NOTÍCIA
Para mediar a relação dos jovens com as redes sociais, as famílias devem fazer parte do processo de aprendizagem
Publicado em 12/05/2023
Mediar o uso das redes sociais por parte dos alunos ainda é um desafio presente na educação. Como o gestor pode gerenciar essa interação? Que atividades ou ações a escola precisa praticar para tentar minimizar os danos causados pelo uso abusivo das redes? De que forma elas influenciam a aprendizagem do aluno? Esses pontos foram levantados durante o painel Redes sociais e escolas: gestão adequada de crises, ontem, 11, na Bett Brasil*, evento que ocorre entre os dias 9 e 12 de maio em SP.
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O dinamismo presente nas redes sociais faz com os alunos encontrem respostas em uma só ‘clicada’, o que dificulta a formação do cidadão curioso — característica que precisa voltar, acredita a educomunicadora Januária Cristina Alves, que participou do painel.
“É papel da escola começar a ensinar os alunos que é bom ficar com a pergunta [não buscar na internet], porque há muitas coisas que não têm resposta. E a gente seguir perguntando faz parte do nosso papel como cientista [que busca conhecimento]. Precisamos voltar a pesquisar na escola, abraçar o caminho, a criar hipóteses. Isso precisa ser recuperado urgentemente. Pesquisar não é digitar no Google. Investigar não é pegar a primeira resposta que aparece”, alertou Januária.
Januária é membra da Mil Alliance, aliança global para parcerias em alfabetização midiática e informacional da Unesco, o qual tem como co-chairman o Alexandre Sayad, que mediou o painel e é colunista na revista Educação.
Quem participou juntamente com Januária da conversa para debater a ligação entre as redes sociais e a escola foi a advogada, sócia e CEO da Opice Blum Academy, Alessandra Borelli.
As redes sociais já fazem parte do dia a dia do aluno, evitar o seu uso em sala de aula não parece ser mais uma saída, os jovens conversam e estão dependentes dessa mídia, que muitas vezes acaba provocando ações prejudiciais, e discussões, acredita Alessandra.
Ela citou um caso em que uma professora tirou o celular de um aluno em sala de aula, ação que posteriormente resultou em uma discussão entre os familiares por meio do WhatsApp. Atualmente é muito comum as famílias criarem grupos nesta rede social para se inteirar dos acontecimentos da escola. Os grupos por vezes contam com a participação do corpo docente.
“[Se tratando das redes sociais] não se pode divulgar informações confidenciais, atribuir culpa sem prova e deletar evidências. Se bater o desespero, o que deve ser feito é uma ata detalhada para preservar as evidências e responsabilizar aquelas pessoas que participaram da discussão”, orientou Alessandra sobre como prosseguir caso ocorra conflitos por conta das redes.
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As redes sociais também podem ser vistas com um retrato da pessoa, porque aquilo que ela publica, comenta e opina ficam naquele espaço e faz parte de sua identidade. Entender o que essa exposição pode provocar ao aluno faz parte da responsabilidade da escola, mas ela não é a única que deve se atentar e receber orientação. Os pais também fazem uso das redes e muitas vezes as ações que os educadores estão orientando o aluno a não cometer, os pais cometem. Então uma saída para que a educação midiática seja efetiva é trabalhar em parceria com as famílias e as comunidades, conforme aconselha Alessandra.
“A minha sugestão é fazer uma campanha solidária, com identidade visual, com uma hashtag que começa em janeiro e não tem fim. Pode ser uma campanha [com o slogan] ‘educa’, ‘somos todos digitais, porém responsáveis’, não importa, mas fazer alguma coisa que envolva [o aluno e a família]. Colocar esse tema de forma transversal em uma semana cultural, criar com os jovens uma dinâmica em que os maiores ensinam os menores, e por aí vai. Eu já participei de iniciativas como essas e elas são muito assertivas, porque as pessoas que furam esse sistema, os pais que extrapolam — ao ter um trabalho efetivo e contínuo dentro da escola —, mostram para as crianças que se sentem envergonhados de agir de tal forma”, contou Alessandra.
Januária, por sua vez, também ressaltou a importância de as escolas criarem um lugar de escuta e abertura de diálogo para os alunos. “Mais do que nunca os jovens e suas famílias precisam discutir sobre isso. Que histórias queremos contar? Quais são os valores que queremos passar? A gente fala muito, tem muito acesso a esse mar de rosas [que são as redes], mas, no fim ninguém é ouvido e necessariamente não falamos tudo que precisa ser falado”, enfatizou Januária.
*A Bett Brasil é o maior evento de educação e tecnologia na América Latina. Acontece de 9 a 12 de maio, no Transamerica Expo Center, São Paulo. E nós, da Educação, estamos fazendo uma cobertura especial. Clique aqui para ficar por dentro de tudo.
Nossa cobertura jornalística tem o apoio das seguintes empresas: Epson, FTD Educação, Santillana Educação, Skies Learning by Red Balloon e Somos Educação.