NOTÍCIA
Em diálogo com outros pesquisadores, Esther Duflo defende que educação infantil de qualidade deve ser meta de políticos, famílias e escolas
A qualidade da educação infantil traz impactos na taxa de escolaridade, socialização, desenvolvimento e empregabilidade dos futuros adolescentes e adultos. É o que argumenta a francesa-estadunidense Esther Duflo, vencedora do Prêmio Nobel de Economia em 2019 e cofundadora do centro de pesquisas do Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab (J-Pal).
Esther que é professora no Departamento de Economia do Massachusetts Institut of Technology (MIT), nos EUA, participou virtualmente da palestra Intervenções de alto impacto na educação infantil, durante o 1° Simpósio Internacional de Educação Infantil da Fundação Bracell, que aconteceu nesta quinta-feira, 27, no Insper, em São Paulo. O evento contou com o apoio do J-PAL, Insper e Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto, e a cooperação da Unesco.
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De acordo com suas pesquisas feitas ao redor do mundo — às quais dialogam com estudos de outros pesquisadores, inclusive brasileiros —, Esther aponta que os primeiros anos de vida das crianças possuem impactos durante a sua vida toda. Nos Estados Unidos, por exemplo, o acesso à educação infantil diminui dados de crime e impacta positivamente na socialização.
Esther Duflo foi a pessoa mais jovem a ganhar um Nobel, na época com 46 anos, e a segunda mulher a ser premiada. Para ela, o trabalho feito na educação infantil só gera impactos positivos no futuro se ele é desenvolvido não só dentro da escola, mas também nas casas, nos relacionamentos das crianças com os adultos. “Esse trabalho precisa ser feito em vários níveis de educação”, aponta Duflo.
A solução sustentável para o problema existente na educação deve ser feita em parceria com as famílias, políticos e professores, de acordo com Ester Duflo (Foto: revista Educação)
Com mediação de Cristine Pinto, professora titular do Insper, o painel com Esther contou com a participação presencial de Alexsandro dos Santos, diretor de políticas e diretrizes da educação integral básica do Ministério da Educação (MEC).
Alexsandro dos Santos alerta que hoje é comum ter pesquisas sobre educação olhando para a frente, porém, há impactos na vida de um bebê no agora. “O tempo da criança é hoje, amanhã é muito tarde”. Ele completa: “Não basta termos creches e pré-escolas, isso é fundamental, mas se a gente não tiver outras garantias que fazem parte do desenvolvimento da criança e dos bebês, o impacto será menor”.
Outro ponto alertado por Alexsandro dos Santos é o de que, por mais que o atendimento à creche esteja estabelecido, esse pode estar modelado para algumas crianças, mas não todas, como as surdas, indígenas e imigrantes, que necessitam de outro tipo de linguagem e acolhimento.
“Se a criança não chegou à creche, quais outros serviços estão sendo negados e quais outros direitos estão sendo violados?”, questiona Alexsandro.
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De acordo com o representante do MEC, é preciso fazer mais pesquisas com crianças e bebês, e avaliar o serviço que está sendo ofertado na educação infantil, fazer isso pode trazer recomendações para dilemas da educação pública.
O problema da educação infantil é tratado, mas ele não é solucionável. Toda vez que superamos desafios e evoluirmos, surgirão outros problemas, aponta Alexsandro.
“Se a criança não está nem na creche, quais outros serviços estão sendo negados e quais outros direitos estão sendo violados?”, questiona Alexsandro (Foto: revista Educação)
Como ampliar recursos à disposição da educação infantil? Como a gente avalia a qualidade do gasto feito pelas redes de ensino? Onde é mais importante alocar esses recursos?, são questionamentos trazidos pelo diretor do MEC.
Sobre o impacto do racismo estrutural na formação dos bebês e crianças, Alexsandro dos Santos adianta que o MEC está fazendo um mapeamento para construir políticas e interagindo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para que o elemento raça seja considerado nas avaliações.
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