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O ano era 2019 e o tradicional Colégio Marista Aparecida, em Bento Gonçalves, RS, à época prestes a completar 80 anos de história, se preparava para mais um passo em sua proposta educacional: a implementação de um sistema bilíngue em sua grade curricular. Começava ali […]
Publicado em 12/10/2022
O ano era 2019 e o tradicional Colégio Marista Aparecida, em Bento Gonçalves, RS, à época prestes a completar 80 anos de história, se preparava para mais um passo em sua proposta educacional: a implementação de um sistema bilíngue em sua grade curricular.
Começava ali o desafio do Vivências Bilíngues, projeto que nasceu do desejo da instituição de trazer mais fluidez para a aprendizagem da língua inglesa. “O objetivo era quebrar o padrão de ensino por meio da gramática e focar em uma metodologia mais vivencial e próxima da realidade dos estudantes”, explica a vice-diretora Adriane Bussolotto.
Confira, a seguir, as etapas do projeto, o planejamento para sua execução e a receptividade do corpo docente e dos estudantes.
De acordo com os estudos desenvolvidos pelo neurocientista francês Stanislas Dehaene, o cérebro da criança é extremamente receptivo à aprendizagem em geral e especialmente apto para o desenvolvimento de linguagens. Sendo assim, ele sugere que os alunos sejam expostos ao ensino das línguas adicionais o mais cedo possível.
“É a famosa plasticidade cerebral: ao submeter uma criança a uma imersão em um idioma adicional, estamos proporcionando uma extraordinária transformação em seu cérebro”, comenta a mestre em educação, especialista em neurociências e comportamento e cofundadora da Systemic Bilingual, Vanessa Tenório.
A implantação do Vivências Bilíngues teve início para as salas do 1º ano ao 8º ano do ensino fundamental. No entanto, obedeceu a uma estratégia em que a proposta foi inserida na forma curricular, naquele momento, ao 1º ano e 2º ano, sendo que do 3º ao 8º ano esteve como extracurricular.
No início deste ano, foi concluída a implementação no currículo de todos os anos do fundamental 1 – sendo que, do 6º ao 8º ano, o colégio segue com a oferta extracurricular.
Durante uma semana, professores e a coordenação pedagógica do Colégio Marista Aparecida receberam formação e materiais. “No decorrer do processo, tínhamos sempre a assessoria em pedagogia da empresa parceira responsável pelo sistema bilíngue, observando as aulas e fazendo os ajustes necessários”, detalha a vice-diretora.
A observação com feedbacks dessas dinâmicas é semanal. “Isso faz com que os processos sejam corrigidos no início e as assessoras, junto com a coordenação, organizem os treinamentos necessários durante o andamento”, diz.
Desde que o programa passou a fazer parte do dia a dia das aulas, a frase em inglês acima integra a rotina dos estudantes. “Além do uso de conteúdos e assuntos que sejam de conhecimento e interesse desse público, eles aplicam esse questionamento para perguntar algo que não saibam expressar em inglês”, relata a vice-diretora Adriane Bussolotto.
A gestora conta que esse recurso ajuda os alunos a criarem repertório e compreenderem o funcionamento da língua. “Sempre fazemos um paralelo com o nosso idioma: um estudante já sabe conjugar verbos mesmo antes de saber que existem conjugações, porque ele entende esse funcionamento”, acrescenta.
O Vivências Bilíngues foi desenvolvido com o propósito de ampliar e qualificar os diferenciais oferecidos pelo colégio e valorizar, ressalta, o investimento feito pelas famílias. “O projeto tem o intuito de formar estudantes mais proficientes nas línguas estrangeiras, conectados com os desafios e demandas do mundo atual e mais preparados para as oportunidades que surgirem no mercado”, conclui Adriane Bussolotto.
“Em 2002, quando começamos a disseminar a ideia de um sistema bilíngue para escolas regulares, tínhamos a clara percepção de que as pessoas não entendiam exatamente o que queríamos dizer”, recorda-se a também mestre em educação Fátima Tenório que, naquele momento, colocava em operação ao lado de sua irmã, Vanessa Tenório, a metodologia Systemic Bilingual.
A proposta é a de educar os alunos em inglês, como um todo, envolvendo-os em situações naturais dentro de sala de aula, tendo o idioma como mais um meio de comunicação para que diversos objetivos possam ser alcançados, desde a aprendizagem de assuntos específicos até a apreensão de competências socioemocionais.
“Os temas interdisciplinares trabalhados no programa estão, não apenas alinhados às habilidades da BNCC [Base Nacional Comum Curricular], mas tagueados em nível de micro-habilidades, um trabalho minucioso e especializado”, reforça Vanessa Tenório.
Todo o programa está sendo colocado em uma plataforma que classifica cada aula de acordo com as micro-habilidades que serão exercitadas. “Sabemos detalhadamente o que deve ser desenvolvido no estudante – isso é crucial para a intenção pedagógica e o processo avaliativo”, afirma.
Há 20 anos no cenário educacional, a metodologia está em mais de 100 escolas, alcançando 30 mil alunos de quase todos os estados brasileiros. “Estamos formando gerações de sujeitos bilíngues e isso, certamente, terá um impacto positivo na sociedade”, reforça a cofundadora, Fátima Tenório.
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