NOTÍCIA
Educação e educadores: ser ou ser, eis a questão
“Não necessitamos de máquinas sem humanidade”, Charles Chaplin
A evolução do ser humano e das máquinas pode ocorrer de forma aritmética, linear ou exponencial, ser convergente ou não. Observando os últimos tempos, parece que estamos nos distanciando em relação ao avanço tecnológico.
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Antes de tudo, é importante observar que não há contradições entre o avanço das máquinas, das tecnologias e as questões humanas. A oferta e o acesso generalizado a computadores, sua utilização nas empresas, a popularização da internet, a disseminação dos processadores de texto (como o Word) e o Google foram alguns dos itens que adicionamos às nossas ‘cestas básicas’ de consumo diário. Tudo isso teve impactos significativos em nosso cotidiano e na nossa dinâmica social.
No entanto, chamo a atenção para o desequilíbrio entre as partes: tecnologia versus seres humanos. Do nosso lado, das transformações humanas, nós, seres humanos, deixamos de ser protagonistas das ações. Abdicamos da ação direta instigadora e nos tornamos coadjuvantes submetidos ao ritmo da evolução tecnológica.
Do ponto de vista macro, o imenso avanço tecnológico nas últimas décadas ocorreu em uma velocidade ainda mais evidente, o que evidencia o descompasso. Relembrado Charlie Chaplin, “Não sois máquina, homens é que sois”.
Então, se temos consciência, razão e emoção, o que está faltando para restabelecer o equilíbrio entre máquinas, tecnologias e seres humanos?
Hoje, imperativo é ir além. Transcender o ‘Ser’ no sentido substantivo, passivo, e incorporar o ‘Ser’ como um verbo de ação. Isso implica em modificar a rede neural de todo o ecossistema educacional, o que inclui escolas, instituições de ensino, estudantes, professores, educadores, comunidades, sociedades e diversos atores educacionais.
O que fará a diferença daqui para frente é o ser humano aprender quem ele é e como se percebe no tempo-espaço da educação. Para educar melhor, o desenvolvimento passa, invariavelmente, pela aprendizagem dos aspectos relacionados à humanização.
Devido à inegável relevância da educação nas sociedades globais, e sua atuação intrínseca à economia, ao social, ao emocional e nos aspectos tecnológicos e de ‘humanização do ser humano’, cabe à escola e às instituições de ensino aprimorar aspectos como autoconhecimento, empatia, desenvolvimento de competências socioemocionais, entre outros, para si e para os educandos.
É preciso insistir no que é essencial, ou seja, pensar e repensar o ‘Ser’ humano como sujeito da ação. Deixar de agir de maneira substantiva e passiva. Isso porque os educadores são e serão cada vez mais centrais em suas funções como mediadores da informação. Como disse Paulo Freire, “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.”
Talvez seja nesse processo contínuo de aprendizado, no gerúndio admissível de ‘aprendendo a ser’, que tenhamos vantagem sobre máquinas, tecnologias e inteligência artificial, que são meios que reúnem uma grande quantidade de informações (aliás, produzidas por seres humanos), mas ‘pecam’ em conectar conhecimentos complexos e separados.
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Dotados de inteligência, sentimentos e emoções, são os educadores os agentes capazes de agir, de SER e de promover (nos estudantes) alguns dos aspectos mais importantes para a educação do século 21: autoconsciência, autocontrole e empatia.
Certamente, o desenvolvimento do ser humano não exclui o uso das tecnologias. Ao contrário, envolve aprender a se relacionar de forma crítica e construtiva com elas.
No contexto educacional, as tecnologias são fundamentais para potencializar o processo de ensino e aprendizagem. Não precisamos descartá-las, impedir seu uso ou adiar sua aplicação, mas sim incorporá-las de maneira consciente e responsável, reconhecendo seu papel como ferramentas que podem ampliar as oportunidades educacionais e promover uma educação mais dinâmica e efetiva.
Preparar as novas gerações para o mundo da ciência, tecnologia e inovação traz benefícios, no mínimo, econômicos e sociais. Em todo o mundo, alguns países já aprenderam com isso e são referências nos exames internacionais que medem o nível de conhecimento dos estudantes.
Edgar Morin, um dos mais respeitados pensadores do nosso tempo, escritor e filósofo, descreve bem o atual momento da humanidade, apontando que “estamos adormecidos, apesar de estarmos despertos, pois diante da realidade tão complexa, mal percebemos o que se passa ao nosso redor”.
Para Morin, é preciso compreender não apenas os outros, mas também a si mesmo, é necessário se autoexaminar e analisar a autojustificação, pois o mundo está cada vez mais devastado pela incompreensão, que é o câncer das relações entre os seres humanos.
Se estamos distantes do protagonismo do ser humano e do seu desenvolvimento, em clara desvantagem em relação às ‘máquinas’, como vamos educar para o presente e o futuro?
*Adriana Martinelli é diretora de conteúdo da Bett Brasil, maior evento de inovação e tecnologia para a educação na América Latina