ARTIGO

Olhar pedagógico

Celebrar as diferenças entre as culturas é a chave para entender nossos alunos 

Por Alhassan Susso*: Minha jornada como imigrante de uma pequena cidade no menor país continental da África, Gâmbia, para a maior cidade dos Estados Unidos, Nova York, com suas diversas culturas, me deu uma perspectiva única. Sou um professor melhor por causa disso. Também me […]

Publicado em 23/03/2023

por The Hechinger Report

Por Alhassan Susso*: Minha jornada como imigrante de uma pequena cidade no menor país continental da África, Gâmbia, para a maior cidade dos Estados Unidos, Nova York, com suas diversas culturas, me deu uma perspectiva única. Sou um professor melhor por causa disso. Também me ajudou a perceber que as diferenças são importantes e, em vez de apenas tolerá-las, elas precisam ser celebradas. Como aluno da Poughkeepsie High School, no norte de Nova York, e depois como educador do ensino médio no Bronx, observei, tanto dentro quanto fora da sala de aula, que muitos de nós desenvolvemos vieses inconscientes. Eles influenciam e obscu­recem as lentes sociais por meio das quais vemos e experimentamos o mundo ao nosso redor. 

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Ensinar é tudo sobre relacionamentos. Como educadores, é crucial que aprendamos e entendamos as histórias de nossos alunos para construir relacionamentos significativos com eles. Aprender suas histórias nos dá uma visão sobre o que os influenciam. Mas, ao fazer isso, precisamos verificar nossos preconceitos inconscientes para que possamos desenvolver conexões mais profundas com os alunos. É assim que criamos salas de aula harmoniosas.

Como um novo imigrante no ensino médio, certa vez usei uma roupa gambiana para ir à escola: um kaftan branco bordado de três peças com calças combinando. Recebi muitos elogios de professores e alunos. No entanto, meu professor de história parecia incomodado por eu ter usado roupas africanas na escola. Ele deixou escapar na frente de toda a classe: “Se as pessoas querem usar seus vestidos engraçados, devem ficar em seu país. Esta é a América”.

Fiquei chocado. O que ele não sabia era que eu tinha acabado com minhas roupas “americanas” limpas. Ele não conhecia a minha história. Ele ignorava que eu só tinha um punhado de roupas. Foi uma situação desconfortável, mas com a qual nós dois aprendemos mais tarde.

Nos meses seguintes, ele começou a me conhecer; parou de considerar estereótipos e suposições. Desenvolvemos um forte relacionamento baseado na compreensão das origens e valores um do outro. Ele me ajudou durante o almoço com minhas tarefas de história e se interessou pelo papel da imigração na história estadunidense. Para nosso projeto final de aula, ele nos designou entrevistar imigrantes em nossa comunidade sobre suas experiências nos Estados Unidos. Compilamos as histórias em um livro, Poughkeepsie pride: the stories of our immigrants (Orgulho de Poughkeepsie: as histórias de nossos imigrantes, em tradução livre), e distribuí­mos cópias para a comunidade local.

diversidade cultural
Reserve um tempo para aprender a história de cada aluno. Quando você conhece a história de alguém, é difícil não gostar dela. Na foto, crianças de Gâmbia em frente a uma escola
Foto: Shutterstock

Essa experiência me deu a oportunidade de reconhecer minha miopia cultural. Tive que confrontar minhas próprias suposições sobre estudantes negros no centro da cidade, pessoas brancas em todos os lugares e minha própria cultura. Anos depois, como professor do primeiro ano, muitas das minhas lutas na sala de aula ainda envolviam percepções culturais errôneas.

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Leia: Escola acolhedora é a que está atenta às distintas realidades

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Por exemplo, a maioria dos meus alunos era da República Dominicana, cujos abraços e beijos na bochecha fazem parte do dia a dia. No entanto, na sala de aula, isso me incomodava por causa de meus próprios preconceitos. Para mim, essas demonstrações públicas de afeto eram inadequadas.

Claro, eu comuniquei esse preconceito verbalmente e de outras formas. Logo no início, estabeleci um tom de julgamento, essencialmente franzindo a testa para um comportamento natural e inocente comum à cultura de meus alunos dominicanos. Eu estava vendo por meio de lentes africanas. Uma lente muçulmana. Uma lente masculina. E não é de admirar que eu não pudesse alcançá-los e, portanto, ensiná-los.

Ao examinar meus preconceitos inconscientes, rapidamente entendi que a cultura de meus alunos poderia enriquecer e ser compatível com minhas crenças e compreensão do mundo. Foi quando pudemos nos relacionar uns com os outros e formar relacionamentos produtivos.

Minha interação com educadores de todo o país me provou que a maioria deles tem o desejo de construir laços fortes com seus alunos. Portanto, aqui está uma sugestão simples, porém profunda, para acelerar esse processo: reserve um tempo para aprender a história de cada aluno. Quando você conhece a história de alguém, é difícil não gostar dela.

Em minha sala de aula, peço aos alunos que escrevam uma carta para seus futuros ‘eus’ que eles teriam orgulho de compartilhar com a turma em junho. Esta carta inclui suas esperanças, sonhos e visão. Mas também contém suas preocupações, lutas e frustrações.

A leitura de cada carta no início do ano me informa sobre o que motiva cada aluno. Esta atividade me capacita a construir uma conexão forte e significativa com cada um deles. A partilha de histórias é tão humana e fundamental como a própria respiração. É como nos relacionamos uns com os outros em uma base pessoal. Tornamo-nos, assim, melhores indivíduos, melhores professores e melhores cidadãos. Apesar de nossas diferenças, as histórias são o que mantém intacto nosso vínculo de humanidade. E o processo começa na fundação.

Como Maya Angelou insiste: “É hora de os pais ensinarem aos jovens desde cedo que na diversidade há beleza e força”.

E nós, educadores, devemos reconhecer a beleza e a força em todos os alunos.

*Alhassan Susso ensina governo, economia e desenvolvimento pessoal na International Community High School, em Nova York. Ele recebeu a maior honra da Fundação NEA, o Prêmio de Benefícios de Membro da NEA por Excelência em Ensino, em 2020, e o prêmio de Professor do Ano do Estado de Nova York em 2019.

Esta história sobre ensino e diversidade cultural foi produzida pelo The Hechinger Report, uma organização de notícias independente sem fins lucrativos nos EUA focada na desigualdade e inovação na educação. 

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Autor

The Hechinger Report


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