprender usando todas as ferramentas e sentidos disponíveis (Foto: Shutterstock)

Um exemplo prático de atividade inclusiva em sala de aula

Ao tratar do aprendizado de forma acessível, é essencial adotar abordagens pedagógicas que integrem experiências sensoriais e cognitivas diversas, promovendo, assim, um aprendizado mais completo e inclusivo. Um exemplo dessa filosofia está presente na atividade Olfato matemático: descobrindo números pelos aromas, descrita a seguir, destinada a alunos cegos e que pode, facilmente, ser repensada para outras áreas do conhecimento.

Nesta atividade, o objetivo não é apenas ensinar conceitos matemáticos, mas proporcionar uma experiência agradável e acessível, que explora um dos sentidos mais poderosos do ser humano: o olfato. Em nossa vida cotidiana, usamos os sentidos de maneira integrada para relembrar experiências, associar momentos e realizar tarefas. 

Quem nunca lembrou de uma situação específica ao ouvir uma música ou ao sentir um aroma familiar? A integração dos sentidos em atividades educacionais torna o aprendizado mais dinâmico e cria conexões profundas entre o conteúdo e a vivência pessoal do estudante.

A atividade Olfato matemático exemplifica essa prática ao utilizar diferentes aromas para ensinar conceitos matemáticos como adição, subtração e multiplicação. Para tanto, são utilizados recipientes herméticos com diferentes essências — por exemplo, café, baunilha e lavanda — e fichas em braile com as palavras correspondentes a cada operação matemática. 

Ao associar o aroma de café à adição, o de baunilha à subtração e o de lavanda à multiplicação, o aluno cego é convidado a explorar o mundo dos números por meio de um caminho sensorial que enriquece sua compreensão dos conceitos abstratos.

Essa abordagem acessível vai além da simples transmissão de conhecimento; ela estimula o desenvolvimento integral do aluno ao conectar sentidos e abstrações. A experiência olfativa, combinada com o uso do braile, permite que o aluno não apenas memorize os conceitos, mas também crie associações que vão além do mundo puramente visual. 

Nesse processo, ele é incentivado a refletir sobre suas percepções sensoriais e a relacioná-las aos conceitos matemáticos, o que potencializa seu aprendizado.

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Novas formas de aprendizagem

A verdadeira inclusão ocorre quando proporcionamos a todos os alunos a oportunidade de aprender usando todas as ferramentas e sentidos disponíveis. Ao introduzir o olfato em uma atividade matemática para alunos cegos, estamos não apenas oferecendo uma oportunidade de aprendizado, mas promovendo a exploração de habilidades e competências muitas vezes negligenciadas. 

O aluno não é passivamente ajustado a um ambiente de ensino que já existe; em vez disso, ele interage com o ambiente de maneira ativa e significativa, utilizando todas as suas capacidades para compreender e aplicar conceitos matemáticos.

A implementação de atividades acessíveis como essa é uma demonstração de que a educação inclusiva é possível, viável e necessária. Ao explorar diferentes formas de aprendizagem, utilizando todos os sentidos, proporcionamos aos alunos cegos uma oportunidade real de se engajarem com a matemática de maneira significativa, acessível e transformadora. 

Esta abordagem é, acima de tudo, um compromisso com a inclusão, garantindo que todos os alunos, independentemente de suas condições, possam aprender e crescer em um ambiente que valoriza suas capacidades e potencial.

*André Barbeiro é professor e coordenador no Colégio Visconde de Porto Seguro, SP, doutor em matemática pela USP e pós–doutor em educação pela PUC–SP.

**William Ulisses é professor no Colégio Visconde de Porto Seguro, SP, e mestrando em educação especial pela Unesp.

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Redação revista Educação


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