NOTÍCIA

Evento Socioemocional na Escola

Paulo Fochi: Observatório da Cultura Infantil que investiga e inova

Do desejo de ajudar a mudar o mundo por meio da educação, o educador cria o Obeci, que completa 10 anos em 2023, sendo referência para redes de ensino. O foco está no compromisso de transformar e formar a gestão, coordenação e docência

Publicado em 06/09/2023

por Karen Cardial

Paulo Fochi_OBECI Educadoras que fazem parte do OBECI junto a Paulo Fochi Foto: arquivo pessoal

Ao término do mestrado, transformador em sua vida, Paulo Fochi tinha críticas à pouca efetividade da formação inicial docente. Ele já era professor de pedagogia e de aulas na especialização. No limiar de angústias e de desejos de impactar, somado ao anseio de transformar a sua produção acadêmica em algo além do que o tornaria mestre e doutor, em 2013, convidou escolas para fazerem parte do que chamou Observatório da Cultura Infantil, conhecido como OBECI.


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O OBECI não é um grupo de pesquisa universitário, nem mesmo um grupo de leitura ou de estudo. Tampouco trata-se de um curso ou de uma associação de pessoas envolvidas ao redor de um tema para falar de suas práticas. Ao criar o OBECI, Fochi não entendia ainda a natureza de sua criação. Foi na pesquisa de doutorado em educação sobre o Observatório, que ele entendeu que se tratava de uma comunidade de investigação, inovação e de apoio ao desenvolvimento profissional.

Trajetória para o coletivo

De uma vontade de ajudar a mudar o mundo por meio de seu conhecimento e sem universidades ou sistemas de financiamento, o OBECI é um projeto independente e que oferece tudo de forma gratuita. Além de sustentar o processo de transformação dentro de nove escolas, por meio da venda dos livros escritos pelos participantes do OBECI, hoje tem sido possível utilizar este recurso para a compra de materiais e investimentos dentro das investigações que acontecem dentro das escolas.

Paulo Fochi tem desenvolvido trabalhos em muitas instituições, incluindo universidade e redes de ensino. É considerado uma referência no campo da educação infantil. Além de ter atuado como um dos quatro consultores para a elaboração da Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil (BNCC), seu trabalho com a fundação e coordenação do OBECI já completa uma década.

No OBECI, de forma direta, as novas escolas participantes correspondem a aproximadamente 90 professores, 66 auxiliares e 1.100 crianças de zero a seis anos.

Conceitos do Observatório valorizados

Ao longo dos 10 anos que Fochi tem apoiado os processos de transformação nas escolas, o OBECI tem construído uma abordagem pedagógica para a educação infantil que está sendo referência para outras instituições além daquelas envolvidas com o Observatório. A rede municipal de Novo Hamburgo, RS, por exemplo, além de ter seis escolas participantes do Observatório, tem em seu caderno de orientação curricular para a educação infantil da rede conceitos e instrumentos baseados no OBECI.

“Outras redes também têm se apoiado e se sustentado pela nossa abordagem, como a rede municipal de Lajeado, no Rio Grande do Sul, de São José dos Pinhais, no Paraná, e outras que estudam e trabalham a partir dos conceitos do OBECI”, conta Paulo Fochi. 

Livros para expandir e eternizar

Ciente da importância de ampliar e expandir o trabalho desenvolvido para além das nove escolas, supervisionadas por Fochi, foram lançadas publicações escritas por professoras e coordenadoras, como O brincar heurístico na creche e Mini-histórias.

O novo livro, Vida cotidiana e microtransições na educação infantil, tem lançamento previsto para esse ano ainda. As publicações são escritas a partir das investigações desenvolvidas dentro das escolas que fazem parte do OBECI. A partir disso, as reflexões que são construídas e que sustentaram a transformação do cotidiano dessas instituições são sistematizadas e organizadas nas obras publicadas pelo Observatório.


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Escolas reais com problemas reais

Para que as discussões realizadas entre diretores, coordenadores, professores e assistentes das escolas do Observatório migrem para outros lugares, além das publicações, são feitas Jornadas de Educação Infantil bianuais. A última, por exemplo, que ocorreu online, contou com cerca de 36 mil professores. Todas as jornadas são gratuitas e abertas para que todos os interessados participem.

Nas jornadas, pela manhã, há discussão conceitual sobre um tema específico com convidados. Já no período da tarde, são compartilhados os fragmentos das experiências das escolas do OBECI. A proposta é sempre evidenciar os caminhos que as escolas tem feito para refletir e desenvolver a construção de uma prática pedagógica de qualidade.

“A ideia de mostrar os bastidores ajuda outras instituições a pensarem a sua cotidianidade. As questões são apresentadas pelos professores, diretores ou coordenadores, ou por quem esteja mais à frente daquela linha investigativa”, ressalta Paulo.

Gesto cívico

De olho novamente em quem não faz parte do OBECI, em 2020, Paulo Fochi criou a Residência Pedagógica, como uma oportunidade para outros profissionais e instituições acompanharem os processos formativos desenvolvido dentro do OBECI com as nove escolas participantes.

A ideia inicial da Residência Pedagógica seria presencial, com a experiência da pandemia, verificou-se a possibilidade destes residentes acompanharem de forma virtual, com isso, nesta terceira edição da Residência, participam 41 instituições por meio de 150 participantes (professores e coordenadores), de 34 cidades, 14 estados mais o Distrito Federal e, além das escolas brasileiras, uma instituição de Portugal.

“Espero que o OBECI sirva de inspiração para que se criem tantos outros observatórios e coletivos de pessoas que também compartilham da ideia de que para transformar a realidade temos que nos comprometer com quem faz essa realidade acontecer. Entender que o tempo para essa transformação ocorrer não é rápido e, por isso, envolve dedicação e esperança de que é possível transformar. Esse compromisso com a transformação e com a formação requer um exercício de temporalidade e suspensão nosso. O OBECI foi a forma que escolhi criar para ajudar a ‘adiar o fim do mundo’, tomando emprestado a expressão do Krenak. É o meu gesto cívico e que partilho com outras pessoas que também dividem deste sonho de vida”, finaliza Paulo Fochi.



*Paulo Fochi estará no evento Socioemocional na Escola, pelo painel Escola de educação infantil: lugar de encontros entre as crianças e os adultos. Promovido pela revista Educação, o evento acontece em 14 de setembro, na Fecap, São Paulo. Clique aqui para conferir a programação completa.



Escute nosso episódio de podcast:

Autor

Karen Cardial


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