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Políticas Públicas

Dos jovens fora da escola, sete em cada 10 são negros

A maioria é oriunda de famílias com renda per capita de até um salário mínimo. Necessidade de trabalhar e cuidar dos filhos estão entre os motivos que fazem com que as juventudes não concluam a educação básica, alerta pesquisa

Publicado em 11/03/2024

por Redação revista Educação

escola Ponto positivo é que 73% dos jovens pretendem concluir a educação básica, revela a pesquisa 'Jovens fora da escola' (Foto: Shutterstock)

O direito à educação básica obrigatória segue sendo violado no Brasil. Mais de 9 milhões de jovens (pessoas de 15 anos a 29 anos) não concluíram a educação básica. O problema social, racial e estrutural do país se escancara ainda mais com a pesquisa Juventudes fora da escola, que ouviu 1,6 mil jovens e desse total, sete em cada 10 são negros.

Desenvolvida pelo Itaú Educação e Educação em parceria com a Fundação Roberto Marinho e o Instituto Datafolha, e lançada nesta segunda-feira, 11, durante uma coletiva de imprensa, a pesquisa apresenta que dos jovens que não concluíram o ensino médio, 32% não voltariam a estudar pela necessidade de trabalhar e 17% porque têm que cuidar da família. Contudo, os dados também revelam que 91% das jovens mulheres com filhos querem retomar os estudos.

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Dos 1,6 mil jovens participantes, 73% pretendem concluir a educação básica, 28% possuem o ensino fundamental incompleto, 16% possuem o fundamental completo e 29% têm o ensino médio incompleto.

Dos entrevistados, 92% alegam que a conclusão da educação básica ajudaria na melhoria das oportunidades de trabalho. A perspectiva da melhora da condição profissional objetivando um emprego melhor é a razão que leva 37% dos entrevistados a quererem finalizar o ensino médio. 15% dos jovens objetivam arrumar um emprego e 28% desejam cursar uma faculdade.

Políticas intersetoriais, urgente

O objetivo da pesquisa é apresentar dados que auxiliem nas tomadas de decisões dos formuladores de políticas públicas. Para as entidades organizadoras da pesquisa, é preciso ações intersetoriais e que respeitam a realidade local. Uma política de escola em tempo integral pode servir para uma determinada cidade, mas não para a outra, por exemplo.

Para Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, é necessário compreender a realidade dos jovens que estão fora da escola:

“Esses jovens precisam trabalhar, eles são mais velhos, eles têm filhos. É um desenho dessa juventude, e a gente precisa reagir a isso. Então, as políticas públicas precisam ser ajustadas”, destaca Ana Inoue.

A superintendente completa defendendo que as escolas precisam estar em diálogo com o mundo trabalho e que esse é um pedido das juventudes. “Eu seu desenho, a política educacional tem que considerar que o jovem trabalha e o mundo do trabalho precisa considerar que o jovem estuda”, orienta Ana Inoue.

 

jovens que não concluíram os estudos

“Não conseguiremos quebrar o ciclo de pobreza e desigualdade do nosso país se mantermos os jovens fora da escola”, adverte Rosalina Soares (Foto: arquivo pessoal)

 

Rosalina Soares, gerente de pesquisa e avaliação da Fundação Roberto Marinho complementa fazendo um alerta para outra pesquisa da Fundação Roberto Marinho, essa em parceria com o Insper, e que prevê que 500 mil jovens irão chegar à vida adulta sem completar o ensino médio: “O desafio é grande, mas não é impossível de resolver. A gente precisa criar políticas urgentes antes que esse jovem vire um adulto e esteja na estatística em que quase 50% de adultos no Brasil não concluíram o ensino médio”, desabafa Rosalina.

Jovens fora da escola, principais necessidades 

A pesquisa revela que, em média, a maioria dos jovens interrompeu os seus estudos há seis anos. Para voltar a estudar, 35% dos jovens procuraram o EJA (Educação de Jovens Adultos) como uma opção para a finalização dos estudos. Já 7% fizeram o Encceja (Exame Nacional para a Certificação de Competências de Jovens e Adultos).

Como motivação para voltar para a escola, 41% dos entrevistados acreditam que seria necessário ter um horário para estudar e para trabalhar. 35% dos jovens apontam que o auxílio mensal é necessário para a conclusão dos estudos e 32% sugerem que uma creche poderia ser uma solução para deixar os filhos enquanto estudam.

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Sobre as modalidades de estudo, 51% dos entrevistados voltariam a estudar se as aulas fossem totalmente presenciais. Em relação ao período das aulas, 62% dos jovens retornariam à escola se fosse no período noturno. Já 34% dos entrevistados afirmam que no local onde moram não têm escolas com vagas disponíveis em horários compatíveis com sua disponibilidade.

Para um melhor rendimento e motivação nas aulas, os jovens pedem para que dentro das aulas possam utilizar computadores e outros recursos tecnológicos (45%), tenham aulas práticas com oficinas e laboratórios (44%) e possam usar livros didáticos na escola e em casa (33%).

Em relação ao bem-estar dentro e fora da escola, 52% dos ouvintes sinalizam a importância de ter professores que ajudem a superar as dificuldades, 36% destacam a necessidade de estar em uma escola com bom relacionamento entre professores e alunos, já 36% afirmam que o apoio da família é essencial para a conclusão dos estudos.

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