O Brasil tem uma população mais jovem do que idosa, sendo assim, hoje, o momento é de investir nessa maioria para que o país cresça no futuro. Nisso, políticas públicas para a juventude voltadas para a formação e impulsionamento da criatividade são fundamentais, como estudo e qualificação para o mercado de trabalho.
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“Ainda temos uma vantagem de contar com a inteligência desses jovens que serão formados e que serão os futuros donos do Brasil, eles que ocuparão nossos cargos. Essa transição não poderá ser pensada a partir apenas da educação. Tem que ser sistêmica. Também não podemos esquecer que 88,8% dos jovens estão na escola pública”, apontou Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho (IET).
Educação como estratégia na transição demográfica
Ana Inoue trouxe mais dados — vale lembrar que o IET tem pesquisas sobre o tema e outros voltados à juventude —, em 2012 o Brasil era composto por 49,9% de jovens e 11,3% de idosos, já em 2022 caiu para 43,3% e idosos chegou em 15,1%.
Ana finalizou falando do que o país deixou de fazer: “temos alunos jovens e adultos fora da escola e que têm a vida pela frente. Eles precisam ser reinseridos”.
A superintendente esteve hoje, 4, em SP, no seminário Educação na era das transições, organizado pelo Instituto Unibanco, junto a três especialistas que falaram no painel Transição demográfica: bônus educacional?. Confira as considerações dos outros participantes.
Dos bebês à população acima de 89 anos
Nesse cenário, ações na educação para o presente e futuro são fundamentais, entre elas, que as creches funcionem no contraturno e também nas férias, principalmente por conta das famílias pobres; que os jovens possam ter educação em tempo integral e ensino médio técnico; idosos saudáveis carecem de capacitação continuada; já para a população de 89 anos em diante, valorizar os cuidadores por meio da formação. Além disso, escolas de medicina devem incluir geriatria e gerontologia, visando reduzir preconceito sobre o envelhecimento. Todos esses posicionamentos foram colocados por Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e PhD em estudos populacionais.
Ana Amélia completou orientando para um novo contrato social, segundo Edgar Morin, que considere as especificidades da população vulnerável (idosos, negros, moradores de comunidades).

Foto: divulgação/ Instituto Unibanco
Famílias com menos filhos
Há décadas as famílias estão tendo menos filhos no Brasil e mundo. “É ingênuo achar que voltar a crescer a população será a solução. A queda de fecundidade também tem benefícios, como investimento na educação entre as famílias: escolarização do bebê passa a ser planejada”, defendeu o professor Eduardo Rios, presidente do IBGE (2021-2022).
Também participou do painel Michael França, coordenador do Núcleo de Estudos Raciais do Insper e doutor em teoria econômica. Michael destacou que o Brasil precisa dar acesso a direitos reprodutivos para sua camada mais pobre, uma vez que enquanto as mulheres ricas têm filhos mais tarde e/ou menos filhos, com as mais pobres ocorre o inverso.
Já sobre as mulheres mais escolarizadas, entre os pontos principais está o dilema de escolher entre maternidade e carreira, impactando, inclusive, a saúde mental. “Pensar a educação ao longo do tempo é pensar também em políticas para as mulheres mais escolarizadas”, alertou Michael França.
A pobreza também pode ser entendida como um processo de exclusão. Nesse sentido, o progresso tecnológico focado na automação não pode impulsionar ainda mais esse atual cenário desastroso — entre 45% e 60% da mão de obra poderão ser automatizadas no futuro, segundo a pesquisa de 2022 Desemprego high-tech.
“A rápida automação pede que repensemos o nosso sistema educacional para o indivíduo ter habilidade de se reciclar”, disse o coordenador do Insper. Sobre aprendizagem na educação básica, diferentes indicadores oficias do país constatam diferenças entre estudantes negros e negras. “Estamos falhando nas políticas públicas de inclusão. Precisamos repensá-las.”